A apatia parece cada vez mais evidente na vida política do cidadão comum. O brasileiro se vê sem motivação para ir às ruas protestar, enquanto os abusos de um Judiciário cada vez mais autoritário ganham fôlego. A censura, antes centralizada em órgãos específicos, hoje está disseminada e é praticada por vários agentes. O povo, assim, parece em profundo estado de inanição.
Este foi o ponto de partida do programa Última Análise desta terça-feira (27). Os participantes analisaram as causas deste cansaço nacional e apontaram quais os caminhos para superá-lo. O vereador Guilherme Kilter aponta para uma cronologia desta apatia, em que, após as mobilizações, como a do impeachment de Dilma Rousseff, veio então o 8 de Janeiro: “Ali a perseguição atingiu a população e o medo de ser preso tornou o brasileiro mais silencioso”.
Ainda, o advogado André Marsiglia diz que as “decisões bizarras do STF” normalizaram o absurdo e esgotaram a capacidade das pessoas de reagir. Kilter lembra também do medo que o brasileiro tem hoje de falar: “A autocensura é um componente desta situação em que nos encontramos. A partir do momento em que sentimos medo de falar alguma coisa, a gente já está vivendo em um regime”.
Censura: antes centralizada, hoje disseminada
Neste novo regime autoritário do Brasil, Marsiglia explica que não se veem mais fardas nas ruas, como na ditadura militar, sendo a atual “ditadura” mais pulverizada e disfarçada. “A censura não está mais em uma pessoa. Ela vem de várias fontes, como Judiciário, imprensa e universidades”, acredita.
Kilter reforça a importância das redes sociais como resistência neste quadro: “As redes sociais são a última barreira contra a censura absoluta. É ao que a gente deve se apegar”.
Além disso, há o problema da conivência da imprensa tradicional que, segundo a advogada Anne Dias, não comunica os fatos. ‘”Fica do lado da narrativa que é desenhada pelo Supremo”, resume. Por isso que, diante desta falta de informação, há muitos brasileiros que nem sequer entendem a gravidade do caso brasileiro.
Âncoras como solução à apatia
Marsiglia lembra que até em casos extremos, como o de pessoas presas por questões políticas, é preciso ter referências para sair de tal situação, as quais ele chama de “âncoras”. “Você não se cansa se tem valores. Se você acredita em alguma coisa, você não pode se cansar, independente da probabilidade de mudança imediata”, acredita.
O jurista também lembra do papel da imprensa, especialmente do jornalismo independente, a quem cabe fazer “uma crítica contundente e recorrente”, em vez de praticar um “editorial morde e sopra”, se referindo à imprensa tradicional. “As pessoas devem continuar falando até vencer o sistema”, conclui Anne Dias, dando a solução para sanar a apatia do brasileiro perante o cenário político e jurídico que se instaurou no país.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.
Fonte. Gazeta do Povo