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22 de junho de 2025

Feira de vinhos naturais tem estrela francesa e açaí wine – 21/06/2025 – Passeios

Feira de vinhos naturais tem estrela francesa e açaí wine – 21/06/2025 – Passeios

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“Uva, y nada más”, Mónica Zas, da espanhola Bodegas Cueva, conta qual é o único ingrediente dos vinhos que trouxe para a Naturebas.

A 13ª edição da feira de vinhos que acontece neste sábado (21) e domingo (22) no pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, em São Paulo, preza pela produção natural desse fermentado que costuma chegar às prateleiras do mercado entupido de aditivos químicos.

Ali, não. Quanto mais orgânico, melhor. Uva, e nada mais, como resume Zas, uma entre os cerca de 180 produtores que ofertaram mais de 3.000 vinhos à mostra. Além da farta cartela brasileira, há garrafas de países como Argentina, Bélgica e Eslovênia.

A grande estrela é o francês Jean-Pierre Robinot, pioneiro no ramo e expert “numa coisa bem doida”, como definiu à Folha a idealizadora da feira, Lis Cereja. “Ele aposta em vinhos mais envelhecidos, que guarda em uma ‘cave’ debaixo da montanha”.

Palavras pop no pavilhão: biodinâmico, ancestral, sustentável. Vivian Vitorelli, da gaúcha Casa Viccas, diz que o “vinho das indústrias” usa macetes químicos para alcançar um sabor mais padronizado, como corrigir a acidez do processo de fermentação da uva. “A gente faz o vinho mais limpo possível.” O slogan na placa: “Vinhos sinceros feitos com amor” —até R$ 140 a garrafa.

Nem sempre o consumidor geral se adapta de imediato. Mal comparando, é como o apelo de alimentos ultraprocessados, sobretudo os ricos em gordura e açúcar. É fácil se viciar nessa composição.

Outra sócia da Viccas, Sara Valar diz que se chove muito na região, a acidez da uva pode ser mais elevada, por exemplo. A produção natural não vai apelar à química para uniformizar o sabor. “Não colocamos nada.”

Reeducar o paladar vale para o consumo de vinho também. Sara lembra de uma comparação feita por Lis Cereja, a criadora da Naturebas, entre suco de laranja “de verdade” e o de caixinha. De cara, pode “bater esquisitice”, para quem se habituou com o segundo, provar o primeiro.

Quem vai a esta feira, contudo, quer mais é comprar a bebida com menor intervenção possível. São horas perambulando de estande em estande. Alguns deles têm um balde para o cliente em potencial “descartar” o vinho testado —fazer um bochecho com ele, para senti-lo na boca, e cuspi-lo na sequência. É uma técnica para não se embriagar muito, já que são muitas provas à vista. Há também água aos montes para abrandar a esbórnia alcoólica.

A Florisa Vinhos da Amazônia não fabrica, tecnicamente, vinho, já que não utiliza uva. O produtor Marcos Vieira, do Acre, faz bebidas fermentadas a partir de frutas da região (até R$ 120 cada). Expôs na feira o “cupuaçu wine” e o “açaí wine” —o rótulo traduz vinho para o inglês, de olho na exportação.

Sua amiga Barbara Barros, sommelier, explica que o “mais fresco e ácido” é “uma bomba de cupuaçu no nariz”. Já o de açaí “tem uma nota terrosa, tem mais peso e boca, para usar a linguagem do vinho”.

O dentista Thiago Gimenes, 39, tem um perfil no Instagram onde testa seus dotes como sommelier, o L’Essence do Vin Academy, com 85 seguidores. Está na feira para conhecer mais do nicho naturalíssimo. “Como se fossem vinhos mais crus”, não são “para a maioria das pessoas”, bem distintos de um “Malbec argentino com gosto de madeira” que prevalece no consumo popular, ele compara.

São tantos rótulos novos para conhecer que, se não tomar cuidado, a pessoa passa do ponto da bebedeira. “No final tem uma turminha passando vergonha”, ele diz.

O nome escolhido para a festa de encerramento do evento é simbólico: “Enterro dos Fígados”, no Cineclube Cortina, na noite de domingo. Quem pagou ingresso para o pavilhão da Bienal tem entrada garantida, e aos de fora são cobrados R$ 60.

Nem só de vinho vive a Naturebas. Um giro pela feira também o fará topar com diversos produtos orgânicos, de chá de cacau a queijo artesanal.

A nutricionista Fernanda de Almeida, 40, casada com o sommelier Thiago, parou numa barraca de chocolates gourmet. Provou uma amostra da barra 100% cacau, que achou amarga, para então rebater com uma de sabor pão de mel.

Arcelia Gallardo, dona da Mission Chocolate, mudou-se da Califórnia para o Brasil por querer morar mais perto de produtores de cacau. Ela incorporou a frutaria brasileira à produção: as barras de 60 gramas, R$ 36 cada, vêm em sabores como goiabada, rapadura limão, cupuaçu, arroz doce, rabanada e romeu e julieta.

Daniela Nascimento representa outra marca de chocolates, a Chácaras das Sucupiras, que faz “agricultura biodinâmica”.

É um conceito que “vai além da agricultura orgânica” e “trabalha com ritmos da natureza”, segundo ela. “Considera as forças sutis, a influência da lua, dos planetas, da gravidade”, o que “potencializa a formação dos frutos”, diz. Uma técnica envolvida: pulverizar cristais de quartzo moído nas plantações.

Para quem quer entrar nessa vibração, ainda há tíquetes para o segundo dia da Naturebas, a R$ 239. O freguês ganha uma tacinha para degustação ilimitada.



Fonte.:Folha de São Paulo

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