
Crédito, Reuters
O jornal britânico Financial Times publicou nesta terça-feira (1/4) uma reportagem na qual afirma que o julgamento de Jair Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado pode acabar aumentando a popularidade do ex-presidente brasileiro, acirrando ainda mais as divisões políticas no país.
“As autoridades brasileiras estão determinadas que haja um julgamento sobre o suposto golpe bem antes do início da campanha para a próxima eleição presidencial, para que não haja nenhuma das ambiguidades legais que cercaram a campanha de reeleição de Donald Trump em 2024″, afirma o jornal.
A campanha de Trump esteve ameaçada por vezes ao longo de 2024, com a possibilidade de o então candidato ser preso.
O jornal traça um paralelo entre o processo que levou Lula à cadeia e o que pode terminar com destino semelhante para Bolsonaro.
“O processo criminal, que provavelmente começará no final deste mês, dividiu a maior nação da América Latina, ecoando eventos de oito anos atrás, quando o rival de Bolsonaro, o atual presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, foi julgado por acusações de corrupção e foi preso. Suas condenações foram posteriormente anuladas devido a falhas processuais.”
“Naquela época, como agora, os oponentes estão exigindo que a justiça seja feita, enquanto os apoiadores denunciam o que veem como perseguição política por juízes tendenciosos.”
O Financial Times cita uma pesquisa do instituto AtlasIntel da semana passada que sugere que 51% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro planejou um golpe, enquanto 48% acreditam que ele é inocente.
O jornal diz que Bolsonaro está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal, uma “instituição que acumulou poderes extraordinários na última década” e possui um dos “mais polêmicos juízes”, Alexandre de Moraes.
“Moraes foi uma das supostas vítimas do complô, e ainda assim iniciou a investigação sobre o suposto golpe, fez parte da comissão que concordou em ouvir o caso e agora ajudará a julgar Bolsonaro”, diz o jornal.
“Excepcionalmente, em comparação com outros países, no Brasil, os principais juízes podem iniciar e executar suas próprias investigações criminais se acreditarem que há uma ameaça à própria instituição.”
“O envolvimento de Moraes levou a acusações de conflito de interesses porque ele era alvo do suposto complô. Bolsonaro diz que o juiz é tendencioso a favor de Lula e movido por uma ambição pessoal de se tornar presidente.”
“As acusações de parcialidade foram alimentadas pelo fato de que o ex-advogado pessoal de Lula, Cristiano Zanin, e seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, também fazem parte do painel da Suprema Corte que ouve o caso.”
Ao Financial Times, o STF rejeitou as acusações de parcialidade ou irregularidade, dizendo que “segue os procedimentos legais e constitucionais à risca”.
“A narrativa de que a Suprema Corte brasileira já teve uma postura autoritária ou censora não corresponde aos fatos reais ou à verdade”, disse o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, ao jornal.
O jornal diz que o julgamento de Bolsonaro terá grande influência na eleição de 2026 — assim como aconteceu com a prisão de Lula e a eleição de 2018. Na semana passada, Bolsonaro deu uma entrevista ao jornal inglês no qual acusou os promotores do caso de tentarem ajudar a eleger Lula.
O que complica a situação ainda mais desta vez, segundo o jornal, é a relação entre Bolsonaro e Donald Trump — que até agora não fez grandes movimentos políticos no Brasil.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL