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21 de dezembro de 2025

Enoturismo no Alentejo atrai turistas com adegas premiadas – 21/12/2025 – Turismo

Enoturismo no Alentejo atrai turistas com adegas premiadas – 21/12/2025 – Turismo

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A região vinícola do Alentejo só foi demarcada em 1988, mais de dois séculos depois do Douro —que é a denominação de origem mais antiga da Europa, criada pelo Marquês de Pombal em 1756.

Hoje, no entanto, é no Alentejo que estão as adegas mais procuradas pelos adeptos do enoturismo, e também alguns dos vinhos mais interessantes e criativos de Portugal.

Cinco adegas portuguesas foram incluídas na lista das cinquenta melhores do mundo elaborada pela revista americana Forbes. Três delas ficam no Alentejo. Uma delas, a Fitapreta, na região de Évora, ganhou neste ano o grande prêmio atribuído pela Apeno, Associação Portuguesa de Enoturismo.

A região do baixo Alentejo —onde estão algumas das vinícolas mais tradicionais— será a “Capital Europeia do Vinho” em 2026, após eleição que envolveu produtores de vários países.

“Apesar da demarcação recente, o Alentejo é uma das regiões da Europa onde se produz vinho há mais tempo”, diz o historiador José Calado, autor do livro “Alentejo de honra”. “Há indícios de produção de vinho desde a ocupação do Império Romano. O Alentejo é uma dos poucos lugares da Europa, ao lado da Geórgia, onde sobrevive a técnica ancestral do vinho de talha, fermentado em ânforas de barro”.

Os vinhos do Alentejo ficaram na sombra por muito tempo por razões políticas. Quando o Marquês de Pombal demarcou a região do Douro, determinou que o Alentejo deveria se concentrar na produção de pão e azeite, cobrando impostos dos que plantavam videiras.

Mesmo sem a demarcação oficial, os agricultores da região produziam vinhos em cooperativas. “Alguns deles chegaram a ser premiados em exposições internacionais durante um período de florescimento da viticultura, no final do século 19”, afirma Calado.

No século 20, a ditadura salazarista voltou a dividir o país em regiões produtivas, reservando o vinho ao Douro e impondo o pão ao Alentejo.

Parte do sucesso dos vinhos da região se deve justamente à recuperação de tradições reprimidas no passado. Os donos da vinícola Fitapreta, a campeã do enoturismo português, compraram uma terra no sopé da Serra d’Ossa, onde há registro de produção de vinhos desde o século 14.

O solo se revelou ideal para a recuperação de castas antigas que não existem mais em quase nenhum lugar de Portugal.

“Usamos procedimentos tradicionais, como plantar as videiras sem irrigação, a confiar na capacidade da própria planta de retirar água do solo”, diz Alexandra Leroy Maçanita, uma das proprietárias da Fitapreta. A adega criou a série “Chão dos Eremitas” para abrigar vinhos de uvas raras, como Alicante Branco e Tinta Carvalha.

A estrela da série é o rótulo “Os Paulistas”, referência ao local onde os eremitas da Ordem de São Paulo plantavam suas videiras. Eram vinhos tão bons que uma bula papal de 1397 concedeu isenção de impostos aos religiosos.

A vinícola Fitapreta fica num palácio restaurado do século 14, que pertenceu ao rei português Dom Dinis 1⁠º (1261-1325). O enoturismo na propriedade inclui visita guiada, provas de vinhos, refeições harmonizadas e cursos de gastronomia com ingredientes locais. “Daqui a dois anos devemos ter também um hotel”, informa Alexandra Maçanita.

As planícies ensolaradas do Alentejo costumam produzir vinhos com teor alcoólico alto —cerca de 15%. As uvas emblemáticas da região são Alicante Bouschet, para os tintos, e Antão Vaz, para os brancos. “São elas que vertebram os vinhos, que depois são temperados com castas como Viosinho e Alvarinho”, afirma Luís Amorim, especialista em certificação de vinhos.

Em 11 de novembro, dia de São Martinho, celebra-se em cidades como Vidigueira e Borba a abertura das ânforas de vinho de talha —o equivalente português à temporada do Beaujoulais Noveau na França.

A determinação governamental para produzir pão e azeite gerou um modelo de negócio típico do Alentejo. “As adegas produzem vinho em uma época do ano e azeite em outra”, diz Amorim.

“Quando uma das colheitas não rende o resultado esperado a outra supre a carência”. Em Reguengos, cidade histórica que enriqueceu no século 19 devido à produção de vinho —foi apelidada Vila dos Palácios— é possível encontrar azeites e vinhos premiados internacionalmente.

O pão alentejano é uma tradição que vem do Império Romano, que deixou vestígios na região —um deles é o templo em homenagem à deusa Diana em Évora. Mais ao sul, na cidade de Beja, é possível fazer visitas guiadas aos fornos tradicionais, onde o viajante literalmente põe a mão na massa.

“No passado as mulheres amassavam o pão e os homens tomavam conta do forno aquecido a 250 graus”, diz Ruben Ramos, herdeiro de uma panificadora tradicional. Ele usa os mesmos procedimentos ensinados pela tia-avó, sem o viés da distinção entre os sexos.

Em uma boa refeição alentejana, harmonizada com os vinhos típicos da região, o pão não é servido no começo, mas no final. A tradição manda que ele seja oferecido ao visitante saído do forno, junto com o azeite produzido no mesmo lugar onde foi feito o vinho. A tríade típica do sul da Europa —pão, azeite e vinho— expressa o que o Alentejo tem de melhor em termos de sabores.

O jornalista viajou a convite da Entidade Regional de Turismo do Alentejo



Fonte.:Folha de S.Paulo

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