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7 de setembro de 2025

Festival de Tiradentes exibe renovação da cozinha mineira – 07/09/2025 – Comida

Festival de Tiradentes exibe renovação da cozinha mineira – 07/09/2025 – Comida

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Debaixo de chuva fina, um grupo de pessoas se aglomerava diante de um palco montado em uma pequena praça em Tiradentes, Minas Gerais, na última sexta-feira de agosto (29).

Poderia ser um show, mas eram o forno a lenha e os aventais brancos que atraíam a atenção de celulares. Ali, a chef Bruna Rezende, do restaurante A Porca Voadora, de Belo Horizonte, preparava uma polenta frita de canjiquinha com curry japonês e molho de tomate em uma das atividades do Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes.

Entre panelas fumegantes e risadas, Rezende brinca que tem “dó de quem não vive as Minas Gerais”. “É uma cozinha formada por mulheres, por quintais, pelo interior, com muitos saberes e modos”, disse. Ao mesmo tempo, ela flerta com os sabores asiáticos.

Bruna é parte de uma geração de chefs mineiros que estudam e se inspiram nas tradições do estado, mas que reinventam pratos com influências garimpadas em diferentes cantos do mundo. É a síntese de “Mineiridade em Movimento”, tema desta edição do festival, que há quase três décadas promove encontros entre a cozinha mineira e outras influências do país e do exterior.

Criado no final dos anos 1990, o evento nasceu da iniciativa municipal de colocar Tiradentes no circuito cultural do turismo, quando a cidade já era tombada pelo Iphan havia seis décadas, mas não recebia a mesma atenção que Ouro Preto ou Mariana. Não à toa, sua primeira edição aconteceu no mesmo período da estreia da Mostra de Cinema, outro marco no calendário local.

Funcionou. Nos dez dias da 28° edição, circularam 75 mil turistas, quase dez vezes a população do município. Mais de 35 mil pratos foram vendidos. Segundo a prefeitura, a rede hoteleira teve 90% de ocupação e mais de R$ 50 milhões foram injetados na economia local.

Apesar do impacto econômico em diversas localidades, são três pontos que concentram o agito, todos próximos. O largo das Forras reuniu palestras, apresentações teatrais e o espaço em que os visitantes põem a mão na massa.

Já os largos do Santíssimo e da Rodoviária reuniram as cozinhas ao vivo, as bancas de pequenos produtores e os estandes dos restaurantes. Os pratos eram, em sua maioria, porções individuais custando entre R$ 40 e R$ 55.

Ficou explícito o destaque para a mineiridade. Dos 15 restaurantes dos estandes, 12 eram de Minas Gerais, onde se encontrava ingredientes como porco, milho, queijo e mandioca.

Um dos pratos, levado por Marcos Lube, do João e Maria Restaurante, era o creme de milho-verde com couve refogada acompanhados de carne suína na lata, o tradicional processo de conservação em banha.

Para o visitante mais abastado, os festins são jantares elegantes que propõem o intercâmbio de dois chefs. Nessa edição, eles aconteceram no Espaço Raízes, antiga fábrica de cal que parece um castelo, com direito a flautista e um pavão no jardim. Os ingressos custavam R$ 660.

António Loureiro, chef do restaurante A Cozinha, de Guimarães, Portugal, assinou o último festim da edição ao lado do belorizontino Caio Soter.

Segundo Loureiro, o processo foi facilitado pelas similaridades linguísticas e gastronômicas. “Acho que a cozinha mineira é parecida com a nossa. Estamos no norte de Portugal e alguns produtos são muito similares, como a couve, o feijão, o arroz, o porco. Tudo o que provei de cozinha tradicional, adorei. Inclusive coisas que ninguém gosta, como jiló”, disse.

Outro evento mais exclusivo foi incluído nesta edição. No “sunset” na Vinícola Trindade, a 25 minutos de carro do Largo das Forras, o chef Paulo Machado, sul-mato-grossense, aproveitou a proximidade para oferecer grilos secos recém-comprados em uma viagem para o México, despertando a curiosidade de parte do público e aversão da outra. Como prato principal, preparou macarrão de comitiva, receita típica da cozinha pantaneira.

Ele destacou a relação entre as cozinhas pantaneira e mineira, colocando-as no contexto das cozinhas caipiras do país. Também reforçou como o estado sudestino se destacou na sua tradição alimentar. “Minas Gerais é exemplo para o Brasil e para o mundo. Há anos eles fazem o que outros lugares que querem preservar a sua cultura e sua gastronomia devem fazer, que é registrar. Desde os anos 70, você tem cozinheiras mineiras publicando suas receitas, e isso é um grande exemplo para mim”, afirmou.

Desde 2009, o Festival de Gastronomia de Tiradentes é organizado pelo Fartura. “É uma plataforma de pesquisa desde a origem do prato. A ideia é fomentar toda a cadeia que existe dentro da gastronomia e elevar nossa cultura alimentar”, explica Carolina Daher, curadora do festival e da organização. “Durante todo o ano, fazemos pesquisas pelo Brasil inteiro. A gente vai atrás dos produtores, entende de onde vem o produto, a importância na cadeia. São essas histórias que a gente vai recolhendo que acabam virando os festivais.”

A partir de Tiradentes, a plataforma passou a preparar vários outros eventos, que ganharam o nome de Festival Fartura. Até 2020, a organização promovia eventos em todas as regiões do país, inclusive em São Paulo. Carolina afirma que a pandemia foi um momento de repensar o modelo. “A gente tem um estado grandioso, então temos muita coisa a fazer em Minas para depois entender qual a hora de voltar para outras partes”.

Em sintonia com o tema do festival, Belo Horizonte recebe o Festival Fartura nos dias 27 e 28 de setembro, e Nova Lima nos dias 11 e 12 de outubro.

Festival Fartura Belo Horizonte – 11ª edição

Mirante Belvedere – av. José Maria Alkimin, s/n, Belvedere. Sábado (27), das 12h às 22h. Domingo (28), das 10h às 20h. Ingr.: grátis via Sympla. @farturabrasil



Fonte.:Folha de São Paulo

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