
Crédito, Benoît Tessier/Reuters
- Author, Lara Gozzi
- Role, Repórter de Europa
O primeiro-ministro francês François Bayrou perdeu o voto de confiança que havia convocado para seu governo.
Em uma sessão extraordinária nesta segunda-feira (8/9), a Assembleia Nacional Francesa votou por 364 votos a 194 para destituí-lo do cargo e derrubar seu governo minoritário.
Bayrou agora precisa apresentar ao presidente Emmanuel Macron a renúncia de seu governo, o que, segundo a imprensa francesa, será feito na terça-feira.
Na França, o primeiro-ministro é o chefe de governo, nomeado pelo presidente e responsável pela governança cotidiana. Ele responde ao parlamento e deve ser aprovado por ele, que também pode votar para destituí-lo do cargo.
Diante do cenário, Macron provavelmente terá que escolher entre nomear um quinto primeiro-ministro em menos de dois anos, ou convocar eleições antecipadas, o que poderia resultar em um parlamento ainda mais hostil.
Macron também tem a opção de convocar uma eleição presidencial – na qual não poderia concorrer, já que seu segundo mandato termina em 2027. Alguns grupos parlamentares têm pedido que ele siga esse caminho, mas ele tem descartado repetidamente a possibilidade de renunciar.
A destituição de Bayrou ocorre em meio a uma crise política e econômica que a França atravessa.
Há muito tempo Bayrou alerta sobre as finanças da França e busca angariar apoio para seu orçamento, que, segundo ele, cobriria um rombo fiscal de 44 bilhões de euros.
Em seu discurso no parlamento, ele afirmou que a França tem “um enorme número de questões” pela frente que exigirão “mudanças profundas” – e listou a alta dívida e a baixa produtividade do país.
Usando uma metáfora para a França como um navio navegando em mares agitados, Bayrou tentou tentando convencer os parlamentares de que a França está afundando em dívidas pesadas.
No início do discurso, ele afirmou que a cada ano a França deve 100 bilhões de euros aos seus credores – o dobro do que produz.
“Nosso país trabalha, pensa que está ficando mais rico, mas, em vez disso, a cada ano fica mais pobre. É uma hemorragia silenciosa, enterrada, invisível e insuportável.”
Ele afirmou ainda que a juventude francesa será vítima da “escravidão” da dívida.
Após o discurso de Bayrou no parlamento, a líder do partido de direita radical Reunião Nacional (RN), Marine Le Pen, afirmou que este dia marca “o fim da agonia de um governo fantasma”.
Sob aplausos, ela culpou políticos de direita e de esquerda como “responsáveis” pelo “colapso” do país.
Le Pen também criticou as forças políticas opostas que se uniram na última eleição como parte de uma estratégia de votação tática para manter seu partido fora do governo, e pediu que os franceses sejam chamados às urnas novamente.

Crédito, Stéphane Mahé/Reuters
Em junho de 2024, diante de uma derrota contundente para seu partido na votação para o Parlamento Europeu, Macron dobrou a aposta e convocou eleições parlamentares antecipadas, que esperava alcançar “uma maioria clara, serena e harmoniosa”.
Em vez disso, resultou em um parlamento dividido e sem maioria, o que dificultou a obtenção do apoio necessário para a aprovação de projetos de lei e do orçamento anual por qualquer primeiro-ministro.
Análise: substituir Bayrou pode ser processo demorado*
É possível que Emmanuel Macron aja rapidamente para nomear um novo primeiro-ministro – certamente é do interesse do país que ele o faça.
Mas questões práticas – e precedentes – sugerem que este pode se tornar um processo demorado.
Macron precisa encontrar um nome suficientemente inquestionável para, pelo menos, parte da oposição parlamentar, para que não seja automaticamente derrubado.
Os dois primeiros-ministros nomeados por ele neste parlamento obscuro – Michel Barnier e François Bayrou – levaram semanas para serem encontrados. O terceiro não será mais fácil.
Enquanto isso, Bayrou provavelmente permanecerá como chefe de governo interino.
Há pressão de alguns setores – notadamente da Reunião Nacional de Marine Le Pen – para uma nova dissolução da Assembleia. Mas também há vozes fortes dizendo que seria uma perda de tempo, porque uma nova votação dificilmente mudaria muita coisa.
Além disso, há também vozes – desta vez da esquerda radical – pedindo a renúncia de Macron à presidência. Mas, conhecendo o caráter do homem, é muito improvável que isso aconteça.
*Por Hugh Schofield, correspondente de Paris
Fonte.:BBC NEWS BRASIL