Estamos no Outubro Rosa, mês de alerta e prevenção do câncer de mama. Porém, a principal causa de mortalidade feminina segue sendo o coração, tendo o estresse como importante fator de risco.
Elas são mais vulneráveis às doenças cardiovasculares (DCVs). Estatísticas comprovam que a principal causa de mortes femininas no Brasil são as DCVs, superando em mais de duas vezes o número de óbitos por todos os tipos de câncer juntos. A cada 12 minutos, uma mulher morre por infarto e a cada 10 minutos por acidente vascular cerebral (AVC).
Entidades e associações de cardiologia, como a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), apoiam o Outubro Rosa, iniciativa anual de conscientização sobre o câncer de mama.
Mas, por conta da supremacia das patologias cardíacas entre mulheres, a SOCESP lança a campanha “Outubro Rosa é também do coração”. O objetivo é alertar para a necessidade de entender os riscos, sintomas, tratamentos e, especialmente, maneiras de prevenir DCVs em mulheres.
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Por que as mulheres são mais suscetíveis?
A explicação para esta suscetibilidade é multifatorial, mas abarca condições especificamente femininas, que interferem direta ou indiretamente no desenvolvimento de DCVs:
Outra questão relevante é que mulheres têm artérias coronárias menores e de menor calibre, o que contribui para doenças obstrutivas coronarianas. Devido ao estresse e aos níveis hormonais, elas tendem a desenvolver erosões de placas coronarianas, ruptura, embolização distal, espasmo e dissecção coronariana espontânea mais frequentemente do que homens.
Soma-se a este ranking hábitos que até anos atrás eram mais masculinos, como consumo de álcool e tabagismo, e outros comuns a ambos os sexos, como alimentação inadequada, sedentarismo, diabetes, obesidade e hipertensão. Já distúrbios emocionais, como depressão, ansiedade e estresse mental agudo, impactam mais fortemente as mulheres.
Mulheres e o estresse
Mulheres estão mais sujeitas ao estresse, ansiedade e depressão por conta de fatores biológicos, como flutuações hormonais, e sociais: dupla jornada, que inclui trabalhar fora e responsabilidade com a gestão da casa e menor acesso a tratamentos de saúde, muitas vezes, por não priorizar os autocuidados.
Por conciliarem múltiplas tarefas e privilegiarem o cuidado do outro, como filhos e demais familiares, as mulheres podem não olhar para as próprias necessidades e apresentarem dificuldade para identificar suas emoções, como, por exemplo, se estão vivenciando níveis altos de estresse.
O estresse é um verdadeiro “veneno” para o coração. Ele promove mais liberação de hormônios, como adrenalina e cortisol, cooperando para o aumento da hipertensão arterial, do colesterol e da frequência cardíaca. Além disso, quando vivenciado por muito tempo, tende a induzir processos inflamatórios, favorecendo a formação de placas ateroscleróticas e aumentando o risco de infarto e AVC.
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Como reduzir os impactos do estresse
O combate a todas as consequências danosas que o estresse acarreta ao sistema cardiovascular passa, obrigatoriamente, pela promoção de um estilo de vida saudável, com exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada e sono adequado.
Ao falarmos de controle do estresse, entram ainda em campo técnicas de relaxamento como meditação, ioga e mindfulness.
Mindfulness – que pode ser traduzido por “atenção plena” – é uma técnica de relaxamento derivada de práticas budistas, que data dos anos 1970 e surgiu nos Estados Unidos. É definida como um conjunto de meditações cujo objetivo é treinar a mente a estar no momento presente, sem se deixar levar por pensamentos ansiosos, pelo estresse já vivenciado no dia ou preocupações excessivas sobre o futuro.
O método tem ganhado destaque como uma intervenção complementar na prevenção e manejo das doenças cardiovasculares.
Isso porque, ao atuar na regulação emocional, a prática regular do mindfulness contribui para diminuir os marcadores inflamatórios, todos associados à proteção cardiovascular. Também reduz a atividade do sistema nervoso simpático e melhora o controle do nervo vago, crucial para a desaceleração do ritmo cardíaco e para a resposta de relaxamento do corpo.
Estudos comprovam os benefícios do mindfulness
Vários estudos já comprovaram os benefícios do programa. Em trabalhos sobre as consequências de mindfulness para ansiedade em adultos e jovens**, evidenciou-se melhora dos sintomas.
Entre os adultos, houve menos barreiras para a aplicação da técnica na comparação a outros tratamentos não farmacológicos. Para os jovens, a meta-análise evidenciou que a eficácia é ainda superior.
Já o estudo Terapia de mindfulness para pacientes com doença cardíaca coronária: uma revisão sistemática e meta-análise apurou a redução significativa da ansiedade, depressão, estresse e pressão arterial sistólica, além de mais qualidade do sono.
Pesquisadores também buscaram entender os efeitos de intervenções baseadas em mindfulness em pessoas com pré-hipertensão ou hipertensão, e aqui os resultados clareiam evidências sobre o papel positivo do mindfulness: independentemente do gênero e da pressão arterial basal, há um fator redutivo superior observado em participantes com PA mais elevada antes do mindfulness.
Na prática
Sem contraindicações, o mindfulness exige pouco dos adeptos. Não é necessário nenhum equipamento ou espaço específicos. Basta escolher um ambiente tranquilo e se acomodar de maneira confortável, focando atenção ao corpo e aos pensamentos.
Em seguida, deve-se controlar o ritmo da respiração e deixar as distrações passarem, sem julgá-las. Se você perder a concentração, não tem problema: volte ao estado de atenção calmamente até conseguir mantê-la por, pelo menos, cinco minutos. Aplicativos e vídeos disponíveis na web ajudam no passo a passo do mindfulness.
Perante rotinas com tantos elementos para nos adoecer, temos que fazer uso das ferramentas que ajudem nessa reconexão com nós mesmos. Aquietar as emoções não cura apenas a alma, mas cura males físicos, doenças que abreviam a vida ou trazem sequelas, como as cardiovasculares.
Salete Nacif e Nina Azevedo são cardiologistas e integrantes do Socesp Mulher, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Patricia Perniciotti é coordenadora do Departamento de Psicologia da Socesp.
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Fonte.:Saúde Abril