A respeito de cinema, falei outro dia (20) de Charles Chaplin, gênio por boa parte do século 20 e depois ignorado pelos críticos e historiadores. É o contrário, vejo agora, do que aconteceu com seu colega, patrício (ambos britânicos) e contemporâneo Alfred Hitchcock —tido pelos críticos americanos durante toda a sua carreira como um brincalhão, no máximo um virtuose da câmera, não um cineasta sério. Custaram a “descobri-lo” e, mesmo assim, graças à revista Cahiers du Cinéma, que sempre viu em Hitch a essência do cinema. A reabilitação final só se deu em 2012, com a eleição de “Um Corpo Que Cai” (1958) como o maior filme da história, numa enquete mundial com maioria americana.
A bibliografia sobre Hitchcock, limitada durante muito tempo aos franceses, hoje pulula de títulos lançados nos EUA. O mais recente, “Hitchcock & Herrmann”, por Steven C. Smith, trata da relação do cineasta com Bernard Herrmann, autor das fabulosas trilhas de “Psicose”, “Intriga Internacional”, “Um Corpo Que Cai” e outras. É revelador como Herrmann, pessoa quase intratável na vida real, afinava diante de Hitch, pelo respeito que lhe devotava.
Outro novo livro, “Alfred Hitchcock”, é daquelas maravilhas da Taschen —um show de fotografias de cenas e bastidores de filmagem, compreendendo a obra do homem desde os seus tempos de estagiário em Berlim nos filmes expressionistas, como em “A Última Gargalhada” (1924), obra-prima de F.W. Murnau.
Mas nada supera “The Alfred Hitchcock Encyclopaedia”, por Stephen Whitty, com 530 páginas em formato grande e cerca de mil verbetes sobre o que você imaginar: cada filme, astro, coadjuvante, roteirista, montador e, ainda mais fascinantes, os temáticos e pessoais —sobre seu catolicismo, sentimento de culpa, fetichismo, idiossincrasias e fixações, algumas cabeludas.
Whitty levou 20 anos lendo tudo sobre Hitch e entrevistando gente. Produziu um livro que, pode crer, me atrapalhou o serviço nas últimas semanas porque, por dias e noites, não consegui largá-lo.
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Fonte.:Folha de S.Paulo


