Assim que a economista Renata Mellão resolveu erguer a primeira construção em seu terreno na Ponta do Corumbau, no sul da Bahia, topou com um impasse. O lugar era tão inacessível que nem mesmo chegavam os pregos para usar nas telhas. Teve então que recorrer a um telhado de taubilha.
Essas sobras de madeira, em geral vistas nas casas de pescadores da região, dão um charme rústico ao Vila Naiá, hotel boutique que hoje ocupa sua fazenda numa área de 50 mil m², de frente para a praia. Rústico, mas nada singelo; pelo contrário. A ideia aqui é luxo despretensioso.
“Quando cheguei, nos anos 1980, só havia as casinhas dos pescadores, de madeira pintada”, diz ela, hoje aos 75 anos. “Aquilo fazia parte da paisagem local, então resolvemos não modificar nada.”
A discrição orienta as acomodações ali, isoladas umas das outras pela vegetação nativa e interligadas apenas por uma longa passarela, o que garante a cada uma bastante privacidade. No total, há apenas quatro suítes e quatro casas, todas suspensas em deques, em estilo palafita.
São todas construídas em madeira de demolição, coloridas como as casas dos pescadores e com piso de peroba. Não há vidro nas janelas. No interior, móveis com design brasileiro, alguns talhados por carpinteiros locais, cama com dossel e chuveiro que esquenta com energia solar. Atravessando o jardim, já se chega à praia.
Madeira e palha, onipresentes, aparecem também na área da piscina, rodeada por um deque cheio de espreguiçadeiras, no restaurante e no bar envidraçado, que serve drinques com frutas da estação. A área comum ainda inclui sala de massagens e um pavilhão repleto de redes e esteiras, muito usadas por quem quer fazer ioga.
Como Corumbau fica em uma reserva marinha, só pescadores tradicionais podem explorá-la. Uma parte do que suas redes trazem — lagostas, camarões, peixes locais — aparece no menu do Vila Naiá junto dos vegetais colhidos na horta do hotel. Dado o isolamento, as três refeições já estão inclusas nas diárias, que começam na casa dos R$ 3.400 por casal durante a baixa temporada.
Ao sul dali, o Vila Bela Vista também aposta em luxo discreto, mas tem uma proposta bem diferente. Começa pela paisagem: o hotel boutique foi construído no topo de uma falésia. Se no Vila Naiá as acomodações imitam as casas de pescadores, aqui os cinco bangalôs são de alvenaria, com desenho moderno, todos com jardim privativo e ducha externa.
Na área social, uma ampla cozinha ocupa o lugar central, de onde saem os pratos do dia, feitos com ingredientes locais. Um imenso gramado acompanha o declive da paisagem.
Há uma piscina ali no meio, com borda infinita e, na parte mais alta do terreno, com vista para o mar, um solarium onde se pode comer sentado em amplos bancos de madeira maciça, tomar um drinque ou apenas se recostar ao som das ondas lá embaixo.
Para chegar à praia propriamente dita, é só descer por um curto declive de pedras até a areia. Entre os paredões arenosos, a paisagem ali parece ainda mais remota que no restante da praia, ideal para um giro despreocupado de bicicleta ou para dar um gás na leitura nas espreguiçadeiras rústicas. Também há a possibilidade de agendar massagens numa cabana ali próxima, de frente para o oceano.
“Comprei a propriedade em 1989 de um pescador local”, conta o mineiro Ricardo Bronfen, empresário da área da construção. “Havia essa falésia de onde se vê tudo do alto, mas com essa saída natural para a praia. Me encantei de cara”, diz ele, hoje aos 72 anos.
No princípio, mandou que plantassem os coqueiros e construiu apenas uma cabana. Foi só dez anos atrás que resolveu erguer a casa para a família, que se transformaria em hotel algum tempo depois, diante das muitas propostas de aluguel de temporada. Hoje, as diárias nos bangalôs, com pensão completa, saem a partir de R$ 2.800 para o casal.
Ambos os hotéis oferecem, fora dos pacotes, passeios ao redor. É possível ir e voltar de bugue até Caraíva (cerca de R$ 300, por casal), para quem quiser um pouco mais de agito, ou até Porto do Boi, aldeia pataxó no entorno (R$ 400).
Também é possível contratar barqueiros para ver os recifes de corais (R$ 150 num barco coletivo a R$ 800 por casal em lancha).
De julho a setembro é possível ainda avistar as baleias-jubartes. O passeio de custa R$ 2.000 (privativo) ou R$ 250 (coletivo).
O jornalista se hospedou a convite do Vila Naiá e do Vila Bela Vista
O jornalista se hospedou a convite do Vila Naiá e do Vila Bela Vista
Fonte.:Folha de S.Paulo