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15 de agosto de 2025

Diagnóstico em saúde mental: prisão ou libertação?

Diagnóstico em saúde mental: prisão ou libertação?

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A palavra diagnóstico deriva do grego e significa capaz de distinguir, de diferenciar. Realizar um diagnóstico é reconhecer que determinada condição é isto e não aquilo.

Essa distinção surge à medida em que os aspectos do problema em questão, ou seja os sintomas, conjuntos de características que ocorrem concomitantemente, vão se tornando evidentes.

Por vezes, esses padrões são mais difíceis de serem notados, bem como suas intricações entre si. Em relação a diagnósticos de problemas de saúde, esse emaranhado de sinais se estabelece não só sobre o funcionamento e a forma de nossos corpos, mas se produzem no decorrer de um tempo, traçando o que chamamos de história natural de uma condição.

Diagnosticar é saber ouvir histórias e diferenciar como, de onde e para onde, elas se desenrolam. Nesse percurso, tal qual o leito de um rio, os contornos, aparências, sinuosidades da condição em questão, se revelam. Os limites se evidenciam e saltam aos olhos, recebem um nome. Ganham status de síndrome.

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Nossos corpos têm limites. Nossas doenças também. Diagnosticar um problema de saúde é reconhecer esses limites, diferenciá-los de outras condições.

Mas um diagnóstico basta por si? Chegamos ao fim do problema ao dar-lhe nome? Certamente não. Aprisionamos ou libertamos uma pessoa ao reconhecermos sua condição de saúde?

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Um diagnóstico pode mudar ao longo de sua observação, tal qual o curso do rio. Neste sentido, enquanto não pudermos vislumbrar sua direção somos levados de arraste por suas águas turvas. Ainda nos mantemos aprisionados ao seu fluxo. Um diagnóstico não realizado ou equivocado nos deixa nesta deriva.

Um diagnóstico certeiro reconhece essas margens, descreve a condição, mas pode também apontar a poluição das águas, descreve os transtornos. Diante deste panorama, podemos sentar à beira delas e lamentarmos suas sinuosidades e turbulências. Chorar sua turbidez.

Isso é importante, mas devemos cuidar para não fazermos desse lugar nossa morada, sob o risco de podermos incorrer numa vitimização que é, de um certo modo, um aprisionamento.

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Podemos também nos apropriar do curso deste rio, quais territórios de meu corpo, ou seja, do meu ser, ele atravessa e compreender o que posso fazer para reconduzir este fluxo.

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Uma condição, e mesmo uma doença, traçando um limite, um contorno, não estabelece somente onde terminamos. Ela estabelece onde (re)começamos, em quais territórios possíveis de nosso ser podemos vicejar, num movimento de reapropriação de nós mesmos.

Esportistas paralímpicos nos dão a demonstração mais clara desta atitude. A partir de suas dificuldades, de seus limites, eles (re)começam, redefinem suas histórias, advogam suas necessidades e alcançam novos pódios.

É importante compreender em que medida a paisagem que circunscreve esse rio determina seu curso. Falamos aqui do fundo do leito das condições genéticas, do solo, margens e barrancos das relações sociais, afetivas e de trabalho. Falamos da matéria que compõe nossas águas, do que temos acesso para beber e comer.

Se essas águas não estão somente contaminadas pela indisciplina da nossa dieta, mas também pelo descaso de um sistema que envenena aquilo que ingerimos.

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Reconhecer nossa condição mais própria é permitir que possamos nos apropriar não só de nós mesmos mas também do mundo que nos circunscreve.

Dá-nos a liberdade de reconhecermos a vulnerabilidade de nossos corpos e os riscos de nosso entorno. Tira a venda que nos recobre os olhos e nos convida a cuidarmos de nós, do planeta onde estamos, do mundo que somos.

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Fonte.:Saúde Abril

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