Há mais de 40 anos, a fertilização in vitro dava o passo inicial de uma longa trajetória de sucesso, com o nascimento do primeiro “bebê de proveta”. Na ocasião, talvez, sequer cientistas e a comunidade médica sabiam plenamente o potencial de uma técnica em desenvolvimento.
Nos últimos dias, um fato surpreendente envolvendo a reprodução assistida chamou atenção mundo afora. No dia 26 de julho, nasceu o pequeno Thaddeus Daniel Pierce, na cidade de London, em Ohio, Estados Unidos.
O que poderia ser mais um dos milhares de casos em que a tecnologia ajuda pais com problemas de fertilidade ganhou os holofotes por um bom motivo.
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Para a técnica de fertilização em laboratório, podem ser utilizados embriões congelados, que são inseridos diretamente no útero. Com Pierce não foi diferente. Para o procedimento, os pais optaram por adotar um embrião, um serviço oferecido por diversas agências nos EUA.
Seguindo os ritos médicos à risca, a família ganhou um novo integrante. Bom, talvez não tão novo assim, considerando que o embrião de Pierce estava congelado há mais de 30 anos.
Isso mesmo. O pequeno já chegou ao mundo batendo um recorde, como o bebê de reprodução assistida “mais velho” do mundo, fruto de embrião gerado em 1994. A história impressionante foi documentada pela revista MIT Technology Review, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
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Quanto tempo um embrião pode permanecer congelado para fertilização in vitro?
Método seguro e eficaz, o congelamento de óvulos, espermatozoides e embriões é uma alternativa para pessoas que ainda não decidiram se querem ou não ter filhos e para aquelas que pretendem adiar uma gravidez.
A busca pela técnica cresce no Brasil. Dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa, mostram que, em 2023, foram congelados mais de 115 mil embriões no país, o que representa um aumento de 32,8% em comparação a 2020, quando foram observados mais de 86 mil.
Evidências científicas indicam que os embriões permanecem saudáveis por mais dez anos. Contudo, por se tratar de um método relativamente recente, são necessários estudos contínuos para, quem sabe um dia, estimar o prazo real de viabilidade da preservação, considerado hoje indefinido.
“O importante é que esse armazenamento seja feito corretamente em nitrogênio líquido, seguindo todas as normas de segurança”, destaca a ginecologista Ana Paula Leal, da Clínica Elsimar Coutinho, especialista em reprodução humana.
Vale destacar que não há um consenso entre os países sobre quanto tempo podem ficar armazenados óvulos, espermatozoides e embriões.
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No Reino Unido, por exemplo, os limites foram aumentados de um máximo de 10 anos para um período renovável por 10 anos, com um teto de 55 anos. Já nos EUA, terra do recordista Pierce, não há um limite estabelecido.
“No Brasil, temos clínicas de reprodução assistida que contam com tecnologia de ponta. Os embriões congelados são armazenados e permanecem viáveis por tempo indeterminado para serem usados”, afirma Leal.
Há riscos para a criança?
Bebês nascidos a partir de fertilização com o uso de embriões de longa data podem apresentar mais problemas de saúde em comparação aos demais. Além do nascimento prematuro e baixo peso, existem evidências de risco maior de desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
No entanto, os impactos não são conclusivos do ponto de vista da ciência, segundo a médica.
“Alguns estudos mostram um maior risco para certos tipos de câncer, como leucemia e tumores do sistema nervoso central, mas isso não é completamente esclarecido. Parecem haver, ainda, alterações genéticas. Essas alterações não parecem estar ligadas ao tempo de armazenamento, e sim pelo fato de ter sido congelado”, pontua a especialista.
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Fonte.:Saúde Abril