Estamos vivendo em um tempo de polarização em todos os campos, onde tudo o que vai contra o que o outro acredita se torna agressivo e, dessa forma, toma uma dimensão gigantesca, afetando pessoas em todas as camadas sociais da nossa sociedade.
Com isso, os indivíduos estão esquecendo das boas maneiras e da educação, partindo para agressões em todos os âmbitos. A educação e os valores ensinados pelos nossos pais deram lugar a uma comunicação violenta, sem considerar a quem atingimos.
Marshall B. Rosenberg, em seu livro Comunicação não violenta (Editora Ágora – clique para comprar), apresenta uma série de ensinamentos para um mundo violento, cheio de preconceitos, conflitos e mal-entendidos.
Segundo ele, buscamos soluções para melhorar nossa relação com os outros. E a boa comunicação é o bem mais precioso de que podemos lançar mão para resolver conflitos entre casais, pais e filhos. No entanto, saber escutar o que o outro de fato está dizendo — e o que queremos expressar — não é uma tarefa simples.
Será que, nesses tempos atuais, estamos realmente escutando o outro no sentido etimológico da palavra? Ou seja, estamos ouvindo atentamente e cuidadosamente? Minha experiência clínica no consultório e nas relações interpessoais mostra que não. As pessoas estão cada vez mais ansiosas e, com isso, ouvem, mas não escutam.
Neste Dia dos Namorados, vale refletir sobre como nos comunicamos com quem amamos. Em tempos de ansiedade, pressão e excesso de ruídos, muitos casais se perdem não por falta de amor, mas por falta de escuta. A base de um relacionamento saudável não está apenas no romantismo, mas na disposição de entender o outro com empatia, respeito e presença genuína.
Amor que se sustenta é aquele que se comunica — e que se reconstrói por meio do diálogo.
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A escuta ativa e a clareza emocional nos relacionamentos
É essencial ter uma comunicação clara e concisa nos relacionamentos — sejam familiares, amorosos ou de amizade. A boa comunicação, ou a ausência dela, pode desencadear problemas que geram desgaste e o surgimento de conflitos inimagináveis. Podemos falar e falar, mas nunca saberemos exatamente o que o outro verdadeiramente escutou e como nossas palavras o atingiram.
Uma comunicação coerente precisa ser honesta. E, geralmente, em meio a brigas, as pessoas não conseguem alcançar esse nível de clareza — principalmente nos relacionamentos amorosos, onde cada sujeito tem seu ponto de vista e muitas vezes não consegue ter empatia pelo sentimento do outro.
Para construir uma comunicação saudável nesses relacionamentos, o esforço de ambos é fundamental. Se ainda existir o desejo de permanecer juntos, os casais devem encontrar soluções saudáveis para isso. Um exemplo é a terapia de casal, que pode ajudar a promover mudanças funcionais na comunicação e no gerenciamento de conflitos, de forma consciente e sem culpa.
Nesse processo de construção da comunicação não violenta, como mencionado acima, a psicoterapia também pode ajudar os parceiros a identificar pensamentos e crenças disfuncionais, reconhecer as emoções que mais os afetam e aprender a lidar com elas, melhorando o comportamento e o autoconhecimento.
Uma ferramenta para mudar padrões de comunicação
A comunicação efetiva não deixa espaço para dúvidas por parte do receptor. Ela deve ser clara e precisa, reduzindo ruídos e aumentando a confiança de que o outro está engajado na melhoria da relação.
A comunicação não violenta defende a expressão não crítica ou acusatória. Ao conversar, é importante evitar acusações, críticas excessivas, grosserias ou sarcasmos. Frases como “eu me senti assim” em vez de “você fez isso” podem mudar completamente o tom de uma conversa.
Na psicoterapia, também se aprende a identificar crenças trazidas da família de origem — que, mesmo inconscientemente, atrapalham o relacionamento. Os pensamentos automáticos disfuncionais influenciam negativamente a convivência.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) entende que o indivíduo é influenciado pelos seus pensamentos. A forma como interpreta as situações pode afetar diretamente seus sentimentos. Cada pessoa sente, enxerga e acredita em determinada situação a seu modo, o que, muitas vezes, gera sofrimento.
Com o uso de técnicas da TCC, é possível modificar pensamentos disfuncionais e substituí-los por padrões mais saudáveis e adequados à realidade. Um exemplo clássico é quando um parceiro, que na infância presenciava o pai sendo ríspido com a mãe, acaba repetindo esse padrão em sua vida adulta, ao se comunicar com o outro.
Algumas práticas de assertividade e comunicação envolvem conhecer seus direitos e crenças limitantes, identificar o que se aceita ou não. É importante lembrar que todos têm o direito de ter suas próprias opiniões, mudar de ideia, ser tratados com respeito e dizer “não” sem culpa.
Pensar antes de falar evita discussões desnecessárias, especialmente quando o outro não está em um bom dia. Conversas mais delicadas exigem um local privado e tranquilo.
Com o uso da resolução de problemas, a TCC capacita indivíduos, casais e famílias a se tornarem conscientes de seus próprios processos internos, desenvolvendo estratégias práticas e colaborativas para superar desafios. Isso resulta em relacionamentos mais saudáveis e duradouros.
*Claudiana A. Prates é psicóloga clínica
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
Fonte.:Saúde Abril