O banho é um momento precioso na vida dos brasileiros. Não à toa, algumas pessoas tendem a estender esse raciocínio aos animais de estimação, como cães e gatos, impondo uma frequência de higienização por vezes desnecessária.
Nas redes sociais, vídeos de felinos embaixo d’água despertam as mais variadas emoções em tutores, com discussões acaloradas a favor e contra essa ideia. Pensando nisso, fomos atrás de esclarecimentos para a grande questão: afinal, gato pode tomar banho?
A resposta não é tão simples e depende de uma série de questões. A seguir, vamos destrinchá-las em detalhes.
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Gato pode tomar banho?
Sim, mas só se houver uma real necessidade disso, como explica a médica veterinária Evelynne Marques, conselheira suplente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
“O gato pode tomar banho desde que haja uma indicação terapêutica, para o tratamento de questões dermatológicas, como a infestação por parasitas. Ou seja, quando algum veterinário indicar, os banhos serão bem vindos”, resume Marques.
Em geral, as indicações para uma boa ducha envolvem problemas de pele. Além dos parasitas — como pulgas, piolhos e fungos — outro problema comum são ácaros, que não são vistos a olho nu, mas podem causar coceira e áreas de alopecia, aquelas falhas na pelagem do bichano.
“Para o cuidado, os veterinários vão prescrever tratamentos que podem envolver xampus e outros produtos. Nesses casos, a terapêutica tem duração e quantidade de lavagens previstas e orientadas pelos especialistas. O problema é então resolvido e encerram-se os banhos”, reforça a especialista.
Marques destaca a importância de contar com um veterinário de confiança, para diagnosticar e tratar estas ou outras encrencas que possam prejudicar a saúde animal. Além disso, orienta que os tutores tenham em casa escovas para uso diário.
Fora desta indicação terapêutica, os banhos são desnecessários e são considerados eventos estressantes, devido à sensibilidade aumentada do animal.
O hábito pode até ter consequências negativas, de problemas urinários a alterações de humor, como reclusão, agressividade e comportamento arisco.
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Banho de gato
No ditado popular, a expressão representa aquele pulo ligeiro no chuveiro, sem muito cuidado ou dedicação.
Porém, na prática, ela não faz jus à higienização dos bichanos. Esses animais são bastante asseados, contando com uma característica de limpeza diária e primorosa, suficiente para mantê-los nos trinques.
“O gato tem uma particularidade que é de a autohigienização por meio das lambidas. Ele tem uma língua adaptada para remover as sujeiras, que parece uma pequena lixa, com espículas dotadas de um poder de eliminar qualquer coisa que fique grudada no pelo, incluindo grandes parasitas”, detalha Marques.
E tem mais. Durante esse lambe-lambe, o felino espalha o cheiro da própria saliva pelo corpo. É exatamente isso que confere ao gato a sua identidade. Em casas com dois ou mais gatos, eles utilizam o odor como forma de reconhecimento uns dos outros.
“Em residências com vários gatos, quando um deles é levado para tomar banho e volta com cheirinho de perfume ou xampu, acontece de um animal estranhar o outro, porque ele deixa de reconhecê-lo. Isso gera disputa no território, muito estresse e brigas”, pontua a especialista.
Banhos para os recém-chegados
Em geral, banhos terapêuticos também são recomendados para animais em situação de rua que acabaram de ser adotados. No entanto, antes de colocar o pet embaixo d’água, a primeira tarefa do novo tutor é buscar um veterinário para avaliar as condições de saúde do bichinho.
“É um banho preventivo, e normalmente os veterinários indicam algum produto para eliminar pequenos fungos ou ácaros presentes na pele, além de um check-up de saúde”, acrescenta Marques.
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Meu gato saiu e voltou sujo, e agora?
Para manter seu amigo de quatro patas saudável, é preciso assegurar que ele permaneça em casa. O contato com a rua favorece o contágio por doenças, além de representar um sério risco à vida.
“Não é adequado criar um gato permitindo que ele tenha acesso livre à via pública“, enfatiza Marques. A veterinária explica que a espécie tem como particularidade pequenas fendas nas unhas, que podem armazenar micro-organismos causadores de doenças.
“Eles têm um comportamento natural de afiar as unhas em árvores ou madeiras, de cavar o solo para enterrar os seus dejetos e, desse modo, acabam carregando bactérias e fungos presentes na terra No solo, temos um fungo muito perigoso e endêmico no Brasil chamado Sporothrix, que é o causador da esporotricose“, afirma Marques.
Nas pequenas “fugas” de casa, os meliantes podem ainda entrar em contato com doenças como as versões felinas da imunodeficiência (FIV) e a leucemia (FeLV). Além de enfrentar riscos de contaminação ao procurar alimento em latas de lixo e ao exercer seu comportamento natural de caça, em busca de ratos, morcegos ou pequenos insetos.
“Então não é um banho que vai fazer com que a pessoa tenha a sua segurança da limpeza do gato quando ele voltar pra casa. Muito pelo contrário. Como ele não gosta da situação, pode arranhar e morder o tutor, trazendo problemas ainda maiores”, alerta.
Para os bichanos que costumam circular pelo quintal de casa, é recomendado estabelecer ao menos uma convivência com limites. Por exemplo, o animal pode até entrar em casa, mas deve ter acesso restrito aos quartos, por exemplo, evitando subir em camas.
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Fonte.:Saúde Abril