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25 de junho de 2025

Crítica: Ocyá eleva nível de trabalho com pescados no Rio – 25/06/2025 – Restaurantes

Crítica: Ocyá eleva nível de trabalho com pescados no Rio – 25/06/2025 – Restaurantes

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São em pequenas embarcações que os comensais chegam a um dos mais criativos e inovadores restaurantes surgidos no Rio de Janeiro nos últimos tempos.

Aberto em 2021 na Ilha Primeira, uma das sete que compõem um arquipélago na Lagoa da Tijuca —a poucos metros do fuzuê da insuportável Avenida das Américas, principal via da Barra—, o Ocyá se sobressai na cena gastronômica carioca ao revolucionar o modo como peixes e frutos do mar são armazenados, preparados e servidos.

Uma grande câmara de maturação exposta no salão (assim como na filial do Leblon) mantém os pescados em temperatura e umidade controladas por dias, semanas. O processo, semelhante à maturação a seco (dry aged) de cortes bovinos, leva a reações enzimáticas que degradam as fibras musculares, amaciando a carne. A redução de líquidos deixa o sabor mais concentrado, sem que os peixes percam o frescor e a suculência.

Essa é a teoria. Na prática, tudo se confirma. O crudo de peixe do dia (na ocasião, olho de boi) com molho ponzu (R$ 56) é a prova de que a maturação resulta, sim, numa textura diferente. Os cortes, como sashimis, vêm numa consistência mais firme e de gosto mais pronunciado do que o habitual.

O mesmo acontece com o colar de peixe maturado (neste dia era uma anchova há quase duas semanas na câmara), caramelo picante e molho cremoso de vinho branco (R$ 56). Os caras são bons de molho, e este leva ainda mais untuosidade ao corte pouco usual do pescado, que geralmente vai para o lixo.

O colar, neste caso, é a região da garganta (ou coleira), ao redor das guelras, onde há uma alta concentração de gordura e colágeno. Resultado: um naco de peixe (na porção servida na ilha há dois pedaços) marmoreado, suculento e cheio de sabor.

Parte do que é servido no Ocyá é capturado (no anzol ou arpão) por seu dono, Gerônimo Athuel, que prega a pesca seletiva, de baixa escala, e serve por lá peixes pouco badalados em outros restaurantes, como carapeba, xerelete, faqueco, paru e sororoca, todos limpos e eviscerados antes de irem para a câmara de maturação.

O cardápio também traz lulas (espalmadas, brilhantes) com molho velouté, uva fermentada e rúcula (R$ 69); peixe na brasa desossado, que varia de acordo com o que vem do mar, arroz de limão cremoso, farofa fria e batatas fritas, este o prato mais caro do cardápio (R$ 254, para dois).

No Ocyá, pescados viram bacon (no pastel com ovas e queijo a R$ 38, três) e recheiam linguiças, servidas num choripán com aïoli de chimichurri (R$ 49). A charcutaria do mar é também um dos pontos fortes do restaurante, que não alcançou a mesma maestria na única massa oferecida, o espaguete ao vôngole (R$ 98).

Menos feliz também foi a escolha da sobremesa. Anunciado como “molhadinho” no menu, o bolo de coco com creme inglês de capim-santo e doce de leite (R$ 29) é um pouco agressivo para paladares (e olfatos) mais delicados. De consistência esquisita, esponjosa, pecou pelo excesso da erva. De odor e sabor pronunciados demais, fez lembrar um detergente. Melhor ficar só no doce de leite mesmo.



Fonte.:Folha de São Paulo

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