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12 de agosto de 2025

Darren Aronofsky comprova incômodo como sua especialidade – 12/08/2025 – Ilustrada

Darren Aronofsky comprova incômodo como sua especialidade – 12/08/2025 – Ilustrada

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Mesmo que as personagens não façam terapia e a violência seja a única salvação, nem todos os filmes de Darren Aronofsky precisam ser sombrios.

Ao menos é o que o diretor quer provar com “Ladrões”, adaptação de “Caught Stealing”, romance de Charlie Huston, que chega aos cinemas no próximo dia 28.

“Esse filme surgiu do objetivo de fazer algo muito divertido. Eu queria que as pessoas pudessem esquecer seus problemas por duas horas”, disse Aronofsky nesta segunda (11) durante uma masterclass para estudantes no México, transmitida ao vivo em cinemas de toda a América Latina.

Entre falhas de áudio e desencontros entre o inglês e o espanhol, o cineasta de títulos como “A Baleia” e “Mãe!” —que trabalham o mal-estar para tratar de família nucleares— tentou fazer do evento outra pílula de diversão. Ele convidou as plateias ao redor do mundo a enviarem perguntas pelo Instagram e reforçou, repetidas vezes, o compromisso do projeto com a energia dos longas de assalto.

Mas a tentativa de se provar descolado e conquistar os jovens saiu pela culatra, e as risadas surgiram pelos motivos errados.

Do desdém por certas perguntas —Aronofksy duvidou, por vezes, do conhecimento sobre suas outras produções— à sua preocupação com possíveis vazamentos —ele demonstrou, em vários momentos, não saber que o novo filme havia sido exibido em outros países—, o clima era de tensão.

Se em “Ladrões” a adrenalina se mantém pelas perseguições e pela desconfiança entre os tais bandidos, na sala do JK Iguatemi, em São Paulo, os nervos à flor da pele tentavam antecipar as próximas grosserias do cineasta.

Por outro lado, a indisposição de Aronofsky cedeu algum espaço para demonstrações de carinho —e uma brincadeira que pareceu não funcionar, ao se referir a um dos alunos pelo nome do ator chileno Pedro Pascal.

“Me lembro de quando gravamos as últimas cenas aqui [no México]. Me senti tão à vontade que decidi filmá-las descalço. Devo ter perdido alguns enquadramentos, mas o mar estava logo ali e a experiência foi ótima”, afirmou.

Em “Ladrões”, um ex-jogador de beisebol tem os sonhos de vida roubados por um acidente e leva os dias atrás do balcão de um bar. Ele evita beber com os clientes e vê na namorada o único caminho para uma vida melhor. Tudo muda quando os russos que perturbam o seu vizinho resolvem adicioná-lo à lista negra.

Entre criminosos internacionais e rabinos assassinos, a produção abusa de seu protagonista mas tenta divertir o público com tiroteios e o ronco de motores sobre o asfalto. É possivelmente a obra mais destoante do resto de sua filmografia, fácil de se confundir, por exemplo, com a direção de Guy Ritchie.

Questionado sobre a sua definição de “diversão”, Aronofsky diz que tenta entreter com todos os seus filmes, embora reconheça a densidade dos temas que costumam ser explorados.

“Acho que existe um tipo de diversão neles que agrada, talvez, só aos mais esquisitos”, brinca o diretor, indicado ao Oscar de melhor direção por “Cisne Negro”. O suspense psicológico acompanha uma bailarina que revela ser capaz de qualquer coisa para chamar a atenção.

Ele coloca filmes como o seu projeto de estreia, o misterioso “Pi”, e o drama sobre vícios “Réquiem para um Sonho” entre os títulos que acredita terem conquistado a plateia. “Talvez eu tenha me divertido muito mais do que qualquer outro membro da equipe.”

Ainda que se convença de que a habilidade de cativar os espectadores sempre esteve em sua carreira, talvez a debandada de convidados constrangidos —antes do fim da transmissão— e os risos nervosos comprovem os incômodos como a verdadeira especialidade de Aronofsky.

O jornalista esteve no evento a convite da Sony Pictures.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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