Começou com um papo entre amigos, do tipo “e se comprássemos um terreno na praia?”. Os amigos no caso eram de um grupo de oito suecos, vários deles surfistas, que haviam se encantado com Itacaré, no litoral da Bahia. Ali, a mata atlântica avança sobre as rochas, as ondas se chocam contra as árvores, e tudo ganha um quê de paraíso perdido. O ano era 2005.
Havia uma paulistana no jogo também, a designer Juliana Ghiotto, que tinha vindo no ano anterior e havia se apaixonado por um surfista local, Daniel. Ela, como costuma dizer, fez a ponte entre os escandinavos e os baianos. Deu match total. Eis que o grupo comprou uma área de 26 hectares, um imenso pasto com alguns coqueiros e dendezeiros bem perto do agitado centrinho da cidade.
A ideia dos escandinavos era construir ali um punhado de casas de veraneio, cercadas por mata nativa, de cara para a praia do Resende. Mas até que as obras começassem demorou uns oito anos, em meio ao vaivém da papelada do licenciamento ambiental e do estudo de flora e fauna para recobrir a área com vegetação da região -hoje, são mais de 60 espécies ali representadas, como o araçá, o imbé e o cajueiro.
O tempo que demorou ajudou a amadurecer a ideia de criar naquele espaço, além das casas, um pequeno hotel. Em 2013, para testar as águas, construíram um embrião do projeto, mas fora do terreno. É o Barracuda Boutique, com 11 suítes e restaurante de pegada sustentável bem na orla, coalhada de barquinhos de pesca, onde as noites de sexta-feira fervem com música, barracas de bebida e muita gente na rua.
O plano deu certo, então era hora de subir a obra de um novo hotel, agora no próprio terreno, rodeado pelas árvores. Surgia assim, há cinco anos, o Barracuda Hotel & Villas. “A ideia nunca foi a de criar uma comunidade sueca”, diz Ghiotto. “Mas criar um empreendimento de luxo pé no chão, com elegância, sem ostentação.”
O lugar abriga 17 suítes, algumas voltadas para a mata (as preferidas dos hóspedes gringos, aliás) e outras para o mar, todas com uma ampla varanda. Diárias começam na casa dos R$ 2.600. A decoração mescla elementos brasileiros e escandinavos: há muita, muita madeira, móveis com linhas retas e limpas servindo de suporte a fotografias da paisagem local (as igrejas, os pescadores, o berimbau).
Nos quartos virados para o oceano (que são mais charmosos), a dica é acordar bem cedo, abrir as amplas janelas de madeira do terraço e aguardar o Sol nascer ainda deitado na cama, surgindo por detrás das águas infinitas.
Essa mesma vista para o Atlântico, cartão de boas-vindas do hotel, existe no deque onde há o restaurante, que faz um mix de culinária baiana e nórdica, e a piscina com borda infinita, rodeada de espreguiçadeiras. Dá para tomar algumas tacinhas de vinho riesling tendo o mar como panorama e, a depender do dia, provar o que sai da parrilha ali próxima, sobretudo peixes e frutos do mar frescos.
Subindo um lance de escadas se chega ao rooftop, cercado por coqueiros, que eventualmente pode ser fechado a pedido dos hóspedes para alguma ocasião especial.
Há ainda um outro deque, embrenhado nas árvores, onde é possível fazer ioga, meditação e treino funcional conduzidos por instrutores locais. Há ainda um cardápio de massagens, que podem ser feitas na varanda das suítes, ao som das ondas.
Grupos um pouco maiores podem se hospedar nas villas, as casas que os suecos criaram para si. São sete no total, com áreas que podem chegar a 1.000 m² e contar com até oito suítes. Todas abrigam piscina, bangalô central, área gourmet, estafe privativo e mantêm o mesmo espírito da decoração do hotel em si: mobiliário com toques escandinavos e objetos de decoração bem brasileiros. Diárias ali começam na casa dos R$ 11.900.
O hotel ainda oferece um cardápio de atividades para os hóspedes. É possível visitar uma das inúmeras fazendas de cacau da região, ter aulas de surfe e capoeira, pescar em alto-mar, fazer rafting e canoa havaiana. Mas a melhor pedida talvez seja o passeio de barco pelo rio das Contas, que vai rondando os manguezais por onde o Sol se põe. Para se sentir em algum dos romances do ciclo do cacau de Jorge Amado.
O Barracuda também está por trás do Yandé Itacaré, entidade sem fins lucrativos que dá ajuda a ações locais. “Ele veio para estruturar iniciativas bacanas que, sem apoio, muitas vezes, acabavam em menos de um ano”, diz Neila Farias, bióloga que é diretora-executiva da iniciativa.
Um dos projetos apoiados dá aulas de surfe e cede pranchas para alunos da rede pública com bom desempenho escolar. Outro capacita mulheres da região para fazer corte e costura com materiais sustentáveis. “A principal finalidade é incentivar o empreendedorismo da comunidade.”
O jornalista viajou a convite do Barracuda Hotel & Villas
Fonte.:Folha de S.Paulo


