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20 de novembro de 2025

George Clooney debate paternidade, política e Oscar – 20/11/2025 – Ilustrada

George Clooney debate paternidade, política e Oscar – 20/11/2025 – Ilustrada

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Em uma cena fundamental do novo filme de Noah Baumbach, o agente Ron, personagem de Adam Sandler, diz para seu chefe e melhor amigo, o ator Jay Kelly, interpretado por George Clooney, que desiste de fazer um filme na última hora para ir atrás da filha em uma viagem pela Europa. “Você é Jay Kelly, mas eu sou Jay Kelly também.”

Ele quer dizer que trabalhou tão duro e fez tantos sacrifícios pessoais quanto o ator —logo, tem direito a um voto tão importante quanto o do próprio Jay Kelly naquela decisão unilateral de descumprir um contrato assinado. Ron é contra, quer que seu cliente esteja no set, com suas falas decoradas e o personagem estudado na segunda-feira seguinte.

Mas o ator está em uma crise de meia-idade e, em vez de comprar um conversível vermelho, quer resgatar a proximidade com Daisy, sua filha caçula, papel de Grace Edwards, antes que seja tarde demais. A mais velha, papel de Riley Keough, fruto de um primeiro casamento, já não dá mais a ele nem a chance de se redimir.

Sua única chance é com Daisy, que entrou na faculdade e decide viajar antes de começar o ano letivo. Jay não é mais casado com a mãe de Daisy e hoje gasta seu tempo trabalhando ao lado do agente e de sua assessora de imprensa, Liz, papel de Laura Dern.

Em entrevistas à Folha, Clooney, Sandler e Dern dizem que nunca teriam chegado aonde chegaram sem muita gente nos bastidores. “A gente não faz nada sozinho nesta área. Cinema é uma atividade coletiva, e esta é uma grande parte do que me atrai nessa profissão”, afirma o protagonista.

“Meus pais abriram muitas portas para mim”, diz Dern, filha dos atores Bruce Dern e Diane Ladd, esta morta no início de novembro, aos 89 anos.

“Este é um filme sobre o amor que sentimos pelos nossos filhos, pela nossa família”, afirma Sandler, que achou graça de uma pergunta feita por minhas filhas, Rita e Cecilia, de 12 anos, fãs das comédias do ator —e inconformadas por ele ter feito um trabalho que não é exatamente cômico e no qual ele não é o personagem principal. Por quê?

“Boa pergunta, meninas. Fiz esse filme porque Noah Baumbach é um gênio. Vale a pena conhecer os filmes dele. Além disso, ele convidou minha amiga Laura Dern para estar no elenco e é sempre um prazer trabalhar com gente legal.”

Baumbach é o criador dos ótimos “A Lula e a Baleia”, “Frances Ha“, “Ruído Branco”, “História de um Casamento” e ainda foi corroteirista do blockbuster Barbie“, dirigido por sua mulher, Greta Gerwig, que está no filme como atriz, em um papel secundário.

Tanto Dern quanto Sandler afirmam que o streaming fez uma legião de gente jovem redescobrir trabalhos muito antigos de suas carreiras. “Acabei de fazer ‘Um Maluco no Golfe 2’, continuação de um filme de 1996, que foi redescoberto no streaming”, diz o comediante. “A coisa que me deixa mais feliz é quando um garoto de 14 anos me encontra na rua e diz que viu um filme antigo meu e riu muito. Fico emocionado de saber que aquilo tudo ainda funciona.”

“Desde a morte de David Lynch [em janeiro deste ano], muitos jovens estão descobrindo a obra dele pela primeira vez, e tenho recebido o entusiasmo desse novo público com muita alegria”, diz Dern, que trabalhou com o gênio em “Veludo Azul”, “Coração Selvagem”, “Império dos Sonhos” e na terceira temporada de “Twin Peaks”.

George Clooney, que já tem dois Oscar em seu currículo —um de melhor ator coadjuvante por “Syriana”, filme que ele também dirigiu, e outro como um dos produtores de “Argo”, dirigido por Ben Affleck—, é um dos nomes cotados para uma indicação à estatueta de melhor ator, categoria que deve ser uma das mais acirradas da próxima cerimônia.

Na corrida já estão Leonardo DiCaprio, por “Uma Batalha Após a Outra”, Timothée Chalamet, por “Marty Supreme”, Ethan Hawke, por “Blue Moon”, e Michael B. Jordan, por “Pecadores”. O quinto lugar, segundo os sites de apostas, estaria entre George Clooney e Wagner Moura, por O Agente Secreto“.

Ele dá de ombros quando questionado sobre isso. “Não sou muito fã dessa competição entre atores. Não acho que seja algo necessariamente saudável. Não sei, estou por aí há muito tempo, não é aí que mora meu interesse por esse trabalho.”

Pergunto se ele está sendo sincero quando diz isso, e ele ri. “Sou um ator. Você nunca saberá.” Mas não é irresistível acompanhar as previsões do prêmio mais importante do cinema, do qual você pode sair vencedor? “Tenho 65 anos de idade, consigo resistir à muita coisa”, ele diz.

O que ele não resiste, porém, é falar sobre política. Democrata de carteirinha, partido que perdeu as últimas eleições presidenciais para o republicano Donald Trump, quis saber de Clooney se ele achava que a vitória do novo prefeito de Nova York, Zohran Mamdani, de 34 anos, o primeiro muçulmano socialista e imigrante a ocupar esse cargo, poderia apontar o futuro do partido.

“Não sei dizer. Nova York é uma cidade muito democrata, em um estado muito democrata”, disse o ator. “Também tivemos a vitória de Abigail Spanberger, que é moderada, eleita governadora do estado da Virgínia com uma grande margem. Não sei se existe ‘o futuro’ do Partido Democrata. Esta é uma denominação para muitas pessoas com ideias muito distintas, como um grande guarda-chuva. Vamos ver.”

E o tal do equilíbrio entre o sucesso profissional e o pessoal, o Santo Graal da vida moderna de homens e mulheres que trabalham muito, em posições de grande destaque, dá para ter? “Dá, sim. Mas, olha, é fácil para mim dizer isso porque comecei uma família quando eu tinha 50 anos, não 19. Fica melhor quando você já está mais estabilizado, não tem que batalhar todo dia para colocar comida na mesa. Não é justo eu comentar como se fosse simples, não é. Mas é possível”, afirma.

“E quem quer ter pais e mães presentes o tempo todo, em todas as partidas de futebol, em todos os programas, em todas as reuniões da escola? Isso também pode levar uma criança à terapia mais tarde na vida”.

No filme, o personagem pega sua equipe, seu jatinho particular e sai em busca de sua filha na Europa. A assistente interpretada por Dern faz contato com a mãe da amiga, que vigia a filha pelo sinal do celular e dá o paradeiro de Daisy para a equipe de Kelly.

A menina está numa viagem estilo mochilão e nem conta para as pessoas que é filha do ator famoso. Quando o pai finalmente a encontra, ela está aos beijos com um garoto que acabou de conhecer e a chegada inusitada a faz passar mais vergonha do que qualquer outra coisa.

“A boa notícia para mim é que, quando meu filhos forem velhos o bastante para namorar, eu provavelmente vou estar mascando pão sem dentes e usando um andador. Com um pouco de sorte, nem vou saber o que está acontecendo. Esta é minha esperança”, diz Clooney, pai dos gêmeos Alexander e Ella, de oito anos.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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