A vida do pesquisador Henrique Krieger esteve ligada ao desenvolvimento da ciência no país, e seu nome virou sinônimo de qualidade por onde passou. Em mais de 60 anos de carreira, ele se especializou em genética e parasitologia, tendo sido fundamental para a expansão e a consolidação da pesquisa brasileira nessa área.
Nascido em Curitiba em 29 de maio de 1939, Krieger se formou em história natural na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1962. Nesse período, publicou uma dezena de pesquisas científicas que tiveram repercussão internacional, o que lhe rendeu o convite para trabalhar com o professor Newton Ennis Morton, um dos fundadores do campo da epidemiologia genética no mundo.
De 1963 a 1966, Krieger foi assistente de pesquisa e fez doutorado na Universidade do Havaí (EUA) sob a tutela de Morton. Depois resolveu voltar para o Brasil, onde passou a atuar nas áreas de resistência às infecções e genética de populações.
“Eu podia ter ficado nos EUA durante a ditadura, mas voltei por causa da família, porque podia fazer mais coisas aqui do que nos EUA e porque no Havaí não tinha o Corinthians, e eu estava com saudade de ver meu time em campo”, disse ele em 2021 em uma entrevista ao canal Supren no YouTube.
Nos anos seguintes, ele foi professor da Universidade de Brasília, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP) e da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). E em todas elas ajudou a criar e chefiou laboratórios de genética.
Depois, ainda criou o Departamento de Genética do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, onde ficou por seis anos até ser convidado para disputar cargo de professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Krieger era membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências de São Paulo. Ainda foi presidente da Sociedade Latino-Americana de Genética (Alag), membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e recebeu diversos prêmios e condecorações, entre os quais a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2004.
O pesquisador teve uma atuação relevante nos estudos sobre doenças infectocontagiosas na amazônia, especialmente em Rondônia, onde participou de estudos pioneiros sobre malária na década de 1990, e foi coordenador do Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental.
Ele ainda foi professor visitante na Universidade Washington (EUA) e orientador de 32 títulos de mestre e doutor na carreira, além de contribuir com mais de uma centena de trabalhos científicos, publicados em revistas de circulação internacional, além de produzir uma dezena de livros e capítulos.
Krieger era casado com a psicóloga Ester Proveler, que morreu em 2022. Eles tiveram dois filhos: Marco Aurélio Krieger, que foi vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz e morreu de câncer aos 60 anos em abril, e a jornalista Márcia Krieger. O pesquisador morreu em 18 de agosto, aos 86 anos.
Fonte.:Folha de S.Paulo