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- Author, Lindsey Galloway
- Role, BBC Travel
A inteligência artificial (IA) em rápida ascensão, os carros autônomos e a energia verde estão se tornando o padrão em todo o mundo.
As inovações avançam mais rapidamente do que nunca. Novas invenções e suas patentes surgem em países e cidades de todo o mundo, mas alguns lugares se destacam por trazerem mais progresso do que outros.
O Índice de Inovação Global 2025 (GII, na sigla em inglês), publicado anualmente pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), classifica os principais países e polos de inovação, com base em diversos critérios.
Eles incluem padrões de investimento, progresso tecnológico, índices de adoção das inovações e seu impacto socioeconômico global.
Coletivamente, os 100 principais polos inovadores — de São Francisco, nos Estados Unidos, até Shenzhen, na China — representam mais de 70% do capital de risco e das patentes globais.
Conversamos com moradores dos cinco principais polos de inovação do mundo para descobrir como a tecnologia influencia sua vida diária e como os visitantes podem vivenciar suas ideias inovadoras — muitas vezes, antes que elas cheguem a outras partes do planeta.
1. Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou, China
A China aparece no top 10 do Índice de Inovação Global pela primeira vez em 2025. Sua ascensão se deve ao aumento do número de patentes, investimento científico e capital de risco no país.
A nação asiática abriga 24 dos 100 maiores polos de inovação do relatório e o centro tecnológico de Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou, no sul da China, ocupa o primeiro lugar.
Nesta região, a tecnologia é interligada à vida diária e a inovação está incorporada à cultura.
Jamie River mora em Hong Kong há três anos.
Ele conta que você pode visitar um mercado de rua e encontrar vendedores usando QR-codes para pagamento, ao lado de placas com preços manuscritos. E os proprietários de pequenas lojas gerenciam seus pedidos para delivery usando três aplicativos diferentes.
“A união do novo com o antigo cria esta estranha energia”, explica River. “Ninguém tem medo de testar as coisas.”
O cartão Octopus foi lançado em Hong Kong em 1997, originalmente como método de pagamento para o transporte público. Agora, é uma solução tecnológica diária de muitas pessoas, que pode ser usada para pagar de tudo, desde máquinas de venda automática até parquímetros.
Para vivenciar a inovadora tecnologia de Hong Kong, River recomenda aos visitantes pegar a barca Star Ferry à noite e assistir à Sinfonia das Luzes. A apresentação sincroniza a trilha sonora com luzes, lasers e telas de LED em 43 edifícios.
Para observar a integração criativa do novo e do antigo, a antiga delegacia de polícia PMQ, agora, abriga escritórios, lojas e cafeterias.
“Você verá oficinas de impressão em 3D ao lado de estúdios de caligrafia tradicional”, descreve ele.

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Sede de corporações globais da área de tecnologia, como a Huawei e a Tencent, a cidade de Shenzhen se transformou de aldeia de pescadores em força motriz do setor.
A mudança foi intencional. Em 1980, o governo chinês escolheu a cidade para ser sua primeira Zona Econômica Especial, oferecendo isenções e incentivos fiscais para estimular a inovação.
“Esta estrutura de apoio permite rápido dimensionamento e experimentação”, explica Leon Huang, que mora na cidade desde 2008.
“Espaços de criação como o OCT Loft e a Sociedade de Design de Shekou são disponíveis para todos, oferecendo ferramentas avançadas a preços acessíveis, incluindo ambientes de realidade virtual.”
“A variedade de pessoas que frequenta esses espaços, incluindo hobbyistas, estudantes e professionais de empresas de tecnologia como a Huawei e a DJI, contribui para uma atmosfera verdadeiramente inclusiva”, segundo Huang.
Huang sugere que os visitantes assistam a um dos elaborados shows de drones que ocorrem na Baía do Parque de Talentos de Shenzhen ou durante eventos importantes, como o Festival da Primavera e o Dia Nacional da China.
2. Tóquio-Yokohama, Japão
Em segundo lugar no ranking, o polo de inovação Tóquio-Yokohama produz o maior percentual de depósitos de patentes internacionais do mundo. Ele representa mais de 10% dos depósitos globais.
Mas o que atrai os moradores é que a tecnologia e a inovação parecem algo prático, não chamativo.
“No Japão, tecnologia não é uma louca imaginação de carros voadores, como todos nós acreditávamos que seria o ano de 2050”, afirma Dana Yao. Ela conheceu seu marido em Tóquio e, agora, divide seu tempo entre o Japão e os Estados Unidos.
Ela conta que, ali, a tecnologia está no cartão do trem que pode ser usado nos ônibus e nas máquinas de vendas automáticas, além dos sensores de IA das lojas de conveniência, que oferecem autoatendimento e pagamento sem dinheiro.
“Você encontra essas inovações pequenas, mas poderosas, em toda parte”, ela conta. “É alta tecnologia, mas ainda muito humana e realmente útil.”

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Os visitantes podem vivenciar esse mundo tecnológico no Henn Na Hotel. Nele, o check-in é totalmente automatizado, alguns dos funcionários são robóticos e “camas inteligentes” ajustam a temperatura de sono ideal.
Yao também recomenda viajar no trem autônomo da linha Yurikamome, na baía de Tóquio. “É totalmente automatizado e oferece vistas deslumbrantes da cidade e da Ponte do Arco-Íris”, ela conta.
E, para uma dose de encanto digital, o museu de arte interativo teamLab Planets oferece uma experiência de arte imersiva na tecnologia.
“Salões inteiros reagem aos seus movimentos, luzes e sons”, segundo Yao. “É simplesmente incrível.”
3. San José-São Francisco, Estados Unidos
Conhecido mundialmente como Vale do Silício, o polo de inovação San José-São Francisco lidera o planeta em termos de capital de risco. Ele gera cerca de 7% de todos os negócios globais.
O relatório GII também concluiu que o polo tem a maior concentração de atividade de inovação per capita do mundo.
Esta densidade é que continua atraindo empreendedores e fundadores de start-ups, especialmente agora, com o aumento das oportunidades oferecidas pela IA.
“Eu nunca quis morar em São Francisco até agora”, conta o novo morador da cidade Ritesh Patel, fundador da empresa Ticket Fairy.
“É como o boom ponto com original. Pessoas muito inteligentes estão se reunindo aqui e pessoas que saíram estão voltando.” Por isso, as possibilidades de formação de redes estão em toda parte.
“Você pode estar em um jantar conversando sobre os desafios que está enfrentando como fundador de uma start-up e, no minuto seguinte, alguém na mesa diz que pode ajudar”, segundo Patel.
“Eles enviam uma mensagem de texto e, de repente, você tem uma apresentação ou reunião com uma pessoa relevante com quem você nunca teria contato por e-mail ou pelas redes sociais. É alucinante!”

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Para os visitantes em São Francisco e no Vale do Silício, a questão é experimentar a tecnologia antes que ela se torne algo comum.
“Você encontra tecnologia de ponta que o resto do mundo só irá conhecer daqui a seis ou 12 meses”, explica Patel.
Serviços de compartilhamento de viagens, como Uber e Lyft, eram largamente utilizados por aqui, antes de se tornarem empresas globais. Agora, os carros autônomos Waymo detêm parcela de mercado significativa na região e podem ser usados por qualquer pessoa que instale seu aplicativo.
4. Pequim, China
No GII, a capital chinesa superou todas as demais cidades em termos de pesquisas científicas. Ela contribui com 4% dos estudos publicados em todo o mundo.
Mas os moradores de Pequim afirmam que a verdadeira força da cidade é o seu equilíbrio entre a infraestrutura de alta tecnologia e suas profundas raízes culturais.
“Outras ‘cidades inteligentes’, na verdade, se concentram no lado moderno, mas Pequim combina inovação, cultura e qualidade de vida, o que a torna, ao mesmo tempo, avançada, mas única”, explica a futurista de IA Elle Farrell-Kingsley, que, atualmente, considera Pequim sua casa.
Ela conta que o dia a dia da cidade é alimentado por superaplicativos como Alipay e WeChat. Ambos incluem opções de tradução, pagamentos por QR-code e delivery de alimentos.
Farrell-Kingsley também afirma que a IA, particularmente o Deepseek e DouBao, estão embutidos nos serviços diários, o que facilita a tradução para os falantes de língua inglesa.

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A única frustração é sair para viajar e verificar que os serviços não são tão harmoniosos em outros lugares.
“Tudo aqui funciona tão bem que quase esquecemos como esses serviços são integrados e inovadores, até sairmos em viagem”, ela conta.
“Raramente observo grandes incidentes com a tecnologia e, muitas vezes, fico frustrada ou impaciente ao visitar outros países onde esses serviços não funcionam com a mesma estabilidade.”
Os visitantes podem vivenciar pessoalmente a avançada IA da cidade reservando o robotáxi Apollo, da Baidu.
“É uma experiência incrível e empolgante, especialmente porque ele não tem volante de direção!”, elogia Farrell-Kingsley. “Você simplesmente entra e o carro sai andando sozinho, o que parece futurista e surpreendentemente seguro.”
5. Seul, Coreia do Sul
Em quinto lugar entre os polos de inovação do GII, Seul representa 5,4% dos pedidos globais de patentes.
A capital sul-coreana lidera em acordos de capital de risco na Ásia e ocupa o segundo lugar global, atrás apenas de São Francisco.
Os moradores afirmam que o impulso da Coreia do Sul rumo à inovação vem da necessidade. Afinal, a quantidade de recursos naturais da pequena nação peninsular é limitada.
“O país precisa competir com inovações e tecnologia”, explica Chris Oberman. Ele mora em Seul desde 2024 e escreve sobre suas viagens no blog Moving Jack.
“Os avós de muitas pessoas moravam na pobreza”, ele conta. “Por isso, existe ainda essa enorme vontade e energia para crescer, melhorar, inovar e não ficar para trás.”

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Grande parte da inovação e da tecnologia está incluída no dia a dia dos moradores.
As casas normalmente têm portas que abrem com códigos digitais e os sistemas de pagamento sem dinheiro fazem com que você só precise levar seu celular quando sair de casa.
“Chaves, cartões, minha carteira, dinheiro: posso deixar tudo em casa”, segundo Oberman.
Em toda a cidade, lojas de conveniência sem caixas ficam abertas 24 horas por dia, sete dias por semana. Nelas, os clientes podem pegar seus produtos e pagar em máquinas inteligentes. Sistemas de IA acompanham o inventário e evitam roubos.

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Os 10 maiores polos de inovação do mundo
- Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou, China
- Tóquio-Yokohama, Japão
- San José-São Francisco, Estados Unidos
- Pequim, China
- Seul, Coreia do Sul
- Xangai-Suzhou, China
- Nova York, Estados Unidos
- Londres, Reino Unido
- Boston-Cambridge, Estados Unidos
- Los Angeles, Estados Unidos
Duas cidades latino-americanas foram incluídas entre os 100 maiores polos de inovação do mundo, segundo o Índice de Inovação Global 2025 da OMPI: São Paulo aparece em 49° lugar e a Cidade do México, pela primeira vez na lista das 100 primeiras, em 79°.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


