
Crédito, NOAA/Reuters
- Author, Sarah Keith-Lucas
- Role, Apresentadora do tempo
- Author, Julia Braun
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
A Jamaica se prepara atualmente para a chegada do furacão Melissa, que pode se tornar o mais violento a atingir o país caribenho até hoje, segundo meteorologistas.
O fenômeno apresenta ventos de mais de 280 km/h e já provocou três mortes no país. Outras quatro pessoas morreram no Haiti e na República Dominicana.
O olho do Melissa se encontra atualmente ao sul da Jamaica e a expectativa dos meteorologistas é de que o furacão chegue à ilha até o final desta terça-feira (28/10).
O Melissa, porém, tem se movido lentamente, o que significa que as chuvas e ventos fortes começaram já há alguns dias e podem se estender por ainda mais tempo. Muitos jamaicanos já foram evacuados.
Na segunda-feira (27/10), o Centro Nacional de Furacões dos EUA classificou o fenômeno na categoria 5, o nível máximo na escala de Saffir-Simpson.
“É uma situação assustadora para a Jamaica”, disse o Ministro da Água, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do país, Matthew Samuda, à BBC.
Samuda afirma que 70% da população vive a menos de 5 km do mar. A tempestade afetará diversas áreas baixas, como Kingston, Old Harbour Bay, Rocky Point e St Elizabeth.
Em meio à preparação para o furacão, ele afirma que tem sido difícil convencer as pessoas a procurar abrigos, pois muitos sentem que devem “proteger suas propriedades em vez de preservar suas vidas primeiro”.
“Esperamos ter feito o suficiente em termos de preparação”, diz.
Por que o Melissa pode ser tão destruidor?
Melissa é um furacão particularmente poderoso, grande e de movimento lento. Há vários motivos para isso:
Furacões precisam de águas quentes para se alimentar, e o aumento do calor na superfície do mar tem injetado energia extra no sistema de tempestades. As águas no Caribe Ocidental estão atualmente próximas de 30°C, cerca de dois a três graus Celsius acima da média para a época do ano.
Poucas mudanças na velocidade e direção
Outro fator tem relação com o cisalhamento ou tesoura de vento — como são chamadas as mudanças de velocidade ou direção das correntes.
Os ventos na atmosfera ao redor do furacão Melissa não estão sofrendo muitas mudanças, e essa falta de cisalhamento desempenhou um papel importante em permitir o amplo crescimento do furacão.
Quando o cisalhamento do vento é maior, ele tende a fragmentar as tempestades e permitir que elas enfraqueçam. Mas nessa configuração, o furacão Melissa conseguiu continuar se formando e se fortalecendo por vários dias.
Os “ventos de direção” que impulsionam o furacão são relativamente fracos. Isso significa que o sistema de tempestades está avançando lentamente, a menos de 6,4 km/h.
Assim, o furacão permanece em áreas específicas por longos períodos, produzindo chuvas torrenciais e ventos destrutivos que normalmente passariam mais rápido em outras tempestades.

Crédito, EPA/Shutterstock
Qual o papel do aquecimento global?
A ligação entre as mudanças climáticas induzidas pelo homem e os furacões é complexa.
Embora não se acredite que as mudanças climáticas aumentem o número de tempestades tropicais ou furacões, temperaturas mais altas do ar e do mar podem tornar aqueles que se formam mais intensos, com ventos mais fortes, chuvas mais intensas e maior risco de inundações costeiras.
A frequência de furacões muito intensos como o Melissa está aumentando e continuará a aumentar à medida que o mundo aquece.
Em seu último relatório de avaliação, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que “a proporção de ciclones tropicais de categoria 4–5 provavelmente aumentará globalmente com o aquecimento”.
Um estudo da World Weather Attribution, analisando o furacão Milton no ano passado, constatou que as mudanças climáticas tornaram os ventos 10% mais fortes e as chuvas cerca de 20% a 30% mais intensas.
Portanto, embora a ligação direta entre o furacão Melissa e um ambiente mais quente possa ser estudada após o evento, é provável que ele tenha se tornado mais úmido e com ventos mais fortes devido às mudanças climáticas induzidas pelo homem.
Furacões são recorrentes na Jamaica
Devido à sua localização nas águas tropicais quentes do Caribe Ocidental, tempestades tropicais e furacões são uma ameaça recorrente e anual na Jamaica.
A temporada de furacões vai de junho a novembro, com pico na Jamaica na segunda quinzena de outubro.
Na maioria dos anos, a ilha sente os impactos de duas ou três tempestades tropicais ou furacões, mas é relativamente raro que essas tempestades atinjam diretamente a costa. Apenas três furacões atingiram diretamente a Jamaica desde 1988.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


