
A primavera é época de alcachofra, uma planta de potencial terapêutico registrado há tantos milênios que aparece até em documentos de suas antigas civilizações, como o Egito Antigo e a Grécia Antiga.
Conhecida cientificamente como Cynara scolymus, a alcachofra é descrita por alguns como o vegetal mais antigo cultivado pelo ser humano. Ela é colhida principalmente na região do Mediterrâneo, nas Ilhas Canárias e no Egito, mas também ganhou espaço na Ásia e na América do Sul. Foi aí que chegou ao Brasil, onde é especialmente cultivada na região sudeste. Por aqui, a safra ocorre entre agosto e novembro.
Estamos, portanto, no tempo ideal para aproveitá-la. A planta que já foi admirada por faraós e filósofos gregos hoje é tema de estudos que confirmam parte da sabedoria ancestral: suas folhas e flores contam com compostos que podem ajudar a proteger o fígado, combater inflamações, reduzir o colesterol e até auxiliar na digestão.
Benefícios da alcachofra
A alcachofra é um botão de flor comestível, da mesma família das margaridas. Se deixada crescer, ela se abriria em uma grande flor roxa. Mas é colhida antes disso, quando suas pétalas (ou “brácteas”) ainda estão firmes e suculentas. É nas partes internas, mais macias, que está o chamado “coração da alcachofra”, considerado uma iguaria por muitos chefs pelo mundo.
A maior concentração de compostos fenólicos é encontrada na base da flor da alcachofra e a menor no botão floral. Já o “coração” pulsa com taninos, responsáveis pelo sabor amargo, e antocianinas, compostos antioxidantes que lhe conferem o tom arroxeado.
Ela também conta com vitamina C e algumas do complexo B. Apesar disso, não chega a ser uma grande fonte desses nutrientes. “Ela de destaca mais por seu elevado teor de compostos bioativos, como polifenóis“, defende a nutricionista Sandra Chemin, docente do curso de Nutrição da Universidade São Camilo. Entre eles, estão flavonoides, antocianinas e outros compostos fenólicos, além de inulina, cumarinas, terpenos e fibras alimentares.
Todas essas substâncias ajudam a combater os radicais livres que, em excesso, aceleram o envelhecimento celular e abrem caminho para uma série de doenças crônicas.
Detalhes anatômicos e culinários à parte, o fato é que a alcachofra mostra que não é apenas bonita por fora. Por dentro, carrega uma combinação de sabor, tradição e ciência. E ainda guarda outros segredos que valem conhecer.
Capacidade antioxidante
A alcachofra é uma velha conhecida de estudiosos quando o assunto é potencial antioxidante — aquela capacidade de neutralizar os radicais livres.
Por exemplo, um estudo publicado na European Food Research and Technology testou uma ideia curiosa: enriquecer uma sopa de galinha com extratos fenólicos (compostos com ação antioxidante) de diferentes vegetais, entre eles a alcachofra, a couve-flor e a alface.
Como resultado, a versão com alcachofra levou a melhor. O extrato da flor, rico em ácido cafeico, apresentou a maior concentração de compostos fenólicos e foi o que mais turbinou a capacidade antioxidante da sopa.
Em outro experimento, desta vez com pessoas, pesquisadores iranianos acompanharam 80 mulheres com síndrome metabólica que receberam 1.800 mg diários de extrato de folha de alcachofra durante 12 semanas. No fim do estudo, observou-se uma redução do LDL oxidado, uma forma “enferrujada” do colesterol ruim, associada ao risco cardiovascular.
Mas, embora as propriedades antioxidantes da alcachofra tenham sido confirmadas em diversos modelos in vitro e em animais, ainda há poucos ensaios em humanos sobre o tema. Em outras palavras, a flor mostra potencial, mas a ciência ainda precisa de mais tempo (e voluntários) para bater o martelo sobre até onde vão os poderes da planta.
Efeito sobre o fígado
O efeito protetor da alcachofra sobre o fígado é um dos temas mais estudados quando se fala nos benefícios da planta. Essa ação é atribuída principalmente aos compostos fenólicos e ao poder antioxidante presentes em suas folhas.
Um estudo piloto realizado na Universidade do Sarre, na Alemanha, acompanhou pacientes com obesidade e doença hepática associada ao excesso de gordura que estavam prestes a fazer cirurgia bariátrica.
Durante seis semanas, parte deles recebeu extrato de folha de alcachofra e outra parte, placebo. O resultado foi animador: já nas primeiras três semanas, os participantes que tomaram o extrato apresentaram redução da gordura no fígado e diminuição do tamanho do órgão, sinais de melhora na função hepática.
Além dessa pesquisa, outras revisões científicas indicam que a suplementação com alcachofra pode ajudar pessoas com doença hepática gordurosa não alcoólica e indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Experimentos em animais reforçam o potencial da planta para proteger o fígado, inclusive em casos de doença hepática alcoólica.
+Leia também: Novo remédio promete reduzir gordura e até lesões no fígado
Digestão
A alcachofra também é conhecida por facilitar a digestão. Em um estudo espanhol com atletas de resistência, a suplementação combinada com extratos padronizados de folha de alcachofra e raiz de gengibre, junto com uma pequena dose de simeticona (um composto que reduz gases), diminuiu o desconforto abdominal e melhorou o funcionamento do estômago após quatro semanas de uso.
Outras análises também apontam que o extrato de folha pode aliviar sintomas de má digestão e, até, síndrome do intestino irritável.
“Então, se você abusar nas gorduras, abusar na bebida alcoólica ou no volume de consumo alimentar, usar o extrato de alcachofra auxilia discretamente nesse processo de digestão rápida”, indica a nutricionista e especialista em fitoterapia Vanderlí Marchiori. “Acaba sendo uma boa estratégia para quem gosta de comer uma feijoada com torresmo”, brinca.
“A alcachofra antes [de uma alimentação pesada] protege e, depois, auxilia na digestão e na metabolização dessas gorduras e da bebida alcoólica”, aponta Vanderlí. O efeito, é claro, não é milagroso, mas os estudos já começam a mostrar que ela pode ajudar.
+Leia também: Chá de sálvia: para evitar indigestão ou azia
Ação cardioprotetora
Algumas análises apontam que a alcachofra pode proteger o coração por mecanismos múltiplos: controle do peso, redução do estresse oxidativo e melhora do perfil lipídico.
Em um estudo com humanos, o extrato de folhas de alcachofra reduziu concentrações de LDL, colesterol total e triglicerídeos. Componentes como a luteolina e o ácido clorogênico, também presentes na flor, são apontados como agentes cardioprotetores.
“Preparações à base de alcachofra (capsulas, tintura ou ingestão como alimentos) são indicadas para redução das concentrações de colesterol total, colesterol LDL, colesterol HDL, colesterol não-HDL, triglicerídeos e glicemia”, resume Sandra.
Cuidado com promessas exageradas
Há ressalvas: “por ter diversificação em relação ao produto ingerido e tipo de paciente, os resultados não são padronizados. Consequentemente, não há evidências que sustentem a eficácia de preparações culinárias ou à base de folhas de alcachofra no tratamento destas condições de saúde específicas”, diz.
Vale destacar que os benefícios nestes estudos são observados em geral em extratos ou suplementos, que concentram maiores teores dos micronutrientes do vegetal. Na alimentação, ela até pode trazer vantagens, mas não pode ser vista como remédio, e sim como parte de um cardápio saudável.
Como comer
Na cozinha, a alcachofra é versátil e cheia de charme. Vai bem cozida, frita, assada ou grelhada, e aparece em versões enlatadas ou mergulhadas em azeite, prontas para dar um toque sofisticado a saladas, massas e risotos.
Para fazer chá de alcachofra a dica é ferver a água em uma panela e, em seguida, apagar o fogo; adicionar as folhas de alcachofra à água; tampar a panela e deixar repousar por 10 minutos. Depois é só coar e beber.
Fora da mesa, a planta também brilha na medicina tradicional, onde suas folhas secas trituradas são usadas para preparar chás. Há ainda uma infinidade de extratos de alcachofra disponíveis em cápsulas, comprimidos e soluções líquidas, vendidos sozinhos ou combinados com outros ingredientes de origem vegetal.
Mas, de novo, não se deve tomá-los na esperança de obter benefícios terapêuticos. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer suplemento.
Compartilhe essa matéria via:
Newsletter
Receba, toda semana, as reportagens de Veja Saúde que mais deram o que falar.
Inscreva-se aqui
para receber a nossa newsletter
Cadastro efetuado com sucesso!
Você receberá nossas newsletters em breve.
Fonte.:Saúde Abril


