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Introdução
A cidade estadunidense de São Francisco está processando gigantes do ramo alimentício (Como Coca-Cola, Nestlé, Pepsico) por crise de saúde pública. A acusação é de que as empresas projetam alimentos ultraprocessados para serem viciantes e conterem ingredientes barateados, visando lucros. Ação busca compensação monetária pelos custos do adoecimento da população e regulação da publicidade dos produtos, apontada como enganosa.
- São Francisco moveu uma ação judicial inédita contra gigantes como Coca-Cola, Nestlé e Pepsico, acusando-as de causar uma crise de saúde pública.
- As empresas são responsabilizadas por criar alimentos ultraprocessados viciantes e prejudiciais, comparáveis ao tabaco.
- Estudos mostram que ultraprocessados constituem mais da metade da dieta dos americanos, impactando principalmente crianças e adolescentes.
- O procurador responsável pela denúncia destaca que doenças como diabetes tipo 2, obesidade e câncer estão ligadas ao consumo desses alimentos e geram bilhões em gastos anuais com saúde para os cidadãos e o governo da cidade.
- A ação pede compensação financeira para cobrir gastos médicos e o fim de práticas de “publicidade enganosa”.
- No Brasil, especialistas pedem por maior taxação da indústria, facilidade para acesso a alimentos naturais e rotulagem de produtos mais rígida.
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Resumo gerado por ferramenta de IA treinada pela redação da Editora Abril.
A cidade de São Francisco, localizada no norte da Califórnia, nos Estados Unidos, declarou guerra contra algumas das maiores fabricantes de alimentos industrializados do país.
Na última semana, o procurador da cidade, David Chiu, entrou com uma ação judicial governamental inédita acusando as empresas de serem responsáveis por uma crise de saúde pública na região.
Entre as cerca de dez marcas que são alvo da ação estão nomes como Coca-Cola, Nestlé, Pepsico, KitKat e Oreo. Todas fabricantes de alimentos ultraprocessados.
A ação argumenta que esse tipo de produto é ligado a doenças como diabetes tipo 2, obesidade, gordura no fígado e até câncer, o que imporia custos a milhões de americanos, cidades e estados do país.
De acordo com o procurador, as empresas são responsáveis pelos quadros porque projetam os alimentos para serem viciantes e prejudiciais, o que, diz ele, é comparável ao efeito dos cigarros.
“Assim como a indústria do tabaco, elas sabiam que seus produtos deixavam as pessoas muito doentes, mas esconderam a verdade do público, lucraram bilhões e deixaram os americanos lidando com as consequências”, afirmou Chiu, em coletiva de imprensa.
Ainda na coletiva, foi informado que o Programa de Assistência Médica da Califórnia, que atende pessoas de baixa renda, teve uma despesa U$ 124 bilhões no último ano. Do valor, 3,95 bilhões foram atribuídos à cidade de São Francisco, onde o diabetes, hipertensão e doenças cardíacas lideraram como causas de hospitalizações e mortes.
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A ação pede uma compensação monetária. A ideia é que parte do valor seja voltado a ajudar governos locais a arcar com os gastos de saúde ligados ao consumo de ultraprocessados. Além disso, o processo quer barrar práticas consideradas “publicidade enganosa” e obrigar as companhias a adotar medidas “para corrigir ou diminuir os efeitos de seu comportamento“.
Chiu também aponta que as estratégias das empresas visavam crianças e tinham um foco desproporcional em comunidades de baixa renda e de minorias raciais.
De acordo com a queixa, o tema não trata meramente de alimentos “não saudáveis”, mas de produtos com danos ocultos à saúde.
“[São Alimentos] que os réus projetaram para serem baratos, coloridos, saborosos e viciantes. Este caso é sobre produtos alimentícios cujos ingredientes e processos de fabricação interrompem a capacidade de nossos corpos de funcionar”, disse o procurador.
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O problema dos ultraprocessados
Os ultraprocessados são produtos feitos na indústria com ingredientes muito modificados e vários aditivos, como corantes, aromas e conservantes. Eles são “comidas” prontas, saborosas, duráveis… e pobres em nutrientes. Exemplos clássicos são refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados, macarrão instantâneo e refeições congeladas.
Segundo um relatório publicado em agosto pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, esse tipo de produto compõe mais da metade da alimentação dos norte-americanos, principalmente das crianças.
De acordo com o levantamento, 62% das calorias diárias de crianças e adolescentes do país provém de ultraprocessados. Entre os adultos, o número é de 53%.
É fácil se preocupar com esse dado. Recentemente, a revista The Lancet publicou uma série de análises intitulada Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana que traz algumas conclusões que podem assustar.
Ao analisar mais de 100 estudos sobre o tema, os pesquisadores resumiram que a alta ingestão desse tipo de produto está associada a maior probabilidade para 12 desfechos negativos de saúde.
A conclusão é de que, quanto mais ultraprocessados, maiores são as chances de quadros de sobrepeso e obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol alto, doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, problemas renais, doença de Crohn, depressão e mortalidade por todas as causas.
No Estados Unidos, por exemplo, também segundo dados do CDC, 38,4 milhões de pessoas de todas as idades — ou 11,6% da população dos EUA — têm algum tipo de diabetes. Mais de 80% delas também apresenta obesidade ou sobrepeso. Já 352 mil são pessoas com menos de 20 anos.
Entre a população em geral, dados de 2024 também apontam que todos os estados e territórios dos país apresentam uma prevalência de obesidade em 25% da população ou mais. No estado da Califórnia, o número é de 29.1%.
Apesar dos desfechos, segundo a análise do The Lancet, entre 1962 e 2021, dos US$ 2,9 trilhões pagos a acionistas por empresas do setor alimentar, mais de 50% foram de fabricantes de alimentos ultraprocessados.
Para os pesquisadores, essa lucratividade gera excesso de recursos para influência política coordenada globalmente e estratégias de marketing intensivas e bem financiadas. Como resultado, diz a análise, cresce o poder corporativo e o controle sobre o que as pessoas comem.
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De olho no Brasil
Para a nutricionista Daniela Canella, professora do Instituto da Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora parceira do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a ofensiva judicial de São Francisco não é só algo para fazer barulho. Ela tem lógica.
“Os argumentos usados são muito interessantes. Temos evidências científicas de que determinadas substâncias são incluídas justamente para ‘maquiar’ características dos ultraprocessados e fazer com que as pessoas comam mais”, afirma a nutricionista.
Ela comenta que, diferente dos alimentos in natura, para vender ultraprocessados é possível manipular os ingredientes, trazendo matérias-primas mais baratas e aumentando a margem de lucro. Portanto, existiria responsabilidade por parte de quem os produz, já que as escolhas não são feitas ao acaso.
Por aqui, Daniela considera que o país precisa virar algumas chaves regulatórias. “É fundamental ter rotulagem nutricional adequada no Brasil, proibir ultraprocessados nas escolas (eles estão em todo lugar e não precisam estar no ambiente escolar também) e avançar na tributação [para a indústria]”, avalia.
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Ao mesmo tempo, ela lembra que, para isso, é preciso também facilitar o acesso a alimentos naturais e minimamente processados. “Medidas como taxação ou ações como as de São Francisco, caso gerem recursos, devem direcionar esse dinheiro para subsidiar alimentos saudáveis, ampliando sua oferta na alimentação escolar, no trabalho e nas periferias”, completa.
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Fonte.:Saúde Abril


