Gilberto Gil fez, na noite deste domingo (17), seu primeiro show depois da morte de Preta Gil. Ele se apresentou num evento para convidados, em São Paulo. Depois da morte da filha, em 20 de julho, ele adiou datas da turnê “Tempo Rei“, sua despedida dos palcos, que retorna no próximo dia 6 de setembro, em Porto Alegre.
Cantando no Auditório Ibirapuera, Gilberto encerrou a apresentação do SP2B, sigla para São Paulo Beyond Business, grandiosa reunião para discutir economia criativa que vai montar mais de 20 palcos no Parque Ibirapuera, de 9 a 16 de agosto do ano que vem. A presença do cantor pretendeu realçar a interação proposta entre negócios, inovação e música. E, para a plateia, foi uma chance de ver o ídolo enlutado de volta ao palco.
Com a proposta de um show para homenagear São Paulo, Gil abriu a apresentação no banquinho, com o violão, e cantou “Punk da Periferia” e sua citação à Freguesia do Ó.
Ao fim da canção, ficou de pé, agradeceu aos organizadores pela chance de estar ali. Então, ele sentou para “Chiclete com Banana”, de Jackson do Pandeiro. A interpretação foi vigorosa, mas fiel à original.
Ele apresentou os únicos músicos que o acompanhavam, os filhos José, na bateria, e Bem, tocando vários instrumentos. E então introduziu a próxima música, “Ladeira da Preguiça”.
Aí subverteu a homenagem paulistana recorrendo à sua criação que reverencia o Rio de Janeiro, “Aquele Abraço”. O público cantava junto e parecia hipnotizado pelo muito belo e muito tecnológico cenário concebido por Batman Zavareze. Impressionante.
Gil disse então que queria tocar mais sambas para a plateia. E anunciou “um samba com sotaque baiano”, “Andar com Fé”, mais uma para todo mundo cantar junto. Num show de repertório presente na memória afetiva de todos, numa linda embalagem visual, Gil deixou a plateia extasiada. A seguir, uma leitura bem delicada de “Tempo Rei”.
Então o momento esperado, ao dedicar “Drão” para Preta Gil. A plateia acompanhou num silêncio arrepiante. Foi aplaudido de pé. Aí, mais uma para a filha, “Estrela”, porque, segundo Gil, “quando alguém morre, a gente diz para as crianças que ela virou estrela”.
Encaminhando o show de pouco mais de uma hora para o final, Gil cantou “Esotérico”, “Palco”, “No Woman, No Cry”, “Vamos Fugir”, “Maracatu Atômico” e “Toda Menina Baiana”, num grande final de hits.
Ao ver sua força serena no palco, aos 83 anos, fica mais difícil aceitar que ele esteja fazendo pelo Brasil sua turnê final. A vida sem Gil é mais difícil.
O show foi o encerramento do que os organizadores chamaram de “premiere edition” da SP2B. Começou no fim da tarde, com uma conversa entre Rafael Lazarini e Hugh Forrest.
O brasileiro é CEO da empresa DA20, organizadora do SP2B e desde 2018 responsável pela Rio2C, encontro de economia criativa para o público carioca. O executivo americano foi por 35 anos diretor do SXSW, o South by Southwest, festival que reúne música e inovação anualmente em Austin, no Texas. E agora está na equipe do SP2B.
Foi anunciado que o evento paulistano terá painéis, networking e oficinas, além de shows. Cerca de 2.000 palestrantes devem falar a um público esperado de 500 mil pessoas nos oito dias de programação no parque.
Depois da conversa dos executivos e antes da apresentação de Gil, o historiador israelense Yuval Noah Harari fez uma rápida palestra e depois conversou com Pedro Bial sobre os impactos dos avanços da tecnologia na vida das pessoas.
Sua participação incluiu falas sobre Trump, Putin, a crise na Ucrânia e IA, trazendo muito de seu livro “Nexus: Uma Breve História das Redes de Informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial“, lançado no ano passado.
Na plateia, algumas pessoas traziam nas mãos um exemplar de “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, seu best-seller mundial originalmente publicado em 2011, na esperança de conseguir um autógrafo. Não deu certo. Ele correu para pegar um avião.
Fonte.:Folha de S.Paulo