7:28 AM
24 de setembro de 2025

Depois das canetas, vêm aí as novas pílulas para emagrecer

Depois das canetas, vêm aí as novas pílulas para emagrecer

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Pelas novidades que vieram do Congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD 2025) na semana passada, em Viena, na Austria, ficou claro: começamos a era dos análogos de GLP-1 e outros hormônios, usados contra a obesidade, em versão oral.

Antes, essa categoria só estava disponível na forma de canetas subcutâneas que o próprio paciente aplica. Remédios como Mounjaro, Ozempic, WeGovy e Olire são exemplos disso.

Agora, essas moléculas estão sendo transpostas para comprimidos, algo muito aguardado pelos pacientes.

Na verdade, a farmacêutica Novo Nordisk começou essa onda lá em 2019, com o lançamento do Rybelsus  (semaglutida oral), indicado para diabetes tipo 2. Com indicação para obesidade, ainda não existia nenhum.

No entanto, no congresso, foram anunciados dois fármacos que prometem ficar disponíveis ainda este ano: a orforgliprona e a semaglutida oral 25mg, também chamada de WeGovy em comprimido”.

Entenda onde estamos e para onde vamos com esse e futuros análogos orais.

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Análogos orais: o que são e como tomar

As moléculas análogas de GLP-1 ou GIP, semaglutida e tirzepatida, são peptídicas, ou seja, fragmentos de proteína.

Para usá-las de maneira oral, o primeiro desafio era vencer o trato digestório, que é especialista em degradar proteínas.

Nesse contexto, o Rybelsus e o futuro WeGovy em comprimido usam uma tecnologia chamada SNAC, que protege a semaglutida. “Ele permite um aumento da absorção da semaglutida quando administrada por via oral, impedindo que ela seja totalmente degradada”, explica a endocrinologista Marília Fonseca, diretora médica da Novo Nordisk no Brasil.

Isso funciona para o Rybelsus (semaglutida 14mg) e para o futuro WeGovy oral (semaglutida 25mg). Eles devem ser tomados diariamente, com o estômago vazio e engolidos inteiro (sem partir, esmagar ou mastigar) com apenas um gole de água (no máximo meio copo, equivalente a 120 ml). Após isso, é necessário esperar pelo menos 30 minutos antes de comer ou beber qualquer coisa.

Já a farmacêutica Lilly não apostou na tirzepatida oral, mas sim numa molécula totalmente nova, a orforgliprona.

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“Ela não é uma agonista dupla de GLP-1 e GIP, como a tirzepatida, é agonista apenas de GLP-1 mas é uma molécula sintética não peptídica, o que facilita muito do ponto de vista de metabolismo e absorção oral, fazendo ela ser mais potente”, explica o endocrinologista e diretor médico da Eli Lilly, Luiz Andre Magno.

A orforgliprona também deve ser tomada uma vez ao dia, mas em qualquer momento, não há restrições de quantidade de água ou jejum.

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Versões em comprimido são tão potentes quanto as canetas?

Depende da versão.

A orforgliprona demonstrou em seus estudos alcançar uma média de 12% de perda de peso. Segundo o trabalho que apresentou a molécula, quase 40% dos pacientes chegaram a perder 15% do peso, e 20% das pessoas perderam tiveram 20% de redução.

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Ela é menos potente que a tizerpatida, do Mounjaro, que possui média de 20% de perda de peso, e 32% dos pacientes chegam a eliminar 25%.

Já o WeGovy oral (semaglutida 25mg) apresentou 16,6% de perda de peso em média, e 1 em cada 3 pacientes chegou a perder 20% do peso.

Isso mostra que ele é tão potente quanto o WeGovy injetável. Mas também menos potente que a tirzepatida.

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Tanto orais quanto injetáveis têm a mesma indicação?

Sim: tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.

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Mas, ter diversas opções disponíveis, com diferentes potências, ajuda em um princípio bem importante na medicina: personalização do tratamento.

Não são todos os pacientes que querem injeção. Alguns têm uma aversão ou mesmo alguma dificuldade de aplicação. Então, existe um potencial para que vários pacientes se beneficiem de um comprimido”, afirma Marília.

E ela destaca que o WeGovy oral mantem benefícios coadjuvantes já vistos nos injetáveis. “Permanece a proteção cardiovascular, sem aumentar de maneira significativa os eventos adversos”, pontua a diretora da Novo.

Patrik Jonsson, vice-presidente executivo e presidente da Lilly Internacional, concorda.

“A vantagem do orforgliprona é abrir uma porta para pacientes que não estão dispostos a usar medicamentos injetáveis ou para aqueles que não precisam de uma perda de peso máxima”, afirma o executivo.

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Quais as vantagens do comprimido em relação as canetas?

Para além da preferência pessoal e potência, questões como custo, acesso e política pública podem ser beneficiadas.

“Peptídeos, em geral, são moléculas grandes e de alta complexidade de fabricação. E não-peptídeos sintéticos tendem a ser bem mais simples, são moléculas pequenas. Quando você tem uma injeção, há toda uma questão logística, como a necessidade de uma cadeia fria de distribuição”, detalha o médico Bruno Halpern, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), e também co-autor do estudo que apresentou a orforgliprona no EASD.

Halpern cita ainda a questão ambiental, pois as canetas exigem um alto uso de plásticos. Ele acredita que, para que haja uma produção massiva, considerando que hoje há mais de um bilhão de pessoas com obesidade que precisam de tratamento, medicamentos mais fáceis de produzir (não-peptídeos), transportar e tomar, como os orais, levam vantagem.

“Analisando um contexto global, é mais provável que governos, se quiserem fazer tratamento de obesidade como uma política pública, optem por medicamentos mais baratos. E acredito que os orais serão prioridade nesse sentido”, completa.

Como médico que trata obesidade, eu prefiro ter um medicamento que leva uma média de perda de peso de 12%, 13% e eu consiga dar para muita gente, do que ter um que leva uma média de redução de 20% mas menos gente tenha acesso”, opina o endocrinologista.

Marília acrescenta que a semaglutida oral, apesar de biológica e peptídica, também não precisa de cadeia fria para transporte nem armazenar na geladeira em casa. “O único cuidado é ser mantido em temperatura ambiente entre 15 e 30°C”, explica a diretora médica da Novo.

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Quando os comprimidos chegarão ao mercado?

O WeGovy oral foi submetido a agência de regulatória dos Estados Unidos (FDA), e a Novo espera aprovação ate o fim do ano.

“Para a Anvisa, pretendemos submeter essa semaglutida oral na dose de 25mg para a obesidade, independente da presença ou não de diabetes, ainda este ano”, afirma Marília.

A orforgliprona deverá ser submetida a FDA e Anvisa até o fim de 2025.

“O Brasil é um mercado prioritário para nós, por isso está incluído na primeira onda de submissões de aprovação da orforgliprona”, garante Jonsson.

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No futuro, os análogos orais vão substituir as canetas?

Na visão dos especialistas, não. Muito pelo que já foi falado: personalização do tratamento.

“Muita gente gosta da ideia de aplicar a medicação uma vez por semana, vão vir canetas no futuro que poderão ser aplicadas uma vez por mês, teremos mais opções, por isso acredito que elas não serão 100% substituídas”, opina Halpern.

Jonsson ainda aponta a questão de indicações mais precisas:

A obesidade é uma doença crônica, heterogênea e com necessidades diferentes. A orforgliprona é adequada para pessoas com IMC de 27 até 35, ou para pacientes que preferem comprimidos ou têm medo de agulhas. A tirzepatida provavelmente será o tratamento padrão para pacientes com IMC entre 34 e 38. E a futura retatrutida será indicada para situações em que é necessário perder peso de forma intensa e rápida, já que seus resultados chegarão próximos à cirurgia bariátrica”, detalha o executivo.

Marília concorda que há espaço para os dois, e destaca que a Novo Nordisk já estuda novas moléculas nos dois formatos. A amicretina, um análogo de amilina, está em desenvolvimento nas duas formulações, subcutâneo e oral, pois existe público pros dois”, conta.

Halpern ainda acredita que o tratamento em grande escala da obesidade vai ser com medicamentos orais, ficando os injetáveis reservados para casos específicos.

“Uma possibilidade que eu acho que deveria ser estudada é começar o tratamento da obesidade com oral, quem responde bem mantém o medicamento, e quem não responder bem poderia passar para medicações injetáveis mais potentes”, opina o especialista.

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Fonte.:Saúde Abril

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