Em Paris, durante o Congresso Mundial de Nutrição, uma das apresentações mais aguardadas trouxe uma notícia que pode transformar a forma como pensamos a comida: o lançamento do novo relatório da Comissão EAT-Lancet — a mesma que, em 2019, apresentou ao mundo a chamada Dieta para a Saúde do Planeta.
Desta vez, além de atualizar as recomendações de dietas saudáveis e sustentáveis, o documento chega com um ingrediente inédito: a justiça social.
O primeiro relatório já havia deixado claro que era possível alimentar 10 bilhões de pessoas com saúde e sem ultrapassar os limites ambientais do planeta. Como? Reduzindo o consumo excessivo de carne vermelha, açúcar e gorduras saturadas — já que o sistema alimentar responde por 30% das emissões que aquecem o clima e por 80% da perda de biodiversidade.
Um dado que impressiona: mais da metade da população mundial vive algum tipo de má nutrição, seja pela fome, seja pelo excesso de peso.
Agora, a versão 2025 reforça: não basta pensar só na saúde individual e na sustentabilidade ambiental. É preciso garantir que todos tenham acesso justo e equitativo a essas dietas. Afinal, do que adianta termos a solução se ela não chega a quem mais precisa?
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Dieta de referência flexível respeita culturas e estilos de vida
Outra novidade poderosa é a proposta de uma dieta de referência flexível. Sai a ideia de um modelo único e entra em cena um guia adaptável, que respeita culturas, idades, gêneros e estilos de vida.
E os cenários até 2050 apontam uma virada no sistema alimentar: a produção de frutas, legumes e leguminosas deve crescer significativamente, enquanto os cereais quase não aumentarão.
Será que assim conseguiremos, enfim, nos aproximar da recomendação da OMS de consumir ao menos 400 gramas de frutas, legumes e verduras por dia? Hoje, a média nacional ainda está em menos da metade desse valor.
O recado é direto: somos todos guardiões do planeta e da saúde coletiva. O que colocamos no prato tem impacto no clima, na biodiversidade e até na justiça social.
A dieta de saúde planetária não significa abrir mão do prazer de comer, mas sim valorizar alimentos locais, vegetais, frutas, leguminosas e oleaginosas.
Mais do que reduzir carne vermelha, açúcar e gorduras saturadas, a mensagem é ampliar a diversidade e apostar em práticas agrícolas regenerativas.
Comer bem, portanto, não é apenas uma escolha pessoal — é um ato de responsabilidade com o futuro. Mais do que tendência, essa é a única receita capaz de cuidar ao mesmo tempo da nossa saúde e da saúde da Terra.
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Fonte.:Saúde Abril