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16 de julho de 2025

Eu, minha mãe, você, seu avô… Quando a demência bate à nossa porta

Eu, minha mãe, você, seu avô… Quando a demência bate à nossa porta

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Fui visitar minha mãe, de 76 anos, recentemente. Ela olha para mim e diz: “Querido, que bom te ver aqui! Tu não deverias estar trabalhando a essa hora?”. Eu respondo: “Deveria, mãe, mas vim aqui para passearmos um pouco”. Ela certamente esqueceu que temos uma consulta com a neurologista agora pela manhã, que a acompanha desde que achamos estranhos os seus esquecimentos.

No começo, achávamos que era para chamar atenção. Depois, pensamos que era normal, porque afinal de contas ela estava com mais de 70 anos. Em seguida, quando uma panela pegou fogo e quase queimou a cozinha, decidimos levá-la para uma consulta.

Essa história poderia ser minha, mas é de uma amiga próxima, que me relatou numa conversa casual. Até um tempo atrás, especificamente 1984, a definição de esquecimento “normal” e “anormal” era muito ampla.

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Termos como “demência senil”, “caduquice” e “esclerosado” eram comuns entre as descrições de quadros assim, como o da mãe da minha amiga.

Hoje, em 2025, sabemos que esquecer não é normal. De fato, esquecimentos são sempre um sinal de alerta – seja porque eles indicam um burnout, seja porque são a manifestação de um declínio cognitivo.

E isso é tão importante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou a demência como uma prioridade de saúde pública, elaborando estratégias de redução do risco, e de aumento dos diagnósticos. E aqui vem um dado preocupante – o subdiagnóstico de demência no Brasil é estimado em 77% dos pacientes.

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Isso significa que, entre dez idosos que têm demência, apenas dois estão adequadamente diagnosticados – os outros oito estão em casa, com a família acreditando que aquilo é normal para a idade.

A repercussão do subdiagnóstico de demência afeta todos nós. O impacto emocional é gigantesco para a família, que muitas vezes não consegue entender por que aquele familiar não consegue se lembrar de combinações simples.

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O impacto social é enorme para o paciente, que fica com vergonha de sair para conversar com amigos por conta dos seus lapsos, gerando isolamento e depressão. E o impacto financeiro é substancial para os sistemas de saúde, que não conseguem dar suporte necessário que a população precisa por conta da alta demanda não identificada.

A perspectiva é de melhora? Bom, para isso eu convido você a ver o gráfico a seguir, com o percentual da variação das causas de morte de 2000 a 2022. Enquanto várias doenças crônicas estão sendo tratadas e reduzem suas repercussões, o Alzheimer avança assustadoramente.

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(Gráfico: Autor/Reprodução)

Como sociedade, onde podemos melhorar? Esse cenário de subdiagnóstico da demência é responsabilidade minha, sua, nossa… São muitos gargalos encontrados até o diagnóstico, e é nosso dever tentar reduzir isso.

Como familiares, podemos começar pensando que o esquecimento não é apenas “relacionado a idade”. Uma avaliação com especialista pode tirar dúvidas, iniciar tratamentos, e principalmente, planejar prevenção.

Como profissionais de saúde, é nosso dever identificar um paciente que possa apresentar quadro demencial ou comprometimento cognitivo leve. Como políticos, é nosso papel entender o impacto e providenciar suporte para a população mais vulnerável. Como sociedade, é nosso dever melhorar.

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No fim, não podemos apenas contar com a ideia de que “esquecimento é normal para a idade”, porque nem sempre é… Uma conversa casual com a amiga no começo do texto foi importante como sinal de alerta para ela buscar ajuda, mas nem sempre teremos uma conversa assim.

Como filho, como esposa, como familiar, como amigo, nosso dever é reduzir o impacto da demência. O primeiro passo? Buscar informação e ajuda.

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Fonte.:Saúde Abril

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