Quando você abre o cardápio do Elea Forneria tem a sensação de que fará uma refeição que passa por sabores já conhecidos de quem aprecia a culinária italiana. Tem fettuccine, ravióli, lasanha, pizza. Mas tudo tem um toque a mais, numa busca pelo prato mais reconfortante possível. O resultado passa por saborosos acertos —e alguns deslizes.
A porção de arancini cacio & pepe (R$ 48) vem com magret de pato curado. Bem marcado, ele toma conta do sabor (mas de um jeito bom), e deixa com os bolinhos a função de conquistar pelas texturas: crocantes por fora e cremosos por dentro.
A fresquíssima burrata (R$ 68) ganha em complexidade com uma combinação de pesto, farofinha de castanha-de-baru e tomatinhos. A focaccia de fermentação natural que acompanha é tão boa que mereceu repeteco (R$ 10, a fatia extra).
Foram provados cinco principais. Destaque para o untuoso tortelli de ossobuco (R$ 82), feito na manteiga noisette, com queijo Tulha e melaço de cebola. Massa fresca cozida no ponto certo, recheio intenso, notas de tostado e certo dulçor que, juntos, alcançam o nível máximo da sensação de conforto que um prato pode proporcionar.
O ravióli doppio (R$ 82) também tenta. Mas a ele falta sutileza. O cardápio avisa sobre o recheio de ricota, espinafre e creme de milho doce, mas não evita o estranhamento. Chama ravióli, parece ravióli, mas o gosto lembra demais o de pamonha. O queijo de ovelha até tenta fazer um contraponto, mas não dá conta e se perde.
A lasanha (R$ 81), recheada com compota de tomate, pancetta curada, queijo Tulha (de novo) e cogumelos, vem em uma pedaço fino e comprido, com as camadas voltadas para cima. Com as laterais tostadas, agrada em cheio os amantes daqueles queimadinhos que ficam nos cantos da assadeira. Mas pode decepcionar quem espera a lasanha com molho copioso que se popularizou nas cantinas paulistanas.
O fettuccine al ragu de costela (R$ 79) estava muito apimentado, o que aparentemente pode ter sido um erro de finalização. A picância acabou roubando a cena e comprometendo a combinação de missô e queijo Tulha.
Na pizza marguerita (R$ 62, com quatro pedaços) o sabor que toma conta é do queijo Tulha. Bom no começo. Depois enjoa. A presença dele em tantas receitas colabora com a percepção de uma busca por pratos reconfortantes. Rico em umami, o quinto sabor, é daqueles ingredientes que fazem salivar. Mas poderia ser usado com mais parcimônia.
De sobremesa, o tiramissu (R$ 44) não brilha. As bolachas champagne parecem formar um bolo fino coberto por mascarpone, passando longe das esperadas camadas entremeadas com creme. Não se sente o sabor do café ou do marsala. O choux (R$ 37), com musse de queijo e goiabada da casa, tem potencial. Falta recheio mais farto e uma crostinha mais fina e crocante.
Deu para perceber a vontade de arejar receitas tradicionais com toques inventivos, o que é bem-vindo. Mas é preciso avisar o cliente que a lasanha é diferente, que o ravióli é doce e que o fettuccine é picante. Até pelos valores cobrados, não dá para o comensal descobrir que talvez não seja bem o que ele gostaria de comer só na hora que o prato chega
Fonte.:Folha de São Paulo