
- Author, Michelle Roberts
- Role, Editora digital de saúde, BBC News
É possível que alguém se torne imortal com a ajuda de transplantes de órgãos?
Um tradutor, falando em mandarim em nome de Putin, contou a Xi como os órgãos humanos podem ser repetidamente transplantados “para que uma pessoa fique cada vez mais jovem”, em vez de envelhecer. E que talvez ela consiga evitar a velhice “indefinidamente”.
“Prevê-se que, neste século, talvez seja possível viver até os 150 anos”, acrescentou ele.
Os sorrisos e risadas indicam que era uma pequena brincadeira, mas será que eles podem estar no caminho certo?

Os transplantes de órgãos certamente salvam vidas. No Reino Unido, mais de 100 mil pessoas foram salvas por transplantes nos últimos 30 anos, segundo o NHS, o serviço público de saúde britânico.
Os contínuos avanços da medicina e da tecnologia significam que os órgãos transplantados vêm funcionando por muito mais tempo depois da cirurgia. Alguns pacientes tiveram rins transplantados que funcionaram por mais de 50 anos.
O tempo de vida de um órgão depende das condições de saúde do doador e do paciente, além dos cuidados após o transplante.
Se você receber um novo rim de um doador vivo, por exemplo, sua duração esperada pode ser de 20 a 25 anos. Mas, se o órgão vier de um doador morto, a expectativa cai para 15 a 20 anos.
O tipo de órgão também influencia. Pesquisas indicam que um fígado pode durar cerca de 20 anos, um coração dura 15 anos e os pulmões, cerca de 10 anos.
Passagem para a vida eterna?
Putin e Xi poderiam estar falando sobre o transplante de múltiplos órgãos, talvez repetidamente.
Mas a cirurgia é trabalhosa e traz riscos significativos. A cada vez que você enfrenta o bisturi, está lançando os dados.
Atualmente, as pessoas que recebem um novo órgão também precisam tomar fortes drogas contra a rejeição por toda a vida. Elas são conhecidas como imunossupressoras e podem causar efeitos colaterais, como hipertensão arterial, e aumentar o risco de infecções.
A rejeição ocorre quando o sistema imunológico começa a atacar o órgão transplantado porque o reconhece como vindo de outra pessoa. Às vezes, ela pode ocorrer mesmo tomando as medicações.
Órgãos sob medida
Eles usam uma ferramenta de edição genética conhecida como crispr para retirar alguns dos genes dos porcos e acrescentar certos genes humanos, aumentando a compatibilidade do órgão.
O ideal é a criação de porcos especialmente com esta finalidade, segundo os especialistas, pois seus órgãos têm aproximadamente o tamanho certo para as pessoas.
A ciência neste campo ainda é extremamente experimental, mas já ocorreram transplantes de rim e coração.
Os dois homens que concordaram com o procedimento foram os pioneiros deste novo campo da medicina. Eles já morreram desde a cirurgia, mas ajudaram a fazer avançar os xenotransplantes, ou seja, o transplante de células, tecidos ou órgãos vivos de uma espécie para outra.
Outro caminho sendo explorado é o cultivo de novos órgãos, usando nossas próprias células humanas — as células-tronco, que têm a capacidade de crescer e formar qualquer tipo de célula ou tecido encontrado no corpo.
Até o momento, nenhum grupo de pesquisa conseguiu produzir órgãos humanos transplantáveis totalmente funcionais, mas os cientistas estão se aproximando deste objetivo.
Em dezembro de 2020, pesquisadores britânicos do University College de Londres e do Instituto Francis Crick reconstruíram um timo humano (um órgão essencial do nosso sistema imunológico), usando células-tronco humanas e uma matriz criada por bioengenharia. O órgão foi transplantado em ratos como teste e, aparentemente, funcionou.
Cientistas do Great Ormond Street Hospital, em Londres, afirmam terem cultivado enxertos de intestino humano usando células-tronco de tecidos de pacientes. Um dia, esses tecidos poderão levar a transplantes personalizados para crianças com insuficiência intestinal.
Mas estes avanços se destinam ao tratamento de problemas de saúde, não para manter as pessoas vivas até os 150 anos de idade.

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Ele ainda não tentou conseguir novos órgãos, até onde se sabe. Mas chegou a infundir em si próprio o plasma do seu filho de 17 anos.
Johnson suspendeu a infusão por não ter observado benefícios, ampliando a avaliação médica de organizações como a Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês).
Julian Mutz, do King’s College de Londres, declarou que, além do transplante de órgãos, estão sendo exploradas técnicas como a substituição de plasma, mas ainda em fase experimental.
“Ainda não se sabe se essas estratégias terão impacto significativo sobre a longevidade, particularmente a longevidade máxima humana, mas é uma área de interesse científico considerável”, explica ele.
O especialista em imunopatologia Neil Mabbott, do Instituto Roslin da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, especula que o limite máximo da vida humana pode ser até os 125 anos de idade.
“A pessoa viva mais idosa já registrada foi uma mulher francesa, Jeanne Calment, que viveu por 122 anos, entre 1875 e 1997”, declarou ele à BBC.

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Órgãos doentes e lesionados podem ser substituídos por transplantes. Mas o nosso corpo, à medida que envelhecemos, se torna muito menos resistente ou capaz de lidar com fatores de estresse físico.
“Começamos a reagir com menos eficácia às infecções e nossos corpos passam a ser mais frágeis, mais sujeitos a lesões e menos capazes de se recuperar e se reparar”, explica Mabbott.
“O estresse, o trauma e o impacto da cirurgia de transplante, ao lado do uso contínuo das drogas imunossupressivas necessárias para evitar a rejeição dos órgãos transplantados, seriam graves demais para pacientes com idade tão avançada.”
O professor defende que, em vez de se concentrar no aumento da longevidade, deveríamos lutar para manter nossa saúde por mais tempo.
Para ele, “viver muito mais, mas sofrer as diversas morbidades que acompanham o envelhecimento, entrando e saindo do hospital para mais um transplante de tecidos, não parece uma forma atraente de passar minha aposentadoria.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL