
Crédito, Alex Wong/Getty Images
- Author, José Carlos Cueto
- Role, Correspondente de BBC News Mundo na Colômbia
- X, @josecarloscueto
- Reporting from Bogotá, Colombia
Em mais um episódio na escalada de tensão entre Estados Unidos e Colômbia, o presidente americano, Donald Trump, anunciou neste domingo (19/10) a suspensão de “subsídios e pagamentos” ao país e ameaçou o governo de Gustavo Petro.
Por meio de sua rede social, a Truth Social, o republicano afirmou que, caso o presidente colombiano não colocasse fim ao que ele chamou de “campos de extermínio” derivados da produção de drogas, “os EUA os fechariam para ele”, e “não de forma gentil”.
“(Petro) é um traficante de drogas ilegais, incentivando fortemente a produção massiva de drogas, em campos grandes e pequenos, em toda a Colômbia. Esse se tornou, de longe, o principal negócio da Colômbia, e Petro não faz nada para impedi-lo, apesar dos pagamentos e subsídios em larga escala dos EUA, que nada mais são do que uma fraude de longo prazo”, escreveu Trump, sem apresentar evidências para sua acusação.
Petro respondeu, em um post no X, afirmando que o presidente americano estaria sendo “enganado por seus assessores”.
“Recomendo que Trump observe a Colômbia com atenção e determine de que lado estão os narcotraficantes e de que lado estão os democratas”, diz o texto.
A troca de farpas aconteceu após Petro acusar Washington, no sábado, de violar a soberania colombiana e supostamente matar um pescador colombiano durante um ataque realizado em setembro contra uma embarcação em águas territoriais colombianas.
Também no sábado, Washington repatriou para seus respectivos países um colombiano e um equatoriano, sobreviventes de outro ataque realizado esta semana contra um barco perto da costa sul-americana.
Os EUA afirmam que as operações militares conduzidas no Caribe nas últimas semanas têm representado um golpe decisivo contra o narcotráfico, mas não apresentaram evidências de que os pelo menos 27 mortos nos ataques sejam traficantes.
A Casa Branca abriu caminho para a suspensão de milhões de dólares em ajuda militar à Colômbia em setembro, quando os EUA retiraram a certificação do país de “aliado antidrogas”. A interrupção é a primeira em três décadas.
Ataque a embarcação colombiana
Durante semanas, Petro vinha fazendo denúncias de que pelo menos um dos múltiplos ataques americanos a barcos no Caribe havia sido contra uma embarcação colombiana com colombianos a bordo.
Até este fim de semana, o presidente afirmava se basear em “indícios” para sustentar sua alegação.
Na tarde de sábado, contudo, fez referência a uma reportagem publicada pela agência de notícias estatal RTVC que afirmava que um pescador colombiano chamado Alejandro Carranza seria uma das vítimas de uma operação americana contra um barco há cerca de um mês.
“O barco atacado em 16 de setembro era colombiano. Estava à deriva e com o sinal de socorro ligado devido a uma falha no motor quando foi atingido. Presumivelmente, estava em águas colombianas. A pessoa ali presente era um pescador de longa data: Alejandro Carranza, que não voltou para casa”, disse o presidente colombiano no X.
“Alertem a Procuradoria-Geral da República. Peço que ajam imediatamente”, acrescentou.
O tom se intensificou em outra publicação: “Funcionários do governo dos EUA cometeram assassinato e violaram nossa soberania em águas territoriais (…) Aguardamos explicações do governo dos EUA.”
A resposta americana, por enquanto, veio com o forte alerta de Trump e a suspensão da ajuda financeira à Colômbia.

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O que se sabe sobre os dois repatriados
Também no sábado, Petro confirmou a chegada de um colombiano repatriado pelos EUA. O homem seria um sobrevivente de outro ataque contra uma tripulação nesta semana, que resultou na morte de duas pessoas.
Um cidadão equatoriano que estava na embarcação e sobreviveu também foi repatriado.
“Foi uma grande honra destruir um grande narcosubmarino com drogas que navegava em direção aos EUA em uma conhecida rota de tráfico de drogas”, disse Trump em sua plataforma Truth Social, acrescentando que a embarcação transportava fentanil e outros narcóticos.
“Dois dos terroristas foram eliminados. Os dois terroristas sobreviventes estão sendo devolvidos aos seus países de origem, Equador e Colômbia, para detenção e julgamento”, acrescentou o republicano.
Horas depois, o ministro do Interior colombiano, Armando Benedetti, identificou o colombiano como Jeison Obando Pérez, de 34 anos.
“O colombiano repatriado pelos Estados Unidos, que estava em um dos submarinos atacados no Caribe, já está no país recebendo atendimento médico e, assim que sair da sedação, será processado por tráfico de drogas”, anunciou Benedetti no X.
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Especialistas em direito internacional questionam a legalidade dos ataques com vítimas letais conduzidos pelos EUA no Caribe, inclusive aqueles em que foi confirmado que as vítimas eram traficantes.
Desde setembro, pelo menos seis embarcações, a maioria lanchas, foram atacadas pelos EUA em águas caribenhas, sendo a Venezuela a suposta origem de algumas das tripulações.
A tensão entre Trump e Petro
Petro é um forte crítico da mobilização militar americana no Caribe e das políticas de Trump.
No final de setembro, ele teve o visto revogado após se envolver em “ações imprudentes e incendiárias” durante um protesto pró-palestino em Nova York.
No início daquele mês, Washington removeu a Colômbia de sua lista de nações aliadas no combate ao narcotráfico, mas emitiu uma isenção para manter o subsídio financeiro ao país, pago aos parceiros no programa de luta antidrogas, citando interesses nacionais vitais.
Durante décadas, os EUA aportaram dezenas de milhões na Colômbia, um fluxo que pode ser interrompido com o anúncio feito por Trump neste domingo, dado sem muitos detalhes.

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A relação entre a Colômbia e os EUA, considerada por Washington como a mais estratégica na América Latina na área de segurança, deteriorou-se sob as gestões de Petro e Trump.
Os dois presidentes têm visões políticas bastante divergentes, que com frequência entram em choque.
Em janeiro, logo após a posse de Trump, os dois países se ameaçaram mutuamente com a possibilidade de uma guerra comercial por conta dos voos de deportação que os EUA vinham realizando como parte da política de repressão à imigração do presidente americano.
Em julho, Washington convocou seu encarregado de negócios em Bogotá, John McNamara, para consultas, ao que a Colômbia respondeu chamando de volta seu embaixador nos EUA, Daniel García Peña.
Alguns analistas interpretaram o episódio como um possível preâmbulo para um rompimento de relações diplomáticas que, embora ainda não concretizado, dá sinais de que pode estar em curso.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL