No dia seguinte à reunião em que Vladimir Putin reafirmou suas demandas para encerrar a Guerra da Ucrânia a negociadores americanos, o secretário-geral da Otan resumiu candidamente a situação.
“Só existe uma pessoa no mundo inteiro capaz de romper esse impasse. Essa pessoa é o presidente americano, Donald Trump“, afirmou na quarta (4) o belicoso holandês Mark Rutte.
O chefe da aliança militar ocidental está certo, mas o corolário da assertiva talvez não seja maior pressão dos EUA sobre a Rússia. A esta altura, parece mais fácil Trump ceder à posição de Putin ou deixar a Ucrânia e seus aliados europeus à míngua.
De todo modo, salta aos olhos a impotência da Europa ante a crise, com líderes manietados ensaiando reações duvidosas.
Na mesma quarta, a União Europeia (UE) apresentou um plano para lastrear empréstimo que cobriria as despesas de Kiev nos dois próximos anos com R$ 1,3 trilhão em reservas cambiais russas congeladas em seu território.
A grande maioria dos recursos está na Bélgica, contrária ao mecanismo por temer ser exposta a processos. A Rússia denuncia a medida como roubo e promete retaliar, enquanto a UE tenta driblar os membros que forem contra avocando uma cláusula de emergência fantasiosa para suprimir a exigência de consenso.
É incerto o que irá ocorrer, mas as fissuras no edifício europeu são visíveis. O mesmo pode ser dito sobre a definição do fim da compra de gás russo até 2027, anunciada no mesmo dia, a que Hungria e Eslováquia se opõem.
Nada disso irá incomodar Putin ou Trump agora, em especial com o autocrata russo demonstrando fé nos avanços militares para mutilar a Ucrânia e torná-la neutra. Os russos demonstraram resiliência ante as sanções, e apenas medidas ainda mais radicais operadas pelo americano podem ter algum impacto.
Mas o presidente dos EUA não demonstra apetite para isso, apesar de ter dado advertência contra petroleiras russas no mês passado. A tese da desistência, sob esse prisma, ganha corpo.
Trump interrompeu o fluxo de armamentos para Kiev e obrigou os europeus a comprá-los dos EUA, caso queiram continuar a ajuda. A indústria de defesa continental não dá conta do volume da guerra, como o demonstra a corrida de países para se rearmar.
A Alemanha deixou seu pacifismo pós-Segunda Guerra para embarcar num plano de mais de R$ 2 trilhões em projetos militares. A Otan vê guerra com Moscou até 2030, talvez antes. O tempo corre contra os europeus.
Fonte.:Folha de S.Paulo


