7:04 AM
22 de dezembro de 2025

Em estudo, exame de sangue confirma síndrome da fadiga crônica

Em estudo, exame de sangue confirma síndrome da fadiga crônica

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Estima-se que uma a cada 200 pessoas ao redor do mundo conviva com um cansaço extremo, dificuldade de concentração, problemas de memória e sono. Trata-se da encefalite miálgica, mais conhecida como síndrome da fadiga crônica.

Quem lida com ela pode ainda enfrentar descaso, já que não há exame que comprove a doença. “O diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e no descarte de outras causas”, explica o médico Roberto Heymann, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

Mas pesquisadores do Reino Unido e dos Emirados Árabes podem mudar essa realidade com o primeiro teste que dedura a doença pelo sangue. O EpiSwitch é capaz de identificar até 92% dos casos e deve ser submetido aos órgãos regulatórios. 

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Como funciona

Tecnologia reconhece rastros da doença

Marcadores biológicos

A condição leva a uma série de sinais inflamatórios que podem ser lidos pela ferramenta.

Decodificação

Ela flagra pequenos padrões do DNA em busca de mudanças causadas pela síndrome.

Avanços futuros

Pode abrir caminhos para testes diagnósticos de covid longa.

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Com a bateria baixa

Repouso e sono não reparam esse tipo de fadiga

Gênero e vírus

É mais comum em mulheres jovens e de meia-idade. Pode estar ligada a infecções como herpes e covid-19.

Guiado por sintomas

Descartadas outras doenças, o diagnóstico é fechado quando a pessoa apresenta um cansaço inexplicável por seis meses ou mais.

Multidisciplinar

O tratamento pode envolver a inclusão progressiva de atividade física na rotina, terapia e medicamentos para dor, depressão e sonolência.

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Palavra de Especialista

VEJA SAÚDE: O que é a síndrome da fadiga crônica e quais são os seus principais sintomas?

Roberto Heymann: A encefalomielite miálgica/síndrome da fadiga crônica (EM/SFC) é uma doença crônica, debilitante e de origem ainda não totalmente esclarecida.

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Ela é caracterizada por uma fadiga intensa e incapacitante, que não é aliviada por repouso e que impede os pacientes de fazerem atividades cotidianas.

Quem tem a condição pode apresentar também mal-estar após fazer esforço físico; sono não reparador (a pessoa sente como se não tivesse dormido); dificuldade de memória e concentração (a chamada “névoa mental”) e tontura ou mal-estar ao ficar em pé por muito tempo.

Além disso, há quem sinta dores pelo corpo; sensibilidade aumentada a luz, sons, cheiros, toque ou temperatura; alterações do funcionamento do intestino, como dor abdominal, diarreia ou constipação; e sintomas ligados ao sistema imunológico, como sensação de gripe frequente ou piora após infecções.

Como é feito o diagnóstico e quais especialidades médicas podem cuidar desses casos?

A causa exata dessa condição ainda não é totalmente conhecida, mas sabemos que ela é real, debilitante e que precisa de acompanhamento médico.

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O diagnóstico é feito principalmente pela avaliação clínica, seguindo critérios bem estabelecidos. Um dos mais usados é o da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos.

A entidade exige que o paciente apresente fadiga intensa e incapacitante por pelo menos seis meses, mal-estar após esforço, sono não reparador e pelo menos um dos seguintes problemas: dificuldades cognitivas (névoa mental) ou sintomas ao ficar em pé por muito tempo (chamada de intolerância ortostática).

Antes de confirmar o diagnóstico, o médico precisa descartar outras doenças que também podem causar fadiga. O acompanhamento pode ser feito por reumatologistas e neurologistas, dependendo dos sintomas e da gravidade do quadro.

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O que se sabe sobre as causas da condição?

A causa exata da EM/SFC ainda não é totalmente conhecida, mas sabemos que ela é real, debilitante e que precisa de acompanhamento médico.

Cerca de 70% dos casos começam depois de infecções, principalmente as virais — como mononucleose [causada pelo vírus Epstein-Barr], gripe [influenza], herpes [herpesvírus], covid-19 [Sars-CoV-2]—, mas também bacterianas — como as provocadas por Salmonella e Staphylococcus.

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As infecções funcionam como um gatilho para uma pessoa geneticamente predisposta. Mas não é só isso: mudanças no sistema imunológico, alterações no metabolismo e situações de estresse também podem ajudar a desencadear ou manter a doença.

Acredita-se que a síndrome apareça por causa de uma resposta exagerada ou desregulada do sistema imunológico, que pode deixar o corpo em estado de inflamação contínua.

Qual é a chance de alguém que teve Covid-19 desenvolver a condição?

A Covid-19 tem uma relação importante com a síndrome da fadiga crônica. Muitos pacientes desenvolvem fadiga persistente, dificuldade para fazer esforço e problemas de memória após a infecção, quadro conhecido como covid longa.

Estudos mostram que de 8% a 14% das pessoas que tiveram covid-19 podem preencher critérios para EM/SFC, especialmente mulheres, pessoas com autoimunidade e não vacinados. Esse risco ocorre tanto em casos leves quanto graves.

Os mecanismos por trás da fadiga pós-Covid são muito parecidos com os da síndrome clássica, envolvendo alterações do sistema imunológico, inflamação persistente e mudanças hormonais.

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Por isso, os sintomas podem ser praticamente iguais. Em resumo, a Covid-19 pode desencadear a EM/SFC em parte dos pacientes, com quadro clínico e mecanismos semelhantes aos já conhecidos da síndrome.

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Problemas de saúde mental podem desencadear a síndrome também?

A síndrome não é um problema psiquiátrico. Depressão e ansiedade podem surgir junto, mas não causam a doença.

Embora alguns sintomas se pareçam, a síndrome e a depressão são condições diferentes e funcionam de maneiras distintas no organismo. Mas a EM/SFC tem um impacto importante na saúde mental dos pacientes, muitos evoluindo com depressão e ansiedade.

Qual seria o impacto de ter, finalmente, um teste que confirme a doença? Seria uma forma de validar o sofrimento relatado pelos pacientes?

Se esse exame se confirmar em mais estudos, poderá ajudar muito no diagnóstico e no tratamento da condição, reduzindo o tempo até a confirmação, diminuindo o estigma e validando a experiência dos pacientes.

No entanto, ainda são necessárias novas pesquisas antes de ele ser usado de forma rotineira.

Hoje, como é feito o tratamento para essa doença?

O tratamento da síndrome da fadiga crônica é focado em aliviar os sintomas, porque ainda não existe cura nem um medicamento específico aprovado para essa condição.

É preciso ensinar o paciente a respeitar seus limites de energia para evitar a piora da fadiga e do mal-estar após esforço.

Durante muitos anos, indicava-se terapia cognitivo-comportamental (TCC) e exercícios físicos graduados (GET) como parte da reabilitação. Porém, estudos mais recentes mostram que o exercício pode piorar os sintomas em muitos pacientes. Por isso, grupos de especialistas atualmente não recomendam o GET como tratamento padrão.

A TCC ainda pode ser útil, mas para lidar com o impacto emocional e social da doença, e não para diminuir diretamente a fadiga.

O acompanhamento regular — muitas vezes por telemedicina, para evitar deslocamentos que cansam e pioram os sintomas — é recomendado.

Os medicamentos devem ser usados com cautela, começando com doses baixas e aumentando devagar, sempre focando em sintomas específicos como dor, insônia ou depressão, já que esses pacientes costumam ser mais sensíveis aos efeitos colaterais.

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Fonte.:Saúde Abril

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