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- Author, Sean Coughlan
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O livro do jornalista Valentine Low, de leitura fácil e que conta os bastidores da realeza britânica tem ganhado as manchetes do Reino Unido. A obra inclui uma história de como a rainha Camilla se defendeu de uma tentativa de agressão sexual quando era adolescente.
Power and the Palace (Poder e o Palácio, em tradução livre), que será lançado na próxima semana, foi escrito pelo ex-correspondente da família real britânica do jornal The Times e explora a relação complexa entre a realeza e o mundo da política.
Dos drinques servidos nos vagões do trem real até as discussões sobre o orçamento da coroação do rei Charles 3º, confira algumas das histórias mais marcantes do livro.
Rainha se defendeu de agressão sexual
A rainha Camilla se defendeu de um ataque sexual e fez com que o agressor fosse preso.
Segundo Low, o caso aconteceu dentro de um trem a caminho de Londres, em 1960, quando ela ainda era adolescente.
O autor do livro afirma que a rainha contou a história ao ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson em 2008, quando ele era o prefeito de Londres.
O ex-diretor de comunicações de Johnson, Guto Harri, foi quem revelou os detalhes dessa conversa para o jornalista.
“Eu fiz o que minha mãe me ensinou. Eu tirei meus sapatos e bati nas partes íntimas dele com o salto”, teria dito Camilla para Johnson.
De acordo com o livro, Camilla estava “tão firme que quando chegou à estação de Paddington saltou do trem, procurou um funcionário uniformizado e disse: ‘Aquele homem acabou de me atacar.’ O agressor foi preso”.

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O Palácio de Buckingham tem uma política de não comentar alegações em livros.
Mas uma fonte próxima da rainha disse: “Se algo positivo vier dessa publicação, como o fato de que questões mais amplas passem a ser discutidas, que o tema deixe de ser um estigma e que meninas de hoje se sintam empoderadas para agir, buscar ajuda e falar sobre isso, então já será um bom resultado”.
Essa história, sem dúvida, está alinhada com o engajamento da rainha Camilla em campanhas contra a violência doméstica contra mulheres.
Ela já visitou abrigos femininos, desafiou tabus que cercam os casos de violência doméstica e, em uma recepção para o Dia Internacional da Mulher, exibiu pedras que foram lançadas por sufragistas em 1941 para quebrar janelas do Palácio de Buckingham.
O ‘uísque de boa noite’ da realeza
Quando era secretário do Meio Ambiente, em 2018, Michael Gove teria sido convidado para um drinque à noite com o então príncipe de Gales a bordo do trem real — um veículo dedicado a monarcas desde o reinado da rainha Vitória.
O drinque era um uísque Laphroaig, single malt escocês defumado e turfoso, como se estivesse despejando em um copo uma caminhada nostálgica, porém um tanto melancólica, pelas terras altas.
Durante a viagem com o príncipe, Gove foi alertado para não esperar um café da manhã farto na manhã seguinte, já que Charles preferia uma “pequena tigela com frutas e um suco prensado, tipo beterraba e gengibre, ou algo assim”.

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Em 2008, Boris Johnson chegou atrasado para uma reunião com o então príncipe Charles porque havia pegado o metrô de Londres no sentido errado.
Para garantir que não chegaria atrasado ao encontro seguinte, ele foi de bicicleta.
Apesar de o episódio divertir Camilla, relatos indicam que Charles e Johnson tinham uma relação marcada por frieza, incluindo um desentendimento anos mais tarde sobre o plano do governo britânico de enviar pedidos de asilo para serem processados em Ruanda.
Elizabeth 2ª era contra o Brexit
A rainha teve o cuidado de evitar intervenções públicas em assuntos políticos, mas o autor afirma que ela era contra a instabilidade causada pelo Brexit.
Segundo Low, relatos de fontes próximas à família real e de um ministro de alto-escalão, que não foi identificado, contam que a rainha ficou frustrada com a burocracia da União Europeia, mas acreditava que era melhor permanecer no bloco.
A rainha Elizabeth 2ª via a UE como parte do acordo pós-guerra que ela apoiava, segundo fontes citadas no livro.
Há outros vislumbres das relações da rainha com políticos. Ela se dava bem com Harold Wilson e John Major, mas tinha um relacionamento muito tenso com Margaret Thatcher.
A rainha Elizabeth ligou pessoalmente para Tony Blair para parabenizá-lo quando o Acordo da Sexta-Feira Santa foi assinado na Irlanda do Norte, em 1998.
“Pensei: ‘aposto que ela não faz isso com frequência'”, disse Blair, segundo a citação do livro.
Houve outras intervenções inesperadas.
A rainha teria expressado preocupação a ministros de que os cortes na defesa não ameaçassem a Escola de Música de Gaita de Foles e Percussão das Terras Altas do Exército.

“Ele sempre faz isso com você?”
Essa teria sido a pergunta que Charles fez ao então primeiro-ministro Tony Blair, sobre o vice-primeiro-ministro John Prescott.
O autor diz que Prescott era “incomparável quando se tratava de incomodar Charles”.
Dizem que Charles explicou. “Quando ele está sentado à sua frente, ele desliza para baixo no assento com as pernas abertas, a região íntima apontando de forma um tanto ameaçadora, e equilibra a xícara e o pires na barriga. É muito estranho.”
Charles teria pergunto se aquilo seria “um sinal de hostilidade ou inimizade de classe”. Blair disse que não. “Ele simplesmente gosta de tomar chá assim.”
Governo queria um grande espetáculo na coroação
Foi o governo, e não o Palácio, que quis garantir que a coroação do rei Charles 3º, em 2023, fosse um espetáculo bem financiado.
Enquanto a família real se mostrava cautelosa com qualquer ostentação excessiva, em um momento em que muitas pessoas tinham dificuldade para pagar suas contas, as orientações do governo eram claras: não deveria haver cerimônia econômica e o evento deveria ter uma abordagem “maximalista”.
No fim, a coroação custou 72 milhões de libras (cerca de R$ 530 milhões), incluindo 22 milhões de libras destinadas à segurança.

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Disputa acirrada pelo financiamento
O livro ainda revela negociações sobre o financiamento público da realeza quando a subsídio soberano (Sovereign Grant) foi criado em 2012 — e mostra o Palácio como mais astuto em relação ao dinheiro do que seus equivalentes em Westminster.
Quando surgiram preocupações de que a ligação com os lucros do patrimônio da Coroa pudesse ser generosa demais e inflacionar o valor do subsídio anual, Low afirma que o Palácio “jogou duro” e manteve o acordo.
Como a BBC mostrou no início de 2025, houve de fato um aumento significativo ao longo do tempo, com o financiamento público triplicando em termos reais, para pagar os reparos do Palácio de Buckingham.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL