1:43 PM
12 de novembro de 2025

Governo vê tiro no pé da direita em ataque à PF no PL antifacção e celebra recuo de Derrite

Governo vê tiro no pé da direita em ataque à PF no PL antifacção e celebra recuo de Derrite

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do governo Lula (PT) e parlamentares aliados enxergaram como um tiro no pé da direita a tentativa de desidratar as competências da Polícia Federal em relatório inicial apresentado por Guilherme Derrite (PP-SP) ao projeto de lei antifacção, considerada uma das principais apostas do Executivo para a área da segurança pública.

Auxiliares do presidente reconhecem que o governo vinha sofrendo desgastes junto à opinião pública por causa da crise na segurança deflagrada com a operação no Rio de Janeiro no fim de outubro. A decisão de Derrite de incluir no projeto de lei mudanças na competência da PF, no entanto, gerou críticas entre membros do Executivo, representantes da sociedade civil, entidades representativas, juristas e especialistas -dando condições ao Palácio do Planalto de influenciar o debate público nesse tema.

Derrite foi escolhido relator na sexta (7) por decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em um revés para o governo federal. O parlamentar é secretário de Segurança do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como possível adversário de Lula em 2026.

Horas após o anúncio, ele divulgou uma primeira versão de seu parecer com mudanças substanciais ao texto do governo, entre elas a possibilidade de equiparar as facções criminosas a grupos terroristas e o esvaziamento das competências da PF no combate ao crime organizado.

Com isso, o governo centrou esforços em apontar o que consideraram como problemas do relatório de Derrite e passaram a associar o parecer à PEC (proposta de emenda à Constituição) da Blindagem, que foi aprovada na Câmara e enterrada pelo Senado após grande pressão da opinião pública.

O Planalto orientou integrantes do governo e escalou porta-vozes a se posicionarem contra o texto de Derrite. Além disso, vídeos explicativos foram feitos pela Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência e divulgados nas redes sociais. Segundo um governista, a defesa da PF é um tema que encontra respaldo na população e de fácil compreensão.

A avaliação de governistas é que se o relator tivesse apostado apenas no endurecimento de penas e na equiparação de terrorismo às organizações criminosas, haveria grandes chances de o Planalto perder a disputa política e ser derrotado em plenário, em novo revés para o governo.

Além disso, eles avaliaram que a escolha de Motta por Derrite relator e posteriormente o texto do deputado com essas distorções deram munição para que o governo retomasse o discurso “nós contra eles”, que vinha sendo usado pelo Planalto nos embates com o Congresso para defender a agenda de justiça tributária.

Vídeos apócrifos feitos com inteligência artificial e críticos ao texto de Derrite passaram a circular nas redes. Em um deles, quatro homens que estão comendo lagostas e bebendo vinho, celebram a escolha de Motta e o relatório apresentado, afirmando que, caso fosse aprovado, “a PF não vai mais tocar em nada de nossos amigos e financiadores: deputados, senadores, empresários, todos protegidos e blindados”.

“É simples, a gente tira o PL do governo e bota o do Derrete no lugar: assim a PF sai do jogo, problema resolvido”, diz o vídeo.

Na tarde desta terça-feira (11), Derrite recuou nos dois pontos considerados problemáticos pelo Palácio do Planalto, inclusive o papel da PF, após a repercussão pública negativa. O anúncio da mudança foi feito ao lado de Motta e celebrado por governistas.

Questionado pela Folha se as alterações atendiam ao governo, Derrite afirmou que atendiam a população e que não foi procurado pela gestão petista. “Isso não é recuo, isso é estratégia”, disse.

Até mesmo aliados de Motta reconheceram que foi uma escolha arriscada indicar Derrite como relator do projeto, mas dizem que foi necessário para que o presidente da Câmara demonstrasse independência -num momento em que ele vinha se aproximando do Planalto e sendo criticado internamente por esse movimento.

Um interlocutor próximo do deputado diz que ele se opôs à decisão de Derrite de alterar as competências da PF e que partiu de Motta o movimento para que o parlamentar revisse esse ponto. Publicamente, no entanto, os dois classificaram como “narrativas” afirmações de que a corporação seria tolhida.

Além disso, esse interlocutor diz que Motta se colocou como mediador da situação, fazendo a interlocução entre Derrite e integrantes do governo, como o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Há uma avaliação entre aliados de Lula e auxiliares do presidente da República de que, na atual situação, o governo saiu vencedor nessa disputa política, conseguindo frear os desgastes que vinha sofrendo e influenciar no debate público. Eles afirmam que o recuo de Derrite também tem consequências na imagem de Tarcísio e até mesmo entre integrantes do Congresso Nacional.

Apesar disso, governistas pregam cautela e dizem ser preciso acompanhar a votação do projeto, prevista para esta quarta-feira (12). Isso porque a oposição deverá tentar alterar o texto para equiparar terrorismo e facções criminosas.

Aliados de Motta reconhecem desgaste na imagem dele, mas dizem que, ao final, se o texto for aprovado, o presidente da Câmara vai incorporar a medida ao seu legado à frente da Casa. E que o debate entre parlamentares em torno de um texto é natural e faz parte do processo legislativo.

Derrite, por sua vez, apesar das críticas, ampliou a sua exposição pública, num momento em que ele é lembrado como candidato ao Senado ou ao Governo de São Paulo no ano que vem. O secretário foi defendido por Motta e líderes de partidos como PP e MDB como uma pessoa técnica, que não usou o projeto como palanque -visão oposta do governo, que vê a tramitação do texto contaminada pelas urnas.

Nesta terça, durante entrevista à imprensa, o presidente da Câmara e Derrite estavam acompanhados de líderes partidários e deputados de siglas como PL, PP, PSDB, PDT, Novo, União Brasil e Solidariedade. A ideia era mostrar respaldo dos deputados e legendas.

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Fonte. Noticias ao minuto

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