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9 de setembro de 2025

Dan Brown diz ser como Taylor Swift ao publicar novo livro – 09/09/2025 – Ilustrada

Dan Brown diz ser como Taylor Swift ao publicar novo livro – 09/09/2025 – Ilustrada

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“Siga o muro de pedras” é uma instrução diferente para completar o endereço de uma entrevista. Principalmente quando a casa fica em Rye Beach, área do estado do New Hampshire limitada pelo oceano Atlântico de um lado e florestas do outro, ambos protegendo as mansões milionárias que estão ali há gerações.

O cenário parece bucólico, tão bucólico que oprime. O celular não tem sinal. É como dirigir no cenário principal de “Corra!”, filme de terror de Jordan Peele, ou dos livros de H.P. Lovecraft, que nasceu não muito longe dali.

A dificuldade acrescenta à mitologia do entrevistado, um dos nomes mais proeminentes da região: o escritor Dan Brown, criador da série de livros protagonizada por Robert Langdon, professor de iconografia religiosa e simbologia da Universidade Harvard que ganhou fama na cultura pop após o best-seller “O Código Da Vinci”, de 2003, que vendeu mais de 80 milhões de cópias.

Antes da recepção de Brown, Winston, seu cachorro de sete anos, se aproxima animadamente. O autor costuma chamar o companheiro de “guardião dos segredos”. Não por ser feroz. Mas por circular na centenária casa de caça reformada para abrigar objetos de arte suntuosos, símbolos antigos cravados no piso de madeira e, claro, sua famosa biblioteca com estantes que exibem suas obras em mais de 50 línguas.

Do lado das versões em português, Brown abre um compartimento falso que esconde relíquias das adaptações para o cinema dos seus livros, como a bomba antimatéria de “Anjos e Demônios” e o críptex de “O Código Da Vinci”, presentes do cineasta Ron Howard.

No topo da estante, algo destoa: uma antiga garrafa com o nome Squamscott Press Beverage. “É uma bebida que havia aqui quando eu era criança”, diz o escritor, sem explicar a razão do objeto figurar naquele lugar especial. “Até Judith [Pietersen, noiva de Brown] fica curiosa, mas é um segredo que não conto para ninguém.”

O mistério é a alma do negócio de Dan Brown, nenhum deles tão importante no momento quanto o do seu novo livro, “O Segredo Final”, a sexta aventura de Langdon, lançado globalmente nesta terça-feira (9).

A obra interrompe uma pausa de oito anos do autor sem publicar —a mais longa da sua carreira. “Foram anos de tentativas e pesquisas. Foi um livro muito difícil e trabalhei duro nele. Estou feliz de ter terminado. Acho que todo mundo que convive comigo está feliz agora”, brinca Brown.

Neste novo thriller, Robert Langdon se encontra em Praga, onde acompanha seu atual par romântico, Katherine Solomon, a cientista noética —que estuda a ligação entre a consciência humana, a mente e o espírito— apresentada em “O Símbolo Perdido”, de 2009.

“Nos outros livros, Langdon sempre dá a sorte de encontrar uma mulher linda e talentosa que possuía o conhecimento exato que ele precisava saber, algo bem conveniente”, admite Brown com uma sinceridade surpreendente. “Desta vez, não queria o personagem em uma relação platônica e intelectual. Queria Langdon apaixonado, mas não há muito tempo.”

O professor precisa lidar com o desaparecimento de Solomon, que pode ser vítima de uma conspiração internacional para impedir a publicação de seu novo livro, que traria um segredo revolucionário sobre a consciência coletiva, premonição e a vida após a morte.

“Ele agora tem algo mais importante a perder e o leitor verá um lado diferente de Langdon”, diz o autor. “Não conseguiria ter escrito este livro sem os anteriores. É o auge da sua busca, também espiritual. Langdon precisa aprender e se tornar alguém que admite estar errado.”

Brown nunca escondeu que Langdon é um reflexo romantizado de si mesmo. A aventura do personagem dessa vez coincide com a morte de sua mãe, oito anos atrás.

“Foi que me impulsionou a escrever este livro. Sempre tive dificuldades de acreditar que nossas esperanças, sonhos e memórias simplesmente somem quando morremos. É um pensamento terrível, mas essa é a natureza da biomecânica. Quando minha mãe morreu, estava com ela e senti algo místico, como se ainda estivesse comigo. Talvez fosse minha mente querendo aliviar a dor da perda, mas isso me deixou curioso.”

Durante os anos de pesquisa para “O Segredo Final”, Brown se viu alterando seu modo de pensar, cada vez mais unindo seu lado científico com o espiritual. “Não tenho mais medo da morte, o que é uma mudança profunda. Não estou com pressa para morrer, mas estamos às vésperas de uma revolução científica e espiritual que muitos não estão enxergando. E será rápida”, diz o americano sobre os novos estudos sobre consciência humana.

“Sabe quando a teoria de Copérnico colocou o Sol no centro do sistema solar? Estamos em um instante similar em relação à consciência humana, quando descobriremos que o cérebro não cria a consciência, mas é o receptor de um canal diferente que continuará a funcionar.”

Esta teoria busca abalar o imaginário popular, como aconteceu em “O Código Da Vinci”, que apresentou uma suposta linhagem de descendentes de Jesus Cristo. “À medida que a ciência começar a nos convencer de que há algo além, mudaremos como espécie e nossos comportamentos se transformarão dramaticamente”, especula Brown, que descreve com detalhes os efeitos de certas drogas alucinógenas que mostrariam “a realidade” para o usuário.

“Ainda sou muito medroso para usar drogas. Não me entenda mal, adoro um bom Martini, mas gosto como meu cérebro funciona. E a química cerebral é incrivelmente frágil. Talvez quando for mais velho. Agora, tento apenas manter a forma”, brinca o autor, que se divide entre o golfe, equitação e tênis na sua região natal e as caminhadas na Costa Rica, país que escolheu para morar por seis meses no ano.

Como bom escritor de obras populares, Brown pisa em ovos em qualquer crítica. Ele diz que não acha política interessante, mas é difícil evitar o assunto quando o atual governo dos Estados Unidos corta gastos em ciência e ensino superior.

“É uma época caótica no mundo, especialmente no meu país. Sou fascinado pela filosofia do que faz uma população seguir certos caminhos, porque é assim com a religião. Quando a política entra no jogo e temos posturas anti-aborto com clínicas atacadas com explosivos, isso é algo novo”, diz. “Mas não é o fim do mundo. É um pequeno obstáculo em um continuum gigantesco. São dias estranhos, mas vamos aprender com isso.”

Em relação à inteligência artificial, diz ter usado apenas para redigir uma carta de recomendação quando estava muito ocupado. “Somos como crianças brincando com granadas, porque a tecnologia está avançando de forma tão rápida que temo não possuirmos maturidade suficiente para lidar com o que estamos criando”, ressalta.

“A IA vai impor desafios reais para as artes, mas acredito que vai curar o câncer em cinco anos, nos ajudará a limpar os oceanos e resolver problemas de superpopulação. Sou uma pessoa otimista.”

Brown sabe que é um escritor privilegiado. Mantém sua tradicional rotina de acordar cedo e escrever até dar uma pausa para tocar piano. Não deixa nada interferir nos seus hábitos. “A realidade é que não preciso escrever um novo livro”, afirma, sem um pingo de arrogância. “Ninguém vai notar se não entregar no prazo certo e passar um mês na Disney, mas a verdade é que fico muito focado quando começo uma obra.”

Sua única pressão é ser “pai de Robert Langdon”. Atualmente, a Netflix desenvolve uma série comandada por Carlton Cuse, de “Lost”, que adaptará “O Segredo Final” com novos atores e, se tudo correr como esperado, partirá para refazer os outros livros de Langdon.

“Adoro os filmes de Ron Howard e Tom Hanks é incrível, mas essas obras são complicadas para duas horas de duração, muita coisa fica de fora. Com oito episódios, podemos fazer algo fantástico”, aponta o autor.

Brown diz “já pensou em escrever outras coisas”, mas seus editores sempre tentam encontrar uma maneira de transformá-las em uma nova aventura do simbologista. A mais recente é a adaptação de um roteiro inédito sobre Peter Fuller, um criador de cavalos que teve um de seus animais desclassificado do Kentucky Derby nos anos 1960 por causa de sua ligação com o movimento dos direitos civis.

“Meu editor falou para não fazer isso, pois poderia confundir meus leitores”, conta ele, entrando em uma comparação hilária. “Sei escrever música pop, mas quero compor folk. Sou exatamente como Taylor Swift.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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