
Crédito, Reuters
Israel lançou ataques aéreos em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, nesta manhã, acusando o Hamas de violar o cessar-fogo em vigor.
Um porta-voz militar afirmou que o grupo realizou “múltiplos ataques contra forças israelenses além da linha amarela”, área à qual as tropas israelenses se retiraram conforme a primeira fase do acordo mediado pelos EUA.
A IDF afirmou que suas tropas, atuando para desmantelar “infraestrutura terrorista” conforme o acordo de cessar-fogo mediado pelos EUA em 10 de outubro, foram alvo de disparos de foguetes e metralhadoras, caracterizando uma “violação flagrante do cessar-fogo”. Em resposta, Israel começou a atingir túneis e instalações militares utilizadas por grupos armados.
Hamas, que governa Gaza desde 2007, negou envolvimento nos confrontos em Rafah e afirmou permanecer comprometido com o cessar-fogo, acusando Israel de “violar o acordo e fabricar pretextos para justificar seus crimes”. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pressionado pela coalizão de extrema-direita, ordenou que suas forças atuem “com firmeza contra alvos terroristas”.
Nos últimos dias, ataques israelenses mataram ao menos oito palestinos em Gaza, ferindo três e deixando dez corpos recuperados, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. Muitas vítimas ainda permanecem sob escombros, inacessíveis a ambulâncias devido à presença militar israelense.
Desde a retomada da trégua, 35 pessoas foram mortas, 146 ficaram feridas, e 414 corpos de palestinos foram recuperados. O total de mortos desde o início da campanha militar israelense, em resposta ao ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, chega a 68.159.
O cessar-fogo
A trégua mediada pelos EUA, proposta pelo ex-presidente Donald Trump, incluiu a retirada parcial de tropas israelenses — que ainda controlam cerca de 53% da Faixa de Gaza, incluindo o Corredor Netzarim — e a libertação de reféns e prisioneiros: todos os israelenses vivos, 12 dos 28 falecidos, 250 palestinos presos em Israel e 1.718 detentos de Gaza.
O acordo também prevê a entrada de ajuda humanitária; centenas de caminhões começaram a chegar, apesar da destruição em várias áreas e da escassez de acesso a equipamentos pesados para remoção de escombros.
Apesar da trégua, há risco crescente de conflitos internos entre Hamas e facções palestinas rivais, que segundo o grupo teriam sido armadas e apoiadas por Israel. Nos últimos dias, militantes do Hamas realizaram ações de repressão contra gangues locais, incluindo execuções públicas de membros acusados de colaborar com Israel. Analistas apontam que a ausência de uma força internacional de estabilização ainda não implementada aumenta o risco de novas disputas civis dentro da Faixa de Gaza.
A posição dos EUA em relação à violência interna também mudou durante a semana. Inicialmente, Trump afirmou ter autorizado temporariamente o Hamas a agir contra gangues “muito ruins” e crimes internos, mas depois a administração passou a exigir que o grupo suspenda imediatamente ataques contra civis palestinos, criando zonas seguras em áreas sob controle israelense para proteger civis e grupos rivais.
Os ataques recentes ocorreram poucos dias após o início da primeira fase do cessar-fogo, que previa a retirada parcial das tropas israelenses, a entrega de reféns e prisioneiros e a entrada de ajuda humanitária. A IDF afirmou que os ataques em Rafah visavam desmantelar infraestrutura usada para disparos de foguetes e confrontos com tropas israelenses, enquanto Hamas reiterou compromisso com a trégua, acusando Israel de violá-la repetidamente.
A situação humanitária permanece crítica: áreas de Gaza ainda sofrem com fome, destruição de edifícios e dificuldades de acesso a serviços de emergência. Especialistas alertam que, sem a presença de uma força internacional robusta, o risco de novos confrontos entre facções palestinas e entre Israel e Hamas é elevado.
Esta reportagem está sendo atualizada.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL