Fim de tarde, trabalhadores cansados voltando pra casa, brigas no trânsito, desconhecidos se acotovelando no transporte público em viagens de duas, três ou mais horas. Moradores de grandes e médias cidades provavelmente já vivenciaram ou presenciaram cenas do tipo.
A sensação é de que não há mais ar para respirar. Trombamos uns nos outros, não pedimos desculpas, sequer olhamos para trás. Se está difícil viver e pagar as contas do mês e manter a própria saúde mental, pode ser difícil pensar em atos de gentileza.
Mas, segundo a ciência, não deveria ser assim. É que ser gentil traz diversas vantagens não só coletivas, mas individuais.
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Benefícios da gentileza segundo a ciência
Ao longo do tempo, pesquisas têm mostrado os benefícios de ser gentil para as duas pontas da equação. A análise aprofundada do comportamento humano revela também que colher essas benesses depende do porquê e de como as pessoas fazem coisas pelos outros.
Os dados mais recentes sobre o tema fazem parte de um levantamento do World Happiness Report 2025, relatório publicado pela primeira vez em 2012.
Entre os achados importantes, os experts destacam que nem todas as benevolências oferecem alguma vantagem para o bem-estar e que motivações egocêntricas, por exemplo, podem minar as recompensas emocionais que normalmente acompanham o comportamento focado no outro.
Além disso, evidências sugerem que os frutos da benevolência para a mente são bem mais fortes em comunidades de cuidado, tanto para quem ajuda quanto para quem se beneficia. Isso quer dizer que maior conexão social e acompanhamento próximo potencializam os ganhos para todos.
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O psicólogo Maycon Torres, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que os achados dos estudos vão ao encontro de mecanismos psicológicos conhecidos pela ciência.
“Emoções positivas, como gratificação, propósito e satisfação, ajudam a reduzir os sintomas ansiosos. A pessoa faz um ato de gentileza, o que gera no outro uma emoção positiva, que ela reconhece e se sente satisfeita por ter ajudado. É uma retroalimentação positiva”, detalha Torres.
Ou seja, é como uma interpretação científica da célebre frase “Gentileza gera gentileza?”
Ao mesmo tempo, a gentileza está envolvida em outros fenômenos, como a percepção de melhores encaminhamentos para solucionar os próprios problemas, a perspectiva de ampliação de suporte social e o sentimento de pertencimento a uma comunidade.
“Essa valência de emoções positivas e da ação de gentileza ajuda a reduzir a ativação do sistema de tensão e preocupação, o que faz com que haja uma queda do cortisol. O fenômeno deixa a pessoa em um estado menos estressado e melhora a qualidade de vida. Além da influência de outros neurotransmissores, como a dopamina, a serotonina e a própria endorfina”, pontua.
Mas e a saúde do corpo?
Já se sabe que tanto os atos de gentileza quanto o voluntariado são boas apostas para proteger o seu organismo e para viver mais. Evidências que refletem isso estão disponíveis, por exemplo, em um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, de Harvard, nos Estados Unidos.
Uma das análises apontou que pessoas relacionadas a doações e serviço voluntário apresentaram menores níveis de dor física. Outra investigação revelou dois benefícios para idosos que ajudava os outros regularmente: um bom funcionamento do corpo e menor risco de mortalidade.
Ainda no contexto da maturidade, uma pesquisa mostrou como compartilhar o próprio dinheiro no auxílio a quem precisa contribuiu para melhorar a saúde cardiovascular de indivíduos em risco diagnosticados com pressão alta.
Ser gentil faz bem pra você, para quem você se direciona e para a sociedade como um todo. As condições do cotidiano podem não ser as melhores, mas talvez seja preciso começar de algum ponto.
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Fonte.:Saúde Abril