
Crédito, Reuters
- Author, Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
Um escândalo de corrupção provocou a demissão do chefe de uma agência do governo na Argentina na semana passada — e um áudio denunciando suposta corrupção da irmã do presidente Javier Milei, Karina Milei, está sendo investigado pelas autoridades.
Na semana passada, o governo Milei demitiu o chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis), Diego Spagnuolo.
A imprensa argentina havia publicado áudios em que uma voz semelhante à de Spagnuolo pode ser ouvida discutindo suborno dentro da agência. Não foram fornecidos detalhes sobre quando ou em que contexto as gravações foram feitas.
Autoridades abriram investigações sobre os áudios imediatamente. Elas ainda não confirmaram a autenticidade das gravações.
No áudio, a voz atribuída a Spagnuolo afirma que Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência na Argentina, e o subsecretário de gestão institucional do governo, Eduardo “Lule” Menem, estariam cobrando propina de indústrias farmacêuticas para compra governamental de medicamentos.
“Eles estão fraudando minha agência”, afirma a voz na gravação.
Nos áudios, a voz atribuída a Spagnuolo afirma que havia uma rede de cobrança de propinas na Andis, com exigência de até 8% sobre o faturamento das farmacêuticas para garantir contratos com o governo.
Segundo ele, Karina Milei recebia a maior fatia do valor arrecadado com a propina.
Karina Milei é uma das pessoas mais influentes do governo Milei — e determinante sobre quem tem acesso ao presidente argentino. Ela costuma acompanhar o presidente em agendas. Ela ainda não comentou diretamente o caso.
Na sexta-feira (23/8), as autoridades argentinas realizaram buscas em uma série de propriedades como parte de uma investigação sobre o caso. A investigação envolveu buscas na Andis, em uma empresa farmacêutica e em algumas residências particulares, de acordo com o jornal argentino La Nación.
Foram confiscados celulares e uma máquina de contagem de dinheiro em uma operação na casa de Diego Spagnuolo, que até semana passada ainda chefiava a agência para pessoas com deficiência. No início da semana, o governo de Milei havia demitido Spagnuolo “como medida preventiva”, em um comunicado publicado no X.
O presidente não comentou o caso publicamente. Milei disse que está pouco preocupado com ataques da oposição nas vésperas de eleições na Argentina nos próximos meses, mas não fez referências diretas ao caso.
O governo está se preparando para as eleições de meio de mandato em setembro e outubro, que são amplamente vistas como um referendo sobre a agenda de austeridade e as reformas de mercado de Milei.
Parlamentares da oposição querem que uma alta autoridade do Ministério da Saúde da Argentina, que supervisiona a agência para deficiência, seja convocado para responder perguntas sobre o escândalo no Congresso.
Bolsas e moeda em queda
Na segunda-feira, os títulos internacionais em dólar da Argentina atingiram mínimas de vários meses, enquanto as ações em bolsa e o peso caíram. Analistas atribuem esses movimentos ao escândalo.
O índice de referência do mercado de ações argentino caiu 4% na segunda-feira, após uma queda de 3,8% na semana passada. O peso caiu quase 3% em relação ao dólar americano.
Em entrevista à agência de notícias Reuters, o diretor para as Américas da consultoria de risco Horizon Engage, Marcelo Garcia, disse que investidores estrangeiros temem que um potencial declínio na popularidade de Milei atrapalhe sua agenda econômica — que é bem-vista por agentes do mercado.
“Isso [o escândalo] afeta a capacidade do governo de ser respeitável o suficiente para continuar a implementar reformas rigorosas nos próximos dois anos”, disse Garcia, cuja consultoria opera em Nova York.
“A estratégia política de Milei de confronto contínuo com todos exige que ele seja muito popular.”
Um relatório do banco brasileiro Bradesco, citado pelo site financeiro InfoMoney, afirma que os escândalo minam a reputação do governo, aumentando riscos políticos na véspera das eleições no país.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL