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- Author, Norberto Paredes
- Role, BBC News Mundo
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Para a Venezuela, o petróleo não é simplesmente uma mercadoria de exportação.
É a pedra angular de sua economia e a principal fonte de renda e moeda estrangeira com a qual o país importa alimentos, medicamentos e outros bens essenciais.
Diversos especialistas alertam que uma medida dessa magnitude também pode ter um efeito contrário ao desejado em Washington.
Trump anunciou a decisão pelas redes sociais, onde acusou o governo Maduro de usar petróleo “roubado” para se financiar e sustentar “narcoterrorismo, tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros”.
Suas declarações surgem uma semana depois de Washington ter apreendido um petroleiro na costa venezuelana, uma ação que Caracas denunciou como “roubo descarado” e “um ato de pirataria”.
O presidente dos EUA também afirmou na terça-feira, na rede social Truth Social, que a Venezuela está “completamente cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul”, acrescentando que essa presença militar “continuará a crescer” e será “algo nunca visto antes”.
A Venezuela, que possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, condenou a ordem de bloqueio como uma “ameaça grotesca” que, segundo o governo Maduro, busca “roubar” a riqueza do país.
As forças armadas dos EUA também têm realizado uma série de ataques aéreos contra embarcações no Caribe e no Pacífico Oriental, resultando na morte de pelo menos 99 pessoas.
O presidente Trump afirma que o objetivo desta campanha militar é combater o narcotráfico na região e acusa o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar o chamado Cartel de los Soles.
No entanto, vários analistas sustentam que a estratégia também pode ter como objetivo provocar uma mudança de regime na Venezuela.
Mais de 30 petroleiros sob sanções
A Venezuela produz atualmente cerca de 1 milhão de barris de petróleo bruto por dia, o que representa aproximadamente 1% da produção mundial.
Esse número contrasta fortemente com os mais de 3 milhões de barris por dia que o país produzia em 1998, ano anterior à ascensão ao poder do mentor político e ideológico de Maduro, o ex-presidente Hugo Chávez.
O colapso na produção deve-se a uma combinação de má gestão, falta de investimento no setor, perda de pessoal qualificado, corrupção e sanções internacionais.
Portanto, o impacto de um bloqueio de petróleo no mercado global seria limitado, pelo menos a curto prazo.
No entanto, para milhões de venezuelanos, as consequências podem ser muito mais profundas e diretas.

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Quando o presidente Donald Trump impôs um pacote de sanções econômicas rigorosas à Venezuela em 2018, durante seu primeiro mandato, a medida agravou a já severa crise econômica e humanitária que assolava o país sul-americano.
Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia venezuelana contraiu cerca de 15% apenas naquele ano, uma das maiores quedas de sua história recente.
Christopher Sabatini, pesquisador sênior para a América Latina no centro de pesquisas Chatham House, com sede em Londres, afirma que o bloqueio anunciado por Trump pode ter um “efeito ainda mais devastador se ele o mantiver e persistir nele.”
“Acho que o governo Trump espera poder reverter essa medida rapidamente.”
“Espera-se que a linguagem hiperbólica e inflamatória usada na (rede social) Truth Social faça com que o círculo íntimo de Maduro se volte contra ele e promova uma transição rápida”, disse Sabatini à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
“Mas se isso não acontecer, espera-se uma grande crise, porque uma grande porcentagem das exportações venezuelanas viaja nesses tipos de embarcações sancionadas”, acrescenta.
“E a receita dessas exportações não é usada apenas para pagar e subornar burocratas, mas também para comprar remédios e alimentos, portanto, espera-se uma grande escassez de ambos.”
Um relatório recente da organização Transparência Venezuela revelou que 41% dos petroleiros (40) que operavam ao largo da costa venezuelana em novembro eram embarcações sancionadas, parte da chamada frota de navios fantasmas.
Entretanto, o serviço independente de rastreamento Tanker Trackers estima que cerca de 37 embarcações incluídas na lista de sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), dos EUA, estavam operando em águas venezuelanas no início deste mês.
O economista venezuelano Francisco Monaldi, diretor do Programa de Energia da América Latina no Instituto Baker da Universidade Rice, em Houston, nos EUA, destaca que a medida anunciada por Trump também forçará o governo de Nicolás Maduro a oferecer descontos maiores no petróleo que vende por meio de canais informais para contornar as sanções.
“Em qualquer cenário, isso levará a uma redução na renda, o que, por sua vez, causará uma desvalorização do bolívar (moeda venezuelana) e um aumento da inflação.”
“E, se a situação persistir, é provável que gere uma queda significativa no PIB”, acrescenta.
O FMI projetou que a inflação na Venezuela fechará 2025 em aproximadamente 269,9%, de acordo com o relatório Perspectivas da Economia Mundial publicado em 14 de outubro de 2025.
Consequências negativas para Trump

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Especialistas alertam que o bloqueio também pode ter consequências negativas tanto para a oposição venezuelana quanto para o próprio governo Trump.
“Se a medida não conseguir derrubar o governo de Nicolás Maduro e os venezuelanos comuns começarem a sofrer seus efeitos, muitos podem acabar culpando a oposição e Trump pela crise”, destaca Sabatini.
O aumento da pobreza na Venezuela provavelmente também alimentará uma nova onda de migração para outros países da América Latina e para os Estados Unidos.
Segundo dados da ONU, quase sete milhões de venezuelanos deixaram o país desde o início da crise econômica e política, tornando-a uma das maiores crises migratórias do mundo.
O economista americano Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), acredita que o bloqueio anunciado por Trump pode, em última análise, prejudicá-lo politicamente se continuar.
“Quase 90% das divisas da Venezuela vêm das exportações de petróleo, então um bloqueio como o anunciado poderia gerar mais pobreza e mais migração”, disse Weisbrot à BBC Mundo.
“É um risco considerável para Trump: se a imigração venezuelana para os Estados Unidos aumentar significativamente, é provável que seus eleitores o façam pagar o preço nas eleições de meio de mandato do ano que vem.”
Esta reportagem foi escrita e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


