Hemorroidas não são veias doentes que surgem do nada. Todos nós temos pequenas “almofadas” de tecido e vasos no canal anal que ajudam a vedar melhor a saída das fezes e dos gases.
Elas se tornam um problema quando inflamam, sangram, coçam, doem ou saem para fora (prolapso). As internas ficam numa parte menos sensível do canal anal e tendem a sangrar; as externas estão numa área muito sensível da pele e, por isso, doem mais quando formam um coágulo.
Para organizar o raciocínio, usamos uma classificação que vai do grau I ao IV, conforme a intensidade do prolapso — o que ajuda a escolher o melhor tratamento.
+Leia também: Hemorroida: conheça 5 causas para o problema
Quem pode ter hemorroidas e quais são os principais fatores de risco
É difícil definir números exatos, mas estudos sugerem que grande parte dos adultos terá algum grau de hemorroida, especialmente entre 40 e 60 anos de idade. O que mais contribui para o risco?
- Forçar para evacuar;
- Fezes ressecadas;
- Ficar muito tempo sentado no vaso;
- Constipação;
- Diarreias frequentes;
- Gravidez e pós-parto.
Pouca fibra na alimentação piora o quadro. Já o sedentarismo e o número de gestações têm relação menos clara. Resumindo: o hábito intestinal e a consistência das fezes fazem toda a diferença.
Sintomas mais comuns das hemorroidas
O sintoma mais comum é o sangramento vermelho vivo ao evacuar, aparecendo no papel higiênico ou pingando no vaso. Também pode haver coceira, sensação de nódulo que sai e volta, secreção e desconforto.
Dor intensa costuma indicar trombose hemorroidária externa (um coágulo na hemorroida) ou outra complicação. Vale lembrar: outras doenças do intestino também podem causar sangramento. Portanto, o exame médico é fundamental para o diagnóstico correto.
Como o médico confirma o diagnóstico
O diagnóstico é feito na consulta, por meio de conversa sobre os sintomas e exame da região, incluindo o toque retal. A colonoscopia é indicada apenas em casos de sinais de alerta — como anemia, perda de peso ou alteração recente do hábito intestinal —, na investigação para câncer, ou quando o sangramento persiste sem causa clara no ânus.
Tratamentos iniciais sem cirurgia
Na maioria dos casos, o tratamento começa sem cirurgia. O básico funciona para muitos:
- Consumir de 25 a 35 gramas de fibras por dia (alimentos e suplementos);
- Beber bastante água;
- Atender ao desejo de evacuar sem adiar;
- Não fazer força;
- Permanecer pouco tempo no vaso sanitário
Se necessário, usam-se laxativos ou amaciantes de fezes. Essa combinação reduz sangramento, coceira e prolapso leve, sendo a base para qualquer outra etapa.
Quando a cirurgia é necessária
Em casos de doença volumosa com prolapso (graus III volumosos e IV), excesso de pele externa ou falhas repetidas com tratamentos no consultório, a hemorroidectomia, que retira o tecido doente e corrige o prolapso, oferece maior durabilidade no controle dos sintomas.
A ferida pode ser deixada aberta (técnica de Milligan–Morgan) ou fechada com pontos (Ferguson). A principal diferença está na dor dos primeiros dias, não no resultado final.
Em relação à cirurgia com grampeador (que reposiciona a mucosa), a técnica tradicional leva a menos recidiva em longo prazo, mas costuma causar mais dor inicialmente.
Novas tecnologias na cirurgia das hemorroidas
A escolha do instrumento de corte — seja lâmina, bisturi elétrico, dispositivos de energia, ultrassônico ou laser — depende da experiência do cirurgião. Todas são eficazes, mas podem influenciar o conforto no início da recuperação e o tempo de cirurgia. O resultado duradouro depende mais da correta indicação e execução da técnica.
- Lâmina fria (bisturi tradicional): corta com precisão e baixo custo. O controle do sangramento é feito com pontos ou cauterizações. Normalmente, pode haver um pouco mais de sangramento durante a cirurgia e duração ligeiramente maior do procedimento, sem diferença em relação ao resultado final;
- Bisturi elétrico e seladores vasculares: cortam e coagulan com calor ao mesmo tempo. Podem encurtar o tempo operatório, reduzir o sangramento e, em alguns estudos, diminuir a dor inicial, mas sem impacto consistente em complicações tardias ou recidiva;
- Ultrassônico: corta e coagula por vibração, gerando menos calor nos tecidos ao redor. Apresenta menos dor no início da recuperação e retorno um pouco mais rápido às atividades, com eficácia final semelhante ao bisturi elétrico;
- Laser: pode ser usado como “faca” na cirurgia clássica, com desempenho similar ao de outros aparelhos. Na hemorroidoplastia a laser, não se retira a hemorroida, mas sim encolhe-se o tecido por dentro, promovendo recuperação mais rápida e menos dor, embora a chance de retorno varie conforme o tipo e a técnica utilizada.
Trombose hemorroidária externa: o que fazer?
Quando surge um coágulo numa hemorroida externa, a dor costuma ser intensa e de início súbito.
Se o problema tiver menos de 48 a 72 horas, retirar o coágulo com anestesia local proporciona alívio rápido e prolonga o tempo até uma nova crise em relação ao uso apenas de remédios e banhos de assento.
Após esse período, muitos casos melhoram espontaneamente em poucos dias, e o tratamento clínico é suficiente.
+Leia também: De hemorroida a fissura: quando o problema é mais embaixo
Cuidados no pós-operatório
Com rotinas modernas de recuperação, a experiência após a cirurgia tende a ser mais confortável: uso programado de analgésicos comuns (dipirona, paracetamol, anti-inflamatórios, deixando opioide só em casos especiais), laxantes desde o primeiro dia, muita fibra e hidratação, banhos de assento e deambulação precoce.
Essas medidas reduzem dor, náusea e tempo de internação. Em alguns protocolos, o uso de antibióticos tópicos ou orais pode ajudar, a critério do médico. Procure atendimento se houver febre, aumento inesperado de dor, sangramento intenso, retenção urinária importante ou saída de pus.
Por que as hemorroidas podem voltar?
Os procedimentos feitos em consultório apresentam maior chance de retorno dos sintomas e podem exigir novas sessões. A cirurgia excisional, quando bem indicada, tende a proporcionar um controle mais duradouro nas hemorroidas que saem para fora.
Resumo: o que realmente faz diferença
Não existe segredo: fezes macias e bem formadas, não fazer força e não permanecer muito tempo no vaso são essenciais.
Para muitos, só isso basta para controlar o problema. Para os demais, há opções seguras — do consultório ao centro cirúrgico —, capazes de devolver conforto e qualidade de vida, sempre com expectativas realistas.
Antonio Couceiro Lopes é cirurgião do aparelho digestivo e membro da Brazil Health
Conteúdo educativo; não substitui consulta. Sangramento persistente, anemia, dor intensa, febre, emagrecimento ou alteração recente do hábito intestinal exigem avaliação médica.
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
Compartilhe essa matéria via:
Fonte.:Saúde Abril