Eis um conflito. Será que uma carnívora convicta tem o direito de analisar um restaurante vegano? Essa questão me passou quando estive mais uma vez diante da varanda cheia do Teva Deli, em Copacabana, em um fim de semana. Clientes pareciam satisfeitos, amigos o elogiavam há tempos.
A vontade de experimentar seus pratos 100% à base de vegetais veio também da minha falta de intimidade com esse universo. Me animei com a possibilidade de dividir impressões com outros não veganos e resolvi conhecer a casa em dois dias diferentes, com o olhar curioso de uma outsider.
E foi assim que entrei e provei algumas opções do menu, como o lox de cenoura no bagel de gergelim tostado, queijo de castanha, pepino, cebola roxa em conserva, endro, alcaparras e alga nori (R$ 46). Sensacional. O sanduíche é uma interpretação “animal free” do bagel de salmão defumado com cream cheese, de textura e visual bem parecidos. E que pode igualar (e até superar) no sabor, percebi ali.
O queijo de castanha-de-caju parece ser a combinação ideal para o lox de cenoura (lox é uma forma de cura do salmão, que leva sal e açúcar), e os outros temperos funcionaram perfeitamente no sanduíche. Resultado: deixei para trás a minha visão tacanha e antiquada de que comida vegana é sem graça e, de quebra, descobri um dos melhores bagels do Rio.
Também foi ótimo o benedict de portobello, com cogumelos grelhados, tofu, espinafre, cebola caramelizada, tomate e béarnaise (R$ 52). Os ingredientes, orgânicos, vêm distribuídos em camadas equilibradas no muffin, sem muito disso ou pouco daquilo, e recebem um banho do molho, mais delicado que a versão com maionese tradicional.
O cardápio afirma que o muffin é feito na casa, mas o garçom disse que, dentre os pães, só o brioche é de fabricação própria. Quem está certo? Não importa. O fato é que o conjunto da obra estava delicioso. Esses foram os dois pedidos certeiros da delicatessen, que também é café, restaurante e padaria.
O Teva Deli investe em sopas, saladas, doces, iogurtes, shakes, lattes e sucos interessantes, como a limonada com maçã (R$ 20), um pouquinho doce, mas me asseguraram que não leva adoçante ou açúcar, de tipo algum. As refeições são servidas em um menu fixo e outro de almoço, que varia de acordo com o dia. Estão nele o faláfel com arroz de lentilhas, batata frita com zátar e homus (R$ 68), às quintas-feiras. Os bolinhos de grão-de-bico (quatro unidades) estavam ok, bem condimentados, ao contrário do arroz, que carecia de mais tempero.
Aos olhos (e estômago) de uma pessoa onívora, o seitan, uma proteína vegetal, parece ser a opção mais arriscada, da qual não me arrependi. Com consistência que lembra o filé de frango, os bifes de proteína de trigo vieram com molho de queijo, cogumelos, arroz de vagem e batata frita (R$ 76), e foram uma boa surpresa.
Para finalizar, a fatia de torta de nozes-pecan, com tâmaras medjool dando liga, foi altamente satisfatória, mas um pouco cara (R$ 40), mesmo acompanhada de uma bola de sorvete. Com ela a refeição terminou redondinha, e ainda levei para casa um cinnamon roll com creme de castanha (R$ 20) para comer mais tarde. Fechei assim minha bem aventurada visita ao Teva Deli, para onde pretendo voltar.
Fonte.:Folha de São Paulo