Outro dia li o desabafo no Instagram de uma sommelière sobre as pessoas preferirem as recomendações do app Vivino em detrimento do que diz o profissional de salão do restaurante. Para quem não conhece, esse aplicativo reúne avaliações e notas feitas por usuários não especialistas. Parece muito bom e democrático, mas o problema é que há poucas informações seguras sobre cada rótulo, e muito blá-blá-blá genérico.
Entendo que, para muita gente, a conversa com um sommelier pode ser intimidadora, seja pelo receio de que o linguajar do profissional soe como húngaro, seja por medo de uma indicação financeiramente sem noção.
Acontece que há cada vez mais restaurantes com cartas de vinhos superenxutas, com menos de dez rótulos, mas que também oferecem vinhos “especiais do dia”. Nestes casos, o único jeito de saber é perguntar ao sommelier. Por experiência própria, encorajo a conversa: se o profissional for bom de verdade, não só vai se fazer entender como vai lutar por pepitas que sejam tão interessantes na boca quanto no bolso.
Há uma semana, fui ao Dōmo, na região central de São Paulo, com uns amigos para o jantar. A carta tem cerca de oito rótulos, mas a sommelière Amanda Beserra tinha mais a ofertar. Sem borbulhas no menu, ela tinha duas opções entre os especiais do dia; trouxe as garrafas à mesa e as apresentou. Foi preparada, gentil e sincera e disse, na lata, os preços de cada uma. Ficamos com a mais barata, deixando claro que a segunda estava fora do nosso orçamento, sem constrangimentos.
Quando repetimos a operação para saber sobre as opções de vinho branco, ela já trouxe dois na nossa faixa de preço. E, na hora do laranja, informou que não tinha nada tão em conta. Tudo bastante eficiente, sem rodeios.
Conversei com ela sobre nossa dinâmica e ela me relatou que, embora os vinhos fora do menu sejam cada vez mais comuns, não são todos que informam o preço ao oferecer a garrafa. Aí, realmente, ponto para o Vivino, que traz o valor sempre (embora, muitas vezes, o de prateleira, e não o de restaurante, que é mais alto, pelas margens de lucro). Como prefiro falar com gente a máquinas, peço aos sommeliers que leem esse texto que informem o preço sempre — para quem está à mesa, é sempre melhor ouvir esses números
de uma vez do que ter que perguntar.
Outra situação que deixa inseguros os bebedores menos experimentados é levar o próprio vinho a um restaurante que aceita a rolha. A recomendação que ouvi tempos atrás de um diretor da ABS era a de que se levasse em uma sacolinha. Hoje, sei que isso é o menos importante, e que o fundamental é que não seja uma garrafa que está na carta, nem o mais barato do supermercado.
Vale levar algo especial que case bem com a comida do restaurante, afinal a graça é essa. E, se você não for muito apegado, ofereça uma prova ao sommelier. É simpático, vai ajudar a construir uma relação com ele e ainda o ajuda a aumentar seu repertório.
VAI UMA TAÇA?
Neste frio sem fim, difícil não pensar em tintos. Caem bem os gostosões Lobo de Vasconcellos Perescuma 2021 (R$ 162 na Premium Wines), frutado e floral, com 60% de touriga nacional e 60% de alicante bouschet, e o Ramon Bilbao Crianza (R$ 119 no St. Marché), que tem passagem por madeira e, por isso, traz nota de coco e baunilha, além de frutas negras. Para acompanhar uma pizza com pepperoni ou calabresa, o Poderi dal Nespoli Fico Grande Sangiovese Romagna DOC (R$ 99 na World Wine) faz bonito, com seus taninos macios e acidez gostosa.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Fonte.:Folha de São Paulo