
Crédito, EPA
- Author, Mariana Alvim
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
ATENÇÃO: Esse texto traz relatos de violência sexual
Marina Lacerda, 37 anos, contou à rede ABC News ter sido vítima de Epstein desde os 14 anos de idade, quando vivia de forma precária na cidade de Nova York.
“Quando ele tem alguém novo em sua vida, ele gosta de ver muito essa pessoa. Então eu fui lá algumas vezes e isso levou a, infelizmente, ele me forçar a fazer sexo com ele”, relatou a brasileira, em entrevista publicada nesta quarta-feira (03/09).
“Com Jeffrey Epstein, começa em algum lugar, mas depois termina com você fazendo sexo com ele, goste ou não disso.”
Também nesta quarta, Lacerda participou de uma entrevista coletiva com outras oito mulheres que acusam Epstein de abuso. O ato, que pediu a revelação de todos os documentos sobre o caso, aconteceu em frente ao Congresso americano, em Washington.
Segundo relatou Lacerda, quando ela tinha acabado de completar 14 anos e se dividia em três trabalhos para ajudar no sustento da família, uma amiga do bairro disse que era possível ganhar US$ 300 para fazer massagem em um cara.
A partir daí, a adolecente passou a fazer parte de uma rede de meninas do bairro de Astoria, no distrito do Queens, em Nova York, recrutadas para ficar com Epstein em sua mansão na cidade.
A brasileira diz ter recebido milhares de dólares “trabalhando” para Epstein nesse período, inclusive abandonando para sempre a escola. Ela acreditava que, aproximando-se dele, poderia ter melhores oportunidades.
“Foi do trabalho dos sonhos ao pior pesadelo”, disse a brasileira em Washington.
Até que, quando tinha aproximadamente 17 anos, foi dispensada pelo bilionário, que teria dito que ela já estava “velha demais”.
Lacerda já havia colaborado com as autoridades — sendo identificada nos processos judiciais como “vítima menor número 1” —, mas ainda não tinha tido sua identidade revelada.
Em 2008, ela relata que o FBI (a polícia federal americana) bateu à sua porta, buscando informações sobre Epstein.
“Eu estava morando com colegas que tinham mais ou menos a minha idade, 17, 18 anos na época. E eu pensei: bem, tenho que ligar para Jeffrey.”
De acordo com ela, Epstein contratou um advogado para ela, que depois não ouviu falar mais sobre o assunto.
Até que, em 2019, o FBI buscou Lacerda de novo — e dessa vez ela falou.
“Eu teria me sentido muito melhor hoje se eu pudesse ter falado em 2008. Se tivessem me dado a chance de falar, essas mulheres não teriam passado por isso”, disse à ABC News, referindo-se a outras vítimas.
Marina Lacerda se emocionou na entrevista ao contar que decidiu compartilhar com a filha a situação de violência pela qual passou.
“Mas ela é tão pequena e tão ingênua que ela falou tipo: mãe, você é casca-grossa.”
A brasileira pediu transparência e a revelação de todos os documentos envolvendo Epstein.
“É algo não só pelas vítimas, mas para o povo americano.”

Crédito, Reuters
Lacerda contou conhecer pessoalmente dezenas de mulheres que foram violentadas pelo bilionário.
No ato em Washington, uma das acusadoras, Lisa Phillips, disse que o grupo começou a fazer uma lista confidencial de pessoas ligadas a Epstein que, segundo elas, estavam envolvidas em abusos.
Trump era amigo de Epstein, mas disse que eles se desentenderam no início dos anos 2000.
“Esta é uma farsa democrata que nunca acaba”, disse Trump a repórteres no Salão Oval nesta quarta-feira, quando questionado sobre a entrevista coletiva realizada nas proximidades.
O republicano reclamou que “ninguém nunca está satisfeito” com os arquivos que já foram divulgados.
Durante uma entrevista da NBC com vítimas na terça-feira (02), nenhuma das mulheres disse ter visto Trump fazer algo inapropriado em relação a Epstein.
Elas também disseram não ter testemunhado qualquer má conduta do ex-presidente Bill Clinton, cuja viagem com Epstein está sob escrutínio do Congresso.
Na noite de terça-feira, 33.000 páginas e vários vídeos relacionados ao caso Epstein foram tornados públicos pelo Comitê de Supervisão da Câmara. A maioria dos arquivos, no entanto, já era de domínio público.
*Com informações de Ali Abbas Ahmadi, da BBC News
Fonte.:BBC NEWS BRASIL