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7 de julho de 2025

Há uma luta de classes, e os ricos estão ganhando – 07/07/2025 – Camila Rocha

Há uma luta de classes, e os ricos estão ganhando – 07/07/2025 – Camila Rocha

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Warren Buffett é o quinto homem mais rico do mundo. Sua fortuna é estimada em US$ 166 bilhões, quase R$ 1 trilhão. No dia 26 de novembro de 2006, o escritor e comentarista político Ben Stein escreveu uma coluna para o The New York Times sobre uma conversa que teve com Buffett sobre algo que preocupava o bilionário: o sistema tributário.

Nos Estados Unidos, há um sistema progressivo de taxação. As faixas variam de 10% a 37%. Em 2025, por exemplo, quem ganhar até pouco menos de US$ 12 mil anuais irá pagar 10%. Quem ganhar mais de US$ 626 mil anuais está na faixa mais alta de contribuição, 37%.

A despeito do sistema progressivo de taxação, naquele ano, Buffet, com uma renda gigantesca proveniente de dividendos e ganhos de capital, pagou muito menos imposto do que qualquer outra pessoa em seu escritório. Buffett não fazia nenhum tipo de planejamento tributário, simplesmente pagava o que o Código da Receita Federal exigia. “Como isso pode ser justo?”, perguntou Buffett.

Stein concordou, mas disse que sempre que alguém tentava levantar a questão era acusado de fomentar uma luta de classes. Buffett então respondeu: “Há uma luta de classes, sim. Mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e estamos ganhando”.

Há um mês, em uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, a deputada federal Tabata Amaral (PSB), afirmou que, a despeito da coragem do governo em propor a taxação dos mais ricos, a proposta ainda é injusta. Em sua visão, “o governo não foi tão ousado como deveria”.

E se perguntou: “Quem recebe R$ 1 milhão por mês vai pagar 10% de imposto e quem recebe R$ 10 mil, R$ 20 mil, vai pagar 27,5% de imposto? O país mais capitalista do mundo cobra mais impostos dos super-ricos do que a gente, Estados Unidos da América”.

Curiosamente, os tais 10% da faixa proposta aos super-ricos brasileiros corresponde justamente à faixa mais baixa dos contribuintes norte-americanos. Ou seja, se nos Estados Unidos os ricos estão ganhando a luta de classes, no Brasil há um verdadeiro massacre.

Em uma das melhores passagens do livro “A Boba da Corte” (2025), Tati Bernardi revela a primeira vez que se deu conta de quem são e como vivem os super-ricos brasileiros. Quando era estagiária de uma das principais agências de propaganda do país, ela foi “desconvidada” para o aniversário de um dos redatores, em um restaurante caro.

Porém, quando perguntou porque todos os estagiários, menos ela, foram convidados, o redator sorriu e disse: “Os estagiários dessa agência são mais ricos que o presidente. Todos são filhos de clientes. Nunca reparou naqueles carros pretos parados na garagem? São os seguranças dos estagiários”.

No fim do mês passado, o Cannes Lions, festival de criatividade mais importante do mundo, cassou o grande prêmio conquistado pela agência DM9 neste ano. O motivo da “despremiação” foi o uso de inteligência artificial para apresentar informações imprecisas ao júri.

Alguém poderia dar o tal prêmio para a campanha “Hugo nem se importa”. Pelo menos, ao contrário da DM9, a inteligência artificial foi usada para apresentar informações precisas à população brasileira.


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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