Um bom resumo do “Casos de Família” promovido pela PF (Polícia Federal) e pelo STF (Supremo Tribunal Federal) foi feito no perfil da Folha no X/Twitter: “Eduardo xinga o pai, Malafaia xinga Eduardo, Eduardo xinga Tarcísio”. Era um “fio”, como se chama na rede, que conectava essas e as demais peças reveladas pela investigação de obstrução no processo da trama golpista. Uma pena é que tal organização não tenha chegado da mesma maneira aos demais canais da Folha, durante e após a enxurrada de informação.
Do ponto de vista de quem não achou graça na história, faltou discussão tanto a respeito do timing da divulgação das conversas (que seria uma espécie de “esquenta” para o julgamento de setembro) e da pertinência do material revelado. A mistura promovida pelos próprios Bolsonaros entre sua intimidade e a vida pública brasileira torna essa uma tese de difícil digestão, mas ainda assim há quem a defenda além da banca de advogados da família.
Aproveito o gancho, porém, para conceder a palavra a uma leitora que escreveu desabafando a respeito da última chance que ela estaria dando à Folha.
“Bolsonaro? Deveriam parar de dar espaço para este assunto, porque isso serve de matéria para vocês jornais, mas acaba escondendo por trás outras matérias que seriam mais importantes para a população brasileira, que é cobrar do governo o controle das contas.”
“O escândalo do INSS não é transparente para todos, tive que entrar no site do governo para ver que tem algumas contas sendo bloqueadas? Mas e a transparência de como chegaram nestes nomes? Não tem o nome do irmão do Lula nisso. Onde estão as provas, como está sendo julgado? ISSO SIM DEVERIA SER CAPA DOS JORNAIS –é o nosso dinheiro.”
Vamos lá. Obviamente não se trata de deixar de dar espaço às notícias sobre Bolsonaro, ainda mais neste momento. Mas isso não significa que não haja mesmo falhas na cobertura do INSS.
A Folha publicou reportagens importantes sobre o estado de coisas no instituto, como “Consignado do INSS para menor de idade beira 500 mil, e Justiça suspende operações” e “Governo Lula agiu para segurar fila do INSS e frear alta de gastos com benefícios”.
Mas quando se trata da crise que envolve descontos indevidos em aposentadorias, ainda faltam clareza, didatismo e investigação.
Nesta semana, o escândalo dos descontos voltou à cena, mas resumido à confusão política da CPI. “Derrota”, “frustração”, “decepção” eram termos nos títulos e textos que refletiam a prevalência da perspectiva governista na cobertura. Havia algum respiro no material que olhava para a frente, sobre eventual convocação de integrantes de gestões anteriores pela comissão, mas ele era escasso.
É claro que o jogo político é parte fundamental desse negócio, e é preciso inclusive explicá-lo de maneira mais aberta, a começar do tal “acordo” em que tudo teria dado errado para o governo. Mas há o problema do INSS em si, que, mesmo sendo instrumentalizado pela oposição, ainda é gigantesco e está longe de ser sanado.
Nos últimos dias, o Metrópoles, que revelou a “farra” dos descontos numa série de reportagens em março do ano passado, conta que o presidente da CPMI já processou o INSS e ganhou precatórios de R$ 119 mil. O site brasiliense também foi atrás das aquisições imobiliárias nos EUA do assim chamado Careca do INSS.
Já o G1 deu caso de uma idosa pobre e analfabeta que diz ter sido enganada para figurar como presidente de uma entidade com quase 500 mil associados. O golpe teria acontecido justamente numa oferta de empréstimo.
O site da Globo também mostra que parte das entidades investigadas por descontos ilegais encerrou as atividades desde que o escândalo veio à tona. Segundo a reportagem, os oficiais não estão conseguindo encontrar as associações para notificá-las, o que adiciona mais uma camada de dificuldade ao caso.
A concorrência também apontou que, depois de uma reportagem da piauí, o INSS tirou do ar o relatório da auditoria que mostrava benefícios auferidos pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) durante o governo de Jair Bolsonaro. A Folha demorou, mas finalmente recuperou a história do relatório da Contag. Faltava, no entanto, contexto político sobre a entidade e a época da primeira grande liberação.
Havia, ainda, um detalhe que parecia pequeno, mas que não pode passar sem ser notado. O escândalo do INSS apareceu numa comparação um tanto esdrúxula com o escândalo, mais recente, dos créditos do ICMS paulista. Um leitor fez a observação.
“Depois de alguns dias, o jornal colocou Tarcísio [de Freitas] no foco do caso Ultrafarma. Mas além de o tom ser de ‘aumenta desgastes’, como se ele nada tivesse a ver com os desgastes, há uma omissão na reportagem ‘Caso Ultrafarma aumenta desgastes de Tarcísio após desconfiança bolsonarista’. Um aliado cita o caso do INSS em Brasília e o parágrafo seguinte frisa que Tarcísio estaria tranquilo porque o esquema da Ultrafarma começou em 2021. Estranhamente, não há um contraponto no texto, lembrando que o caso do INSS começou em 2019.”
Haja contexto.
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Fonte.:Folha de S.Paulo