Não é exagero: quase semanalmente, deparamo-nos com manchetes sobre influenciadores digitais envolvidos em esquemas criminosos dos mais diversos tipos. Nesta semana, a Operação Narco Bet da Polícia Federal, que investiga tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, prendeu Bruno Alexssander Silva. Mais conhecido como Buzeira, ele tem mais de 15 milhões de seguidores somente no Instagram, onde promove sorteios e rifas, e também ostenta uma vida de luxo.
Já no início do mês, diversas influenciadoras desculparam-se por terem feito publicidade de uma empresa investigada por tráfico humano internacional. Em vídeos postados em seus perfis, elas promoveram uma “agência de intercâmbio” que buscava mulheres entre 18 e 22 anos para trabalharem na Rússia em troca de salários de centenas de dólares. As principais denúncias contra a empresa, denominada Alabuga Start, vieram da África.
Tudo isso apenas na primeira quinzena de outubro — exemplos para ilustrar a presença de influencers nas páginas policiais não faltam, o que é bastante revelador de como muita gente simplesmente acredita, sem questionar, naquilo que é exibido diariamente nas redes sociais.
A última pesquisa sobre a confiança em influenciadores da ONG estadunidense BBB National Programs traz dados paradoxais, que revelam um cenário complexo. Segundo o levantamento, mais de 80% dos profissionais de marketing usaram influencers em campanhas, movimentando US$ 24 bilhões nos Estados Unidos. No entanto, ao passo que 58% das pessoas confessam ter realizado compras seguindo a recomendação de influenciadores, somente 5% dizem confiar totalmente no conteúdo que essas pessoas produzem.
Qualquer pessoa pode se tornar uma influencer e, ao contrário da vida offline, quando a convivência presencial nos dá pistas sobre seu caráter e objetivos, nas mídias sociais é possível simular praticamente qualquer coisa, inclusive comprar seguidores. A própria definição do que é um influenciador digital às vezes soa pouco palpável, já que parece abranger uma infinidade de possíveis tipos de “criadores de conteúdo” — outro termo bastante vago, mas que aqueles que fazem trabalhos interessantes nas redes, informando e prestando serviços de utilidade pública, costumam preferir.
De acordo com o Projeto de Lei 3444/23, que regulamenta o trabalho de influenciador digital no país e tramita na Câmara dos Deputados, “considera-se influenciadora toda pessoa física ou jurídica que, a título oneroso, utiliza sua reputação para comunicar ao público, por meio eletrônico, conteúdo patrocinado ou promocional com o intuito de promover, direta ou indiretamente, produtos, marcas, serviços ou causas”.
Em outros termos, é quem lucra ao promover discursos ou mercadorias diversas nas redes sociais. A definição é precisa, mas é preciso lembrar que nem sempre essa intenção fica evidente nas postagens. E não somente pela falta de sinalização na legenda ou no perfil, com tags ou rótulos de “parceria paga”, mas justamente em publicações que não trazem um propósito comercial explícito.
Um exemplo vem dos influenciadores que “adotam” animais silvestres, como capivaras e jaguatiricas, e exibem a convivência com eles em vídeos que rendem um engajamento altíssimo. Todavia, a Lei de Crimes Ambientais proíbe a posse e exploração desses animais sem autorização. Ou seja: por mais “fofo” que possa parecer, explorar a fauna em troca de likes é simplesmente ilegal.
Apesar do Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária (Conar) ter um guia de publicidade para influencers e receber denúncias de condutas ilegais, é preciso que as plataformas digitais não permitam a monetização de perfis que usufruem de popularidade para aplicar golpes e disseminar inverdades. E também é necessário que a audiência tenha senso crítico para questionar influencers, especialmente aqueles cujo conteúdo parece inofensivo. Seja para nos informar, aprender ou divertir, é necessário sempre questionar o básico: por que eu sigo esse influenciador?
Fonte.:Folha de S.Paulo