11:32 PM
17 de novembro de 2025

Encruzilhada chilena – 17/11/2025 – Opinião

Encruzilhada chilena – 17/11/2025 – Opinião

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A onda de polarização política experimentada no Brasil e no mundo também se instalou no Chile. Na eleição de domingo (16), a candidata do Partido Comunista, Jeanette Jara, obteve 26,8% dos votos, e o ultradireitista José Antônio Kast, do Partido Republicano do Chile, 23,9%. Ambos disputarão o segundo turno em 14 de dezembro.

O presidente Gabriel Boric, de esquerda, não participou da disputa porque a Constituição chilena não permite a reeleição para mandato consecutivo.

Jara, que foi ministra do Trabalho de Boric, foi escolhida nas primárias para ser a representante da situação. Fez uma campanha de tom mais pragmático ao se distanciar de sua atividade militante. Tem pela frente o desafio de superar a baixa popularidade da atual gestão federal e propor políticas efetivas em segurança pública —uma dificuldade histórica da esquerda, não só no Chile.

O tema dominou a campanha eleitoral. Mesmo que o país tenha baixos índices de criminalidade comparado a seus vizinhos, a intensidade da violência tem aumentado com maior participação do crime organizado. Daí a percepção de insegurança entre os chilenos aferida por pesquisas.

Kast aproveitou essa sensação de medo. O ex-deputado apresentou propostas linha-dura e populistas de combate a organizações criminosas, como aumentos de penas e até a construção de um muro para conter a entrada de imigrantes, que ele associa à expansão da violência.

Como a direita não participou das primárias, seus votos se dispersaram entre diferentes candidaturas. O também ultradireitista Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, obteve 13,9%, e a experiente representante da direita tradicional Evelyn Matthei, do União Democrática Independente, alcançou 12,5%.

Kast tende a atrair esses eleitores e surge como favorito. Franco Parisi, populista que rejeita esquerda e direita, surpreendeu com 19,4%, e seu eleitorado pode ter papel decisivo doravante.

Ao lado da polarização, o Chile convive com outro retrocesso. Esse foi o primeiro pleito presidencial com voto obrigatório no país desde 2012, depois que uma reforma constitucional de 2022 derrubou o voto voluntário. Especialistas chilenos cogitam que a mudança poderia favorecer postulantes radicais.

Outrora exemplo raro de estabilidade econômica e bom convívio político no continente, o Chile ainda lida com os impactos dos inesperados e violentos protestos populares de 2019 —sem rumo claro entre radicalismos e populismos de variadas vertentes.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte.:Folha de S.Paulo

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