Saúde física, mental, social, ambiental, espiritual… É preciso tudo isso para ser feliz?
E quem está doente, não pode ser feliz? Será que felicidade está relacionada com fama, riqueza, beleza e vitalidade? Ou há um estado de contentamento com a existência que transcende até mesmo o bem-estar em todos os aspectos da vida?
O que significa ser feliz? Ou seria melhor dizer “estar feliz”? “Ser” dá impressão de um estado contínuo.
“Estar” é impermanente. A vida é impermanente. Não há nada fixo. Nem mesmo o personagem que criamos para sobreviver. Mudamos o tempo todo. Está tudo se transformando e fluindo. Transpomos as barreiras do eu e do outro. E, mesmo assim, há um dentro e um fora — eu e você.
Somos semelhantes, e não iguais. Podemos reconhecer em cada pessoa o seu potencial. Como fazer com que o maior número de pessoas desperte para a mente clara, lúcida, brilhante e terna? A tranquilidade é simultânea ao despertar.
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Como estar presente no agora se, ao escrever, já estou em outro momento? O que é um instante de felicidade?
Já aconteceu de você entrar em seu quarto e sentir a alegria do silêncio na solitude? Diferente da solidão, de se sentir só e incompreendida, solitude é a escolha de estar a sós, de apreciar a própria companhia.
Entretanto, quando despertamos, percebemos que estamos sempre em nossa própria companhia — todos e todas, tudo que é, foi e será são manifestações do sagrado que nos habita e no qual habitamos.
Então, por um instante, tente se sentir pleno, sem necessidade de fazer nada. Mesmo que haja dificuldades, problemas, questões a serem superadas. Permita que tudo cesse e você, simplesmente, desfrute um instante silencioso e tranquilo.
O estado de quietude, a paz, pode acompanhar você no meio da festa, do show, da confusão do trânsito, do metrô, da briga e do diagnóstico temido… Em todo e em qualquer lugar.
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Felicidade também tem a ver com doar, cuidar, querer bem. Apreciar a vida. Cada instante sagrado. Respire conscientemente e seja feliz. Mas cuidado!
Há a possibilidade de você se enganar, ou querer aparentar estar sempre bem e procurar o que nas redes sociais parece felicidade. Essa pressão por uma positividade extrema gera a felicidade tóxica.
Será que precisamos estar sempre sorrindo, brincando, dançando, demonstrando um estado de alegria? Precisamos esconder nossas dúvidas e medos — ou reconhecê-los e transmutá-los?
Buda dizia que “Quem conhece o contentamento é feliz mesmo dormindo no chão” e “Quem não conhece o contentamento é infeliz mesmo em um palácio celestial”.
Você conhece o contentamento com a existência ou vive descontente, reclamando, resmungando? Atenção! Hábitos podem se tornar vícios.
Podemos nos viciar nas redes sociais, nos algoritmos que nos dão instantes de ternura, e deixarmos de brincar com nosso cãozinho, pois nos deleitamos com os das telas. É tempo de despertar, de conviver, de aproveitar as conexões reais, de ter pausas para apreciar a própria vida.
Assim é que é.
*Monja Coen Roshi é missionária oficial da tradição Soto Shu, com sede no Japão, e coautora do livro Ser Feliz: É Possível? (Papirus 7 Mares – clique para comprar*), escrito em parceria com Gustavo Arns.
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Fonte.:Saúde Abril