
Crédito, Getty Images
- Author, Graeme Baker, Helen Sullivan, Bernd Debusmann Jr e Max Matza
- Role, BBC News
O dilema sobre se os Estados Unidos devem se juntar a Israel no ataque ao Irã ou ficar fora da ofensiva expôs as divisões entre os partidários do presidente americano, Donald Trump.
“Talvez eu faça isso, talvez não”, afirmou o republicano na quarta-feira (18/6) sobre se os EUA participariam do conflito atacando as instalações nucleares iranianas.
Trump teria aprovado planos para atacar o Irã, mas ainda não tomou uma decisão final sobre se de fato vai atacar o país, de acordo com a rede CBS, parceira da BBC nos EUA.
O presidente dos EUA teria adiado a decisão sobre um ataque devido a uma eventual possibilidade de o Irã concordar em abandonar seu programa nuclear, disse uma fonte sênior de inteligência à CBS.
Segundo a reportagem, Trump estaria considerando um ataque americano a Fordo, uma instalação subterrânea de enriquecimento de urânio no Irã.
Ele rejeitou na quarta-feira a exigência de Trump por rendição incondicional e disse que “a nação iraniana não se renderá”.
Na campanha eleitoral, Trump criticou com frequência as “guerras estúpidas e intermináveis” no Oriente Médio, mas também afirmou que o Irã “não pode ter uma arma nuclear“.
A possibilidade de que ele possa arrastar os EUA para um conflito estrangeiro colocou as alas isolacionista e belicistas do seu partido uma contra a outra.
Entre as pessoas que manifestaram dúvidas sobre os planos nucleares do Irã, está a diretora de Inteligência Nacional de Trump, Tulsi Gabbard, que em março testemunhou perante o Congresso que, embora o urânio enriquecido do Irã estivesse no nível mais alto de todos os tempos, os especialistas não acreditavam que o país estivesse trabalhando em uma arma nuclear.
Em 10 de junho — apenas três dias antes do início dos ataques israelenses contra o Irã —, Gabbard também postou um vídeo no qual advertia que a “elite política e os belicistas” estavam “fomentando negligentemente o medo e as tensões”, o que poderia colocar o mundo “à beira da aniquilação nuclear”.
O vídeo e os comentários anteriores de Gabbard teriam aberto uma cisão entre a diretora de inteligência e Trump, que, segundo o veículo de notícias americano Politico, teria “ficado furioso” com o vídeo.
“Não me importa o que ela disse”, afirmou Trump a jornalistas quando perguntado sobre os comentários anteriores de Gabbard perante o Congresso. “Acho que eles estavam muito perto de ter uma arma”.
Mais tarde, ela acusou a mídia de tirar seus comentários de contexto, dizendo à rede CNN que estava “alinhada” com Trump.
Gabbard não foi a única entre os republicanos a criticar o possível envolvimento dos EUA no conflito.
Na terça-feira (17/6), o congressista conservador republicano Thomas Massie, do Kentucky, se uniu aos democratas para apresentar um projeto de lei que impediria Trump de envolver as forças americanas em “hostilidades não autorizadas” com o Irã sem a aprovação do Congresso.
“Esta guerra não é nossa. Mesmo que fosse, o Congresso precisa decidir essas questões de acordo com a nossa Constituição”, postou Massie no X (antigo Twitter).
Vários defensores da doutrina America First de Trump destacaram que ele prometeu manter os EUA fora de “guerras eternas”, como as que levaram à morte de milhares de soldados americanos no Afeganistão e no Iraque.
O ex-apresentador da rede Fox News, Tucker Carlson, pediu que os EUA fiquem fora do conflito com o Irã.
Em seu podcast, ele fez duras críticas aos “belicistas” republicanos, provocando uma reprimenda por parte de Trump, que chamou Carlson de “excêntrico”.
A congressista da Geórgia Marjorie Taylor Greene, fiel escudeira de Trump, saiu em defesa de Carlson em um rompimento bastante incomum com o presidente.
Ela disse que qualquer pessoa que apoiasse tal intervenção não era America First.

Crédito, Reuters
A tensão aumentou diante de uma discussão acalorada na terça-feira, durante uma entrevista entre Carlson e o senador Ted Cruz, da ala belicista, do Texas. Cruz ficou na defensiva quando questionado se conhecia a população e a composição étnica do Irã.
Carlson afirmou: “Você é um senador que está pedindo a derrubada do governo, e não sabe nada sobre o país!”
Cruz retrucou: “Não, você que não sabe nada sobre o país!”
Steve Bannon, ex-estrategista político de Trump, argumentou no podcast de Carlson que permitir que o “Estado profundo” leve os EUA a uma guerra com o Irã “explodiria” a coalizão de apoiadores de Trump.
“Se formos arrastados para essa guerra, o que inexoravelmente parece que vai acontecer no lado do combate, isso não apenas vai destruir a coalizão, como também vai frustrar a coisa mais importante, que é a deportação dos invasores estrangeiros ilegais que estão aqui”, ele disse.
Na quarta-feira, no entanto, Bannon pareceu suavizar um pouco seu tom, dizendo aos participantes de um evento do Christian Science Monitor que a ala MAGA de seus apoiadores confiaria em seu julgamento se ele decidisse enviar forças dos EUA para o conflito.
“Talvez a gente odeie a ideia, mas, sabe como é, vamos apoiar”, declarou.
Outro analista político conservador, Charlie Kirk — que se descreve como mais próximo do lado “isolacionista” do debate — disse no X que Trump é “pragmático” e valoriza o “bom senso”.
“Não sei se o presidente Trump vai escolher envolver os EUA contra o Irã”, escreveu Kirk. “Mas ele é um homem em quem confio para tomar essa decisão.”
O senador Mitch McConnell, do Kentucky, disse que “foi uma semana meio ruim para os isolacionistas” do partido.
“O que está acontecendo aqui é que parte do movimento isolacionista liderado por Tucker Carlson e Steve Bannon está preocupada que a gente possa estar ajudando os israelenses a derrotar os iranianos”, afirmou McConnell à CNN.
Outros belicistas do partido estão incitando Trump a atacar o Irã.
O senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, disse que era do interesse da segurança nacional dos EUA impedir que o Irã obtivesse uma bomba nuclear. Teerã afirma que seu programa nuclear é para fins pacíficos e civis, como geração de energia.
“O presidente Trump entende a ameaça que o aiatolá [líder supremo do Irã, Ali Khamenei] representa para nós, não apenas para Israel, e que ele, no fim das contas, vai ajudar Israel a terminar o trabalho”, afirmou Graham à Fox News.
O vice-presidente J.D. Vance, buscando unir as partes, declarou em uma postagem nas redes sociais que Trump “pode decidir que precisa tomar mais medidas para acabar com o enriquecimento de urânio do Irã”.
“Essa decisão, em última instância, cabe ao presidente”, acrescentou. “E, é claro, as pessoas têm razão em se preocupar com o envolvimento no exterior após os últimos 25 anos de política externa estúpida.”
Uma pesquisa de opinião realizada nos últimos dias indica que os eleitores de Trump apoiariam amplamente os EUA na ajuda a Israel para atacar o Irã.
O levantamento da Gray House constatou que 79% dos entrevistados apoiariam que os EUA fornecessem armas ofensivas para Israel atacar alvos militares iranianos. Cerca de 89% estavam preocupados com a possibilidade de o Irã obter bombas atômicas.
Na plataforma Truth Social de Trump, no entanto, muitos manifestaram preocupação com a possibilidade de os EUA se verem novamente envolvidos em um conflito no Oriente Médio a milhares de quilômetros de distância.
“Nada de guerra com o Irã. Chega de guerras estrangeiras”, escreveu um usuário. “EUA em primeiro lugar!”
Outro usuário alertou que o envolvimento dos EUA nas operações israelenses poderia custar caro politicamente aos republicanos nos próximos anos.
“Não faça isso”, escreveu o usuário. “Os republicanos nunca mais vão vencer se você fizer isso.”
Enquanto fazia campanha para a Casa Branca em setembro, Trump disse: “Vamos restaurar rapidamente a estabilidade no Oriente Médio. E devolveremos a paz ao mundo”.
À medida que o conflito entre Irã e Israel avança, a pergunta se o presidente dos EUA é um isolacionista ou um intervencionista deve ser respondida mais cedo ou mais tarde.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL