Enquanto representantes da China e dos Estados Unidos se reúnem em Madri para intensificar a diplomacia entre as duas maiores economias do mundo, membros do Partido Democrata apelam à gestão Trump para que pressione a superprodução chinesa.
Eles defendem um novo modelo econômico em Pequim que coloque freios à capacidade industrial do país asiático. A solicitação foi feita por meio de uma carta enviada ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, a qual a Reuters teve acesso.
Bessent é um dos representantes dos EUA nas negociações com a China, que está representada pelo vice-premiê He Lifeng. Uma nova rodada de reuniões entre os dois países acontece nesta segunda-feira (15). Em pauta estão questões de segurança nacional e o destino do TikTok, da chinesa ByteDance, que enfrenta nesta semana um prazo para fechar um acordo e seguir operando nos EUA.
A carta, assinada por membros de um comitê dos democratas para negociações com a China, defende que acordos comerciais devem incluir exigências vinculativas. Isto é, contrapartidas chinesas que garantam a redução do envio de produtos manufaturados para o exterior.
A China produz muito mais produtos manufaturados do que pode ser consumido internamente, alimentando enormes embarques para fora e guerras de preços. Embora autoridades chinesas tenham rejeitado repetidamente as afirmações dos EUA sobre o excesso de capacidade, Pequim lançou uma campanha contra a deflação e as guerras de preços em alguns setores.
Bessent e o representante de Comércio, Jamieson Greer, mencionados na carta juntamente com o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, iniciaram as conversas em Madri neste domingo (14). Os departamentos do Tesouro e do Comércio não responderam a perguntas da Reuters sobre a carta.
O texto repete argumentos apresentados pelo governo Biden, especialmente pela ex-secretária do Tesouro Janet Yellen. Dificilmente comoverá o governo Trump. No entanto, demonstra preocupação com a China em Washington, onde acordos entre os dois partidos são raros.
“O uso histórico e destrutivo da superprodução estrutural pela República Popular da China para impulsionar o crescimento econômico tem um custo indiscutível para a indústria, o emprego e a estabilidade dos mercados internacionais dos EUA”, diz um trecho do documento.
As duas maiores economias do mundo têm lutado para transformar uma trégua sobre tarifas de três dígitos, prorrogada por 90 dias no mês passado, em um acordo comercial duradouro para lidar com reclamações que vão desde o fentanil e o déficit comercial dos EUA até a propriedade do TikTok.
O excesso de capacidade tem que ser abordado nas negociações, afirma a carta. Ela cita as indústrias de aço e painéis solares da China como exemplos em que uma expansão maciça da oferta foi seguida por ondas de exportações prejudiciais a empregos e à indústria americana e de outros lugares.
O governo também deve capitalizar a angústia que essas exportações causam em aliados e parceiros e trabalhar com eles para construir uma resposta internacional ao excesso de capacidade da China, diz o texto.
Isso requer uma abordagem “mais equilibrada” em relação às tarifas, acrescenta, referindo-se à ferramenta de política econômica adotada por Trump.
O governo Trump impôs tarifas a aliados próximos, como Coreia do Sul e Japão, embora algumas taxas tenham sido posteriormente reduzidas em troca de promessas de investimento ou cortes tarifários recíprocos.
Também há expectativa de que os dois lados preparem terreno para uma possível reunião entre Donald Trump e Xi Jinping em outubro, quando ambos devem participar de uma cúpula na Coreia do Sul.
Fonte.:Folha de S.Paulo