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- Author, Max Matza
- Role, Da BBC News
Os legisladores da Califórnia e do Texas — os dois Estados mais populosos dos EUA, que juntos abrigam mais de 70 milhões de americanos — estão no centro de uma intensa batalha política que envolve outros governos estaduais e deve ter um grande impacto no equilíbrio de poder em Washington, D.C.
Depois que o Texas aprovou uma medida de redesenho de distritos que criaria mais cinco cadeiras no Congresso, favorecendo os republicanos, os parlamentares da Califórnia reagiram votando para redesenhar os mapas do Estado — cuidadosamente elaborados para anular a iniciativa do Texas.
O Missouri então entrou em ação, com o governador ordenando o início de uma sessão extraordinária na quarta-feira para que os legisladores pudessem trabalhar no redesenho de um novo mapa, projetado para adicionar mais uma cadeira republicana.
Essa corrida política pelo poder pode parecer bizarra e confusa, mas está se espalhando rapidamente para outros Estados antes das eleições nacionais para o Legislativo em 2026.
A batalha começou no Texas quando o Legislativo local, de maioria republicana, tomou a iniciativa de redefinir as cadeiras do Congresso – em um esforço deliberado para enviar mais republicanos à Câmara dos Deputados em Washington.
O objetivo do Texas era adicionar cinco cadeiras ao Congresso, o que favoreceria os republicanos.
A Califórnia respondeu redesenhando seus próprios distritos para aumentar a representação democrata em cinco cadeiras, em uma tentativa de anular a iniciativa do Texas.
O Missouri é o terceiro Estado a se juntar à luta, que ocorre depois que o presidente Donald Trump pediu às câmaras estaduais leais em todo o país que dividissem seus distritos a fim de manter o controle republicano total do Congresso após a eleição de novembro.
O que é redesenho dos distritos?
A Câmara dos Representantes dos EUA é composta por 435 legisladores eleitos a cada dois anos.
Eles representam distritos com limites determinados em processos estabelecidos por seus governos estaduais. Alguns Estados têm comissões independentes e apartidárias que determinam os distritos, enquanto outros deixam isso a cargo do Legislativo estadual.
Quem traça os limites (e como o faz) pode influenciar significativamente a inclinação ideológica do distrito e a probabilidade de ele eleger um democrata ou um republicano.
No momento, a Câmara está no fio da navalha, com os democratas precisando apenas de mais três cadeiras para virar a Casa a seu favor.
Historicamente, o partido do presidente perde cadeiras nas eleições de meio de mandato após sua vitória.
Se os democratas tomarem a Câmara, poderão iniciar investigações abrangentes sobre as ações presidenciais, como fizeram os democratas na segunda metade do primeiro mandato de Trump e os republicanos nos dois últimos anos de Joe Biden.

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Por que todo mundo está falando sobre os distritos agora?
Cada membro da Câmara dos Representantes dos EUA representa um distrito em seu Estado de origem.
Os distritos são normalmente definidos após o Censo dos EUA, realizado a cada década, para levar em conta as mudanças populacionais dos Estados.
Mas republicanos e democratas agora lutam para redesenhar os mapas no meio da década, seja para ajudar ou bloquear a agenda de Trump.
Ao mudar a composição dos distritos, cada partido espera conquistar mais cadeiras na Câmara.
Trump pediu às casas legislativas controladas pelos republicanos em todo o país que redesenhassem seus distritos para tentar impedir que seu partido perdesse o controle da Câmara nas eleições de meio de mandato de novembro.
Mas a iniciativa no Texas encontrou um obstáculo no início de agosto, depois que os democratas deixaram o Estado na tentativa de impedir o quórum necessário para aprovar a medida republicana de redesenhar os distritos.
Eles retornaram após duas semanas, quando o governador ordenou sua prisão. Após o retorno, a Câmara votou por 88 a 52 para criar cinco novas cadeiras.
A medida foi rapidamente endossada pelo Senado e, em seguida, sancionada pelo governador Greg Abbott.
Democratas e grupos de direitos civis disseram que os novos mapas do Texas diluirão o poder de voto das minorias, violando a Lei Federal de Direitos de Voto, e ameaçaram processar.
Como funciona definição dos mapas?
A manipulação eleitoral (gerrymandering, no termo que se popularizou nos EUA) – a reformulação das fronteiras eleitorais para favorecer um partido político – é praticada por ambos os principais partidos e é legal, a menos que seja considerada motivada por questões raciais.
No entanto, é extremamente incomum que o presidente apoie publicamente o esforço de um Estado para criar vantagem partidária.
Embora Estados dominados por democratas e republicanos tenham enfrentado críticas e batalhas judiciais sobre seus mapas da Câmara, raramente os legisladores reconhecem tão explicitamente a intenção partidária por trás de suas ações.
Os críticos argumentam que o processo permite que os políticos escolham seus eleitores, em vez de os eleitores escolherem seus representantes eleitos.
Isso pode levar a mapas com formatos muito desajeitados, nos quais certos grupos são alocados independentemente de sua proximidade geográfica.
Em 2019, a Suprema Corte retirou o poder dos tribunais de bloquear a manipulação eleitoral.
“Os juízes federais não têm autorização para realocar o poder político entre os dois principais partidos políticos”, escreveu o presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, em sua decisão na época.
Califórnia x Texas
O redesenho dos distritos pode ter implicações significativas nas eleições de meio de mandato de 2026 e se tornou uma questão urgente para os legisladores estaduais.
Illinois, Nova York, Nova Jersey, Nova Hampshire e Maryland estão entre os Estados liderados pelos democratas preparados para lançar medidas em resposta ao plano do Texas.
Indiana, Flórida e Ohio também estão cogitando alterar os distritos para aumentar a representação republicana em Washington.
O Missouri realizará uma sessão extraordinária a partir de 3 de setembro para redesenhar os mapas, que têm como alvo um distrito da área de Kansas City ocupado por um representante democrata.
O governador do Missouri, Mike Kehoe, disse que o novo mapa “garantirá que nossos distritos e a Constituição realmente coloquem os valores do Missouri em primeiro lugar”.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, cujo Estado lidera a campanha democrata, prometeu “combater fogo com fogo”, replicando a tentativa de aumentar as chances de vitória de seu partido.
Mas o redesenho na Califórnia é lento, devido a uma lei de 2008 criada para tornar o processo menos partidário.
Em 21 de agosto, a Câmara da Califórnia votou para que os novos mapas fossem incluídos na cédula eleitoral especial de novembro, para que os eleitores pudessem decidir se deveriam ou não mudar de mapa.
A votação pode ser controversa, já que os eleitores já haviam aprovado um processo que deixa a cargo de uma comissão apartidária a decisão sobre como as linhas de votação devem ser traçadas.
Utah, com quatro distritos controlados por republicanos, recebeu uma ordem de um juiz para redesenhar seus mapas antes das eleições de meio de mandato.
O juiz de Utah decidiu que os legisladores desconsideraram uma regra aprovada pelos eleitores que proíbe políticos “de favorecer ou desfavorecer autoridades eleitas em exercício ou de considerar informações político-partidárias” ao desenhar seus mapas.
A expectativa é que a medida acabe favorecendo os democratas em Salt Lake City, a capital do Estado.
Nova York quer entrar na briga, mas lá o processo leva ainda mais tempo, pois a Constituição estadual precisaria ser alterada.
“Em Nova York, enfrentaremos a insurreição jurídica de Trump de frente”, prometeu a governadora de Nova York, Kathy Hochul.
“Vamos enfrentá-lo no mesmo campo e vencê-lo em seu próprio jogo.”
Segundo especialistas, os Estados onde os republicanos controlam a maior parte do governo podem ter mais facilidade para redesenhar seus mapas.
Os Estados controlados pelos democratas têm mais barreiras legais e constitucionais projetadas para proteger contra a manipulação política.
Vários Estados menores, incluindo Delaware e Vermont, obtêm apenas uma cadeira na Câmara — o que os torna amplamente irrelevantes para a disputa atual.
Mas com tanto em jogo, mesmo esses Estados menores podem acabar entrando na disputa.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL